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Jeito diferente de governar

Afonso Barroso*

O Orçamento Participativo, iniciativa inteligente e democrática cuja criação se atribui ao PT, não é coisa do PT, que costuma absorver e pôr em prática criação dos outros como se fosse sua.

Na verdade, a ideia nasceu na primeira reunião do secretariado de Maurício Campos, que fora escolhido prefeito de Belo Horizonte e iniciou sua gestão em 1979. Já na formação da equipe Maurício demonstrou a preocupação de trabalhar com eficiência e realizar com acerto. Nomeou, para cada uma das secretarias, homens realmente capazes, cada um com experiência e conhecimentos para assumir os diversos postos na prefeitura. Foi assim na Educação, nos Transportes, nas Obras, na Cultura, no Esporte, no Planejamento, nas Finanças, no Urbanismo, enfim, em todos os setores havia gente de confiança e fé.

Nessa primeira reunião, Maurício pediu aos secretários e assessores mais próximos que dissessem o que cada um considerava a obra mais importante para a cidade. Ele tinha a intenção de iniciar a administração com o impacto de realizações que mexessem com a cidade e angariassem a confiança da população. Queria isso para provar que merecia exercer o cargo, para o qual fora nomeado e não eleito, já que os prefeitos de capitais eram escolhidos pelos governadores, como previa o regime ditatorial em vigor. Assumiu a prefeitura pelas mãos do governador Francelino Pereira.

Cada componente da equipe deu uma sugestão. Vamos fazer um viaduto em tal rua, disse um. Não, disse outro, a obra mais importante é a abertura de uma avenida que ligue a Lagoinha ao Bairro São Paulo. Para mim, disse um terceiro, a obra que vai marcar a atual administração é a trincheira da Avenida do Contorno no final da Avenida Álvares Cabral e início da Raja Gabaglia.

E a reunião prosseguia com as mais diversas sugestões de obras e iniciativas que cada secretário considerava necessárias para um início impactante da administração. Até que chegou a vez do assessor de imprensa, no qual Maurício confiava muito e queria ouvir a opinião dele no caso.

O assessor, exibindo um ar de entendedor do assunto, não respondeu de imediato. Fez um certo suspense. Tirou os óculos, limpou-os num lenço, colocou-os de volta, olhou para o prefeito e sentenciou:

Maurício, a melhor obra que você pode fazer, a mais importante, a mais necessária, é a obra reivindicada.

Os secretários o olharam com atenção e curiosidade, e o assessor prosseguiu:

Isso mesmo. A obra reivindicada. É a obra que a população quer. Sugiro que sejam designados funcionários para percorrer cada bairro e perguntar aos moradores o que eles esperam da prefeitura, que obra querem que seja realizada. Com base nesse estudo, nessa pesquisa, a prefeitura estabelecerá as prioridades a começará, imediatamente, a atender a população. É o que chamo de participação popular na administração pública. É evidente que, se o prefeito começar a governar atendendo às necessidades regionais, a administração será certamente vitoriosa aos olhos de cada belo-horizontino. Esta é a minha modesta sugestão.

Ninguém teve dúvida de que a ideia era realmente boa. Maurício fez questão de cumprimentar o assessor, que acabava de criar algo ainda inédito na administração pública e que o PT, apropriando-se da iniciativa, denominou depois Orçamento Participativo, fazendo sua uma ideia já colocada em prática na cidade.

Ah, sim, você quer saber quem era o tal assessor de imprensa, autor da sugestão ao prefeito. Orgulhosamente e abdicando de toda modéstia, informo que era o jornalista Jadir Barroso, meu querido e saudosíssimo irmão.

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