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Um sistema sem um partido para chamar de seu

Marcel Farah*

Em ano de eleição várias figuras políticas encontram-se desligadas de partidos políticos. Dois casos emblemáticos são Bolsonaro e Geraldo Alckmin.

Bolsonaro não conseguia juntar três simpatizantes sob um guarda-chuvas sem que os egos gerassem fissuras incontornáveis. Finalmente, filiou-se ao PL. Por afinidade política? Não. Por necessidade e conveniência mesmo.

Alckmin foi defenestrado de um PSDB que se torna cada dia mais conservador e fisiologista, ao mesmo tempo que perde representatividade. Hoje, cotado para vice de Lula, não tem filiação partidária ainda.

Contudo, como disse Maria Inês Nassif, quem está sem partido mesmo é a elite brasileira.

Segundo a analista, o sistema político brasileiro se organizou no pós-ditadura em dois pólos, aparentemente liderados por PT de um lado e PSDB de outro. Afinal foram os partidos que chegaram aos segundos turnos presidenciais de 1994 até 2016.

Contudo, a essência não correspondia à aparência. Como pudemos notar a partir de 2016, o pós-ditadura se caracteriza pela polarização entre um partido orgânico de esquerda, mesmo que com todos os poréns e distanciamento notável de suas bases, o PT, e partidos ou grupamentos anti-petistas, conforme a conveniência. Aquele discurso de um capitalismo mais humano do PSDB se esvaiu no ar. Para a elite brasileira vale a vitória a qualquer custo e por isso compraram Bolsonaro. O discurso antipetista nasce do conhecido, porém absurdo, “combate à ameaça comunista”, a la Guerra Fria.

Como diz uma amiga, os viúvos de Collor até hoje acreditam em histórias como as fortunas do Lulinha, defendem cegamente um juiz corruptor das leis como Sérgio Moro, ou pior, são contra as vacinas, negacionistas. Essas desfuncionalidades do senso comum são marcantes em parte significativa e despolitizada do eleitorado brasileiro, e tendem a se moldar a partir do cenário político institucional.

Em um cenário com alianças “para ganhar eleições” como seria uma aliança entre Lula e Alckmin, a incoerência patente gera aquele sentimento de que são todos do mesmo balaio, representantes do sistema. Contraditoriamente, gerando repulsa dos setores que podem garantir a vitória eleitoral.

Por outro lado, em cenário com alianças que demarquem diferenças de projetos, mais coerentes com a realidade concreta, que polarizam, denunciando os perigos de um projeto elitista para além das cortinas de fumaça do bolsonarismo grotesco, este sim atrai o sentimento anti sistema.

É curioso, mas em um sistema em que prevalece o fisiologismo, e as alianças por conveniência, quem tem um partido para chamar de seu, pode ser mais “antissistema” que os demais. O que pode ser definitivo em uma eleição. Afinal, isso tem contado muito no Brasil, pelo menos desde as manifestações de 2013.

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