domingo, maio 19Notícias Importantes
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O ponto final

Afonso Barroso*

E disse o presidente no seu erudito linguajar bolsonariano: Eu não vou tomar vacina, e ponto final. Mas, qual é mesmo o ponto final do presidente? Respondo: o ponto final dele é composto por uma equipe médica de todas as especialidades e em plantão permanente. Tem infectologista, cardiologista, endocrinologista, oftalmologista, epidemiologista, oncologista, pneumologista, ortodontista, geriatra e, como não podia deixar de ser, um psiquiatra.

O resto do mundo, ou seja, as pessoas normais, os não presidentes e dependentes do SUS, têm outro ponto final, que é a morte. Não vou tomar a vacina, dirá o seguidor, e se o coronavírus me pegar, ponto final: estarei ferrado e, quem sabe, morto. Isso é o que se chama seguir o idolatrado até à morte.

Mas, tem uma coisa em que o presidente está mais do que certo: é uma idiotice determinar que a vacina seja obrigatória. Ora, ora, quem pode obrigar alguém a fazer alguma coisa? Obrigar a não fazer, tudo bem, é exatamente para isso que existem as leis. Há coisas que você não pode fazer, sob pena de punições às vezes severas. Quanto a fazer, faz quem quer.

Falar nisso, não fez nenhum sentido levar assunto como esse à decisão do Supremo Tribunal Federal. E o Supremo, parecendo não ter mais o quer fazer, examinou a questão como se fosse coisa de extrema complexidade jurídica e decidiu de forma a dizer sim com viés de não, ou seja: quem não tomar a vacina estará sujeito a restrições. Que tipo de restrições? Ficar por uns tempos sem Netflix? Não comer carne de boi nem tomar leite de vaca? Quanto a mim, pretendo tomar a vacina, mas não com medo de restrições, porque já as tenho de sobra como já há muito me decretou a diaba da diabetes. Os doutos ministros do STF assim decidiram porque sabem que não é possível proibir. Se alguém, a exemplo do presidente negacionista, cismar de não querer se vacinar, não se vacinará, e ponto final.

O que o presidente devia fazer, se mentalmente saudável fosse, não é proclamar que não tomará a vacina, e sim exortar as pessoas a se imunizarem quando a vacina estiver disponível. Ao dizer, alto e bom som, eu não vou me vacinar, e ponto final, ele está fazendo como fez contra o uso de máscaras e o confinamento: incentivando as pessoas a se encaminharem aglomeradas para o matadouro, como a boiada do nefando ministro do Meio Ambiente.

Disse também o senhor presidente que estamos “no finalzinho” da pandemia. Erro redondo, porque esse finalzinho ainda não chegou e nem está tão perto. Só estará quando a maioria da população estiver vacinada, e isso ainda vai demorar algum tempo.

São coisas que o nosso mandatário mór diz sem medir palavras ou consequências. Ele fala como se não soubesse que a fatídica doença já levou quase 190 mil brasileiros ao ponto final da vida. O problema é que grande parte da zebuzada baba quando o chefe berra. E ponto final.

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