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Sanatório Geral

Eleonora Santa Rosa*

Observando os resultados da recente pesquisa de opinião, que apontam o crescimento da popularidade do personagem que ocupa a Presidência da República em função do auxílio de subsistência durante a pandemia; os desdobramentos da abominável grotesca ação de fundamentalistas e seguidores da abjeta Sara Winter, que há de pagar caro, muito caro, pela imoralidade desumana de sua conduta – aliás, faço votos que a mesma apodreça, em breve, em algum xilindró à altura de suas atitudes repulsivas –, e também, em contraponto, a notável mobilização de milhares de pessoas pela salvaguarda da criança abusada por um torpe e nojento personagem familiar, infelizmente, não incomum nos lares (não nos faltam relatos terríveis, no campo ou nas cidades, de episódios hediondos envolvendo crianças abusadas); o silêncio ensurdecedor de um governo dito a favor da moral e dos bons costumes; os pronunciamentos inacreditáveis do titular da Fazenda –  que, em minha modesta opinião, deveria deixar a mochila pronta para uma viagem, em breve, sem data de retorno, para os States – sobre a taxação de livros e a doação de livros “aos pobres”, beirando às raias do absurdo; o festival de sandices nos territórios não pacificados do Turismo e da Cultura, assunto extenso que merecerá reflexão específica oportunamente; me vem a certeza de que não haverá análise global que dê conta do ritmo dos acontecimentos paradoxais da nossa realidade diária, da gangorra de humores e percepções da opinião pública e da série de nonsenses que nos assolam cotidianamente.

O Brasil não é para amadores, como se sabe, só que agora, para além dos contumazes analistas de política e de economia, necessitamos, com urgência, do acompanhamento diário de juntas médicas de várias especialidades, pois uma coisa é certa: estamos intrinsecamente enfermos, muito enfermos. A sociedade brasileira precisa de múltiplos e profundos tratamentos, de prescrições ousadas e singulares, de propedêuticas não ortodoxas. Nesse contexto, só nos resta, por ora, apelar para o humor e convocar o dr. Fodinha1, como bem indica a poesia mordaz do austríaco Ernst Jandl:

prof. dr. fodinha
exmo. sr. prof. dr. fodinha
exmo. sr. prof. dr. honoris causa fodinha


1- Fodinha – Ernst Jandl / tradução: Myriam Ávila

Eleonora Santa Rosa é jornalista, gestora e estrategista cultural, foi secretária de estado de Cultura de Minas Gerais e diretora executiva do Museu de arte do Rio – MAR.

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