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PF aponta que Chico Rodrigues comandava esquema paralelo na Saúde de Roraima

Atualizado às 11h40

As investigações da Polícia Federal (PF) sobre o caso do senador Chico Rodrigues (DEM-RR) ganharam novas informações depois que os agentes analisaram as conversas do celular do político, flagrado com R$ 33 mil na cueca durante operação da PF em Boa Vista. No relatório, a PF diz que Rodrigues tinha grande participação na gestão da Secretaria de Saúde de Roraima, cobrando propinas para a liberação do dinheiro de emendas parlamentares para o pagamento a empresas investigadas no esquema. Exercia uma espécie de comando paralelo na secretaria. Na terça-feira (20), ele pediu uma licença de 121 dias do Senado e quem assume a vaga é seu filho, Pedro Guimarães (DEM-RR).

O esquema envolve a Haiplan Construções Comércio e Serviço Ltda, próxima do senador, suspeita de superfaturamento em contratos destinados ao combate à pandemia do novo coronavírus. “Tudo indica que o senador estaria cobrando o pagamento da empresa Haiplan”, afirma a PF no inquérito que apura as suspeitas de irregularidades. Há outras duas empresas, envolvidas, entre elas a Quantum.

Avião da FAB

O inquérito da PF afirma que o senador ajudou a negociar um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para transportar equipamentos de proteção individual (EPIs) vendidos ao governo de Roraima por uma empresa suspeita de superfaturar o material.

Em ofício encaminhado no início de abril ao ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, o senador pede a disponibilização de uma aeronave e argumenta que “trata-se de material imprescindível na luta contra a pandemia do Covid-19 e um alento neste momento de crise”.

Mensagens obtidas pela PF no curso da investigação indicam que os pedidos de ajuda com o transporte do material partiram do então servidor da Secretaria Estadual de Saúde Francisvaldo de Melo Paixão, delator do suposto esquema de desvios na Saúde em Roraima. A empresa que forneceu os equipamentos é a Quantum que, segundo a Polícia Federal, superfaturou máscaras de proteção vendidas ao governo de Roraima.

Nas conversas, Rodrigues chega a responder: “Falei com o brigadeiro Flávio. Está programando a data”. Em outra mensagem, o senador, que era vice-líder do governo Bolsonaro, diz que passou o contato de Francisvaldo ao Planalto. “Passei o tel do secretário e o seu para equipe do Palácio do Planalto. Assunto avião transporte material médico”, afirma. Apesar das mensagens, o inquérito não confirma se o transporte foi realizado.

Superfaturamento

De acordo com a PF, a Haiplan vendeu, ao governo de Roraima, máscaras de proteção a um preço 26 vezes mais caro do que o custo original. Uma nota fiscal emitida em 8 de abril pela Haiplan Construções Comércio e Serviço Ltda. mostra que a empresa cobrou R$ 879.219 do governo por 16.434 máscaras – a unidade saiu por R$ 53,50. Dias antes, em 17 de março, porém, a Haiplan havia pago R$ 1,45 pela unidade do equipamento. O item foi adquirido de uma empresa sediada no Rio Grande do Norte, em quantidade semelhante, ao custo de R$ 26.710.

A Haiplan é de propriedade de Júlio Ferreira Rodrigues, casado com a empresária Gilce Pinto. Mensagens obtidas pela PF de uma conversa entre Chico Rodrigues e um servidor da Secretaria Estadual de Saúde, Francisvaldo Paixão, mostram o senador fazendo perguntas sobre um pagamento a uma pessoa chamada Gilce.

“A forma com que o senador cobrava o pagamento da empresa Haiplan em suas conversas com Francisvaldo indicam que o parlamentar estaria atendendo não apenas aos interesses do estado de Roraima, mas aos seus próprios. Com base no diálogo entre Francisvaldo e o senador, há fortes indícios de que este parlamentar teria grande influência no governo de Roraima”, sustenta a PF.

Francisvaldo Paixão delatou a existência de um esquema que, segundo ele, desviou recursos de emendas parlamentares destinados à Saúde de Roraima durante a pandemia. Nas conversas, o servidor chama Chico Rodrigues de “chefe”.

Em outros diálogos, segundo a PF, Francisvaldo e Gilce combinam preços de produtos a serem adquiridos pela administração pública. Para os investigadores, há “indícios de favorecimento por parte de Francisvaldo em relação à Haiplan, bem como, em determinados momentos, a hipótese de envolvimento do senador Chico Rodrigues com esta empresa”. Ainda com base em mensagens, policiais suspeitam que um sobrinho do senador, Léo Rodrigues, ex-vereador em Boa Vista, teria agido em nome da Haiplan.

A Haiplan não é a única empresa que teria sido favorecida no esquema, de acordo com a PF. Investigadores encontraram indícios de direcionamento de contratos para a Quantum Empreendimentos. A Controladoria-Geral da União (CGU) suspeita de sobrepreço no valor de R$ 956,8 mil para o fornecimento de kits de teste rápido.

Defesas e interesses

A defesa de Chico Rodrigues afirmou que o senador “jamais intercedeu indevidamente em prol de qualquer interesse privado no âmbito de contratações em Roraima”. Disse ainda que o parlamentar “dialoga, no âmbito de suas funções, com políticos, servidores públicos, empresários e outros profissionais com as mais diversas demandas referentes ao Estado”.

Dono da Quantum, Roger Pimentel negou favorecimento e sobrepreço em contrato, já que, segundo ele, os kits não foram entregues porque a empresa não recebeu pagamento. “Esse inquérito não tem pé nem cabeça”, disse. Procurados, os demais citados não responderam até a conclusão desta edição.

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