A audiência de instrução de julgamento sobre a morte do menino Henry Borel, 4, foi interrompida hoje ao menos quatro vezes durante o depoimento do perito legista Leonardo Huber Tauil, que assinou o laudo de necropsia do menino, em razão de bate-bocas.
O exame atestou morte decorrente de laceração hepática por ação contundente —o laudo tem sido contestado pela defesa do ex-vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho. Uma promotora de Justiça chegou a recomendar o uso de Rivotril, medicamento contra ansiedade, ao advogado de Jairinho. O réu é acusado juntamente com a mãe de Henry, Monique Medeiros, da morte da criança.
O momento mais tenso da audiência ocorreu quando Claudio Daledone, advogado de Jairinho, aproximou-se do assistente de acusação de Leniel Borel, pai de Henry, e os dois se encararam. O assistente de acusação reclamava das perguntas direcionadas ao perito, alegando falta de objetividade da defesa ao fazer as perguntas.
A campainha do tribunal foi tocada até que os dois parassem o bate-boca, o que também aconteceu em outro momento de discussão. “Abaixe o tom”, reagiu o advogado do réu à reclamação.
A equipe de defesa do réu, que está preso e acompanha a audiência por meio de videoconferência, contesta e tenta anular as provas hospitalares (leia mais abaixo).
A audiência também foi interrompida em outra ocasião porque os ânimos ficaram acirrados —Daledone reclamou que a promotora de Justiça, sentada ao lado da juíza Elizabeth Machado Louro, falava ao pé do ouvido da autoridade.
“Arruma sua encrenca sozinho. Rivotril aqui”, reagiu a promotora.
Defesa de Jairinho diz que Henry chegou vivo a hospital; pai contesta
A defesa de Jairinho disse hoje que a criança não estava morta quando chegou ao Hospital Barra D’Or na madrugada de 8 de março conforme atestam diversos médicos envolvidos na tentativa de reanimação e a perícia policial.
Na chegada à audiência de instrução de julgamento, realizada hoje no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, a advogada Flavia Fróes afirmou que a criança estava em parada cardiorrespiratória, e não morta.
“Fez-se da vida do Henry um espetáculo. Ele estava vivo. Ele chegou em parada [cardiorrespiratória] e, por isso, se chama ressuscitação o procedimento emergencial.”
Para embasar a afirmação, a defesa disse —sem dar detalhes— que apresentará um segundo raio-x e boletins que atestam vida do menino.
No entanto, médicas envolvidas na tentativa de ressuscitação de Henry relataram à polícia que ele apresentava rigidez da mandíbula, um indicativo de que a criança já estava morta. Elas também afirmaram que, em nenhum momento, o menino reagiu às manobras de reanimação.
A pediatra Viviane dos Santos Rosa, que estava de plantão na emergência pediátrica naquela madrugada, relatou à polícia que Henry já estava “cianótico, pálido, com extremidades frias, sem respiração, sem batimentos cardíacos e pupilas midriáticas, tecnicamente morto”.
Após a declaração da defesa de Jairinho, o pai de Henry, Leniel Borel, destacou as 23 lesões encontradas no corpo do menino em exame de necropsia.
“Os peritos atestam que Henry faleceu entre 0h30 e 1h30. Eles só saíram do apartamento por volta das 3h50. Tiraram total possibilidade do meu filho de viver.”
A pedido da defesa de Jairinho, além do perito legista Leonardo Huber Tauil, será ouvido hoje o assistente técnico Sami El Jundi, contratado pelos advogados do ex-vereador.