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Um santuário para elefantes no coração do Brasil

Cinco animais retirados de circos e zoológicos da América do Sul vivem no local, que fica Chapada dos Guimarães (MT)

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Na Chapada dos Guimarães (MT), o Santuário dos Elefantes Brasil recebe animais de toda a América do Sul e não permite visitação | Foto: Reprodução/Facebook

Penúltimo romance da escritora inglesa Agatha Christie, “Os Elefantes Não Esquecem”, de 1972 traz em seu título uma triste realidade.

Durante muitos anos, os elefantes foram explorados das mais diversas maneiras, seja para a retirada do marfim para comercialização, ou pelo sequestro de filhotes para serem levados para circos espalhados pelo mundo.

Mesmo em zoológicos famosos, como o de Buenos Aires, o tratamento oferecido aos elefantes –  e a outros animais – não era dos melhores: nos últimos anos, por exemplo, muitos dopavam os bichos para permitir que os frequentadores chegassem perto e tirassem fotos, sem se importarem com o que isso causava à saúde deles.

(Sim, ainda existem zoológicos “comuns”, inclusive no Brasil. Contudo, cada vez mais as pessoas se negam a visitar esses locais, dando preferência a ver os bichos respeitosamente em seus habitats).

Com tudo isso, em 2010, a organização não-governamental Elephant Voices começou seu trabalho no Brasil com a identificação de elefantes cativos em situação crítica. A maior parte deles estava mesmo em circos e zoos, mas outros foram encontrados em propriedades rurais.

Apesar de alguns Estados já naquela época contarem com leis que não permitiam a exibição de animais nas lonas circenses, o projeto que nacionaliza a proibição (PL 7291/2006) aguarda votação há 14 longos anos.

Nasce o santuário

Sem ver alternativas seguras para os elefantes no país, a ONG internacional Elephant Voices criou o Santuário de Elefantes Brasil, que teve como duas primeiras hóspedes as asiáticas Maia e Guida, em 2017. No local, até seis animais podem ser recebidos, numa área de 1,1 mil hectares.

O número de hóspedes pode ser ampliado caso o governo do Estado perceba que o impacto ambiental da iniciativa tem sido benéfico para a região, segundo a Secretaria de Meio Ambiente do Mato Grosso. O projeto é mantido por doações.

“A ideia principal é dar aos elefantes uma vida digna”, explica Titina Leão, ativista do projeto. “Tanto que nosso lema é ‘Dando oportunidade para os elefantes voltarem a ser elefantes novamente’”.

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A elefanta Maia se refresca na lama no Santuário de Elefantes Brasil | Foto: Reprodução/Facebook

O espaço, na Chapada dos Guimarães, foi projetado para atender às necessidades individuais de elefantes em cativeiro por longo do tempo. O local tem vegetação e topografia bastante similar com a natureza deixada para trás pelos elefantes quando foram tirados de suas famílias.

“Seria impossível voltar com os animais para seus países de origem na África ou na Ásia”, conta Titina. “Então, um estudo climatológico foi feito para entendermos qual o melhor lugar para instalar o santuário e o Mato Grosso mostrou ter o biossistema perfeito”.

As barreiras que circundam o local foram feitas de tal maneira que nem os gigantescos animais conseguem sair, nem outros bichos e humanos conseguem entrar.

“É importante deixar claro que o santuário não é aberto à visitação”, enfatiza a ativista. “Muita gente entra em contato porque quer visitar, mas não é permitido, de jeito nenhum.”

O santuário é grande o suficiente para que os elefantes para lá levados possam viver, se exercitar e se alimentar todos os dias sem que, para isso, seja necessária intervenção humana.

Leia também: A jornada da elefanta que cruzou a fronteira e chegou ao Brasil

“Muitas pessoas ficaram apreensivas, achando que soltaríamos elefantes no cerrado”, diverte-se um dos idealizadores do santuário, Scott Blais. “Claro que não fazemos isso, é uma área protegida.”

Caso seja preciso, o local também conta com uma equipe médica especializada e recintos onde é possível manter animais que precisem de tratamento, quarentena ou que estejam em período de adaptação ao novo estilo de vida que terão ali.

Mesmo com o mínimo possível de intervenção humana, alguns elefantes ainda demonstram guardar sofrimentos da antiga vida.

“Dos cinco que estão conosco atualmente, a mais traumatizada é a Lady, que veio de um circo na Paraíba e evita o contato com humanos”, completa Titina Leão. “Isso acontece porque os adestradores dizem que ‘quebram o espírito’ deles para treiná-los. Algo difícil de esquecer.”

Lady é a prova de que, de fato, Agatha Christie tinha razão, os elefantes não esquecem. Principalmente os maus-tratos que sofrem.

Ouça a história de Lady pela voz da atriz Carolina Kasting.

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