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Ideologia mortífera

Afonso Barroso*

Não têm fundamento as críticas que fazem ao govenador João Dória por ter armado o que chamam de jogada de marketing ao promover, para audiência em rede nacional, a aplicação da primeira vacina contra a Covid-19 no Brasil. Pergunto eu: que outro governador não faria o mesmo ou algo semelhante, se tivesse à sua mão os recursos que Dória tem? Como agiria se dispusesse do poderio financeiro do estado de São Paulo e da proximidade de um laboratório mundialmente reconhecido como o Butantan? É dissimulada inveja e deslavada mentira dizer que faria diferente. Seria deixar os louros da vitória ao presidente negacionista e seu ministro, o general da banda da Saúde.

Qualquer governador que tivesse um pouco de inteligência e uma boa assessoria iria procurar e encontrar uma Mônica como a de Dória: enfermeira, dedicada e competente mulher negra, destemida, disposta a enfrentar o vírus com assistência permanente aos doentes internados, como fez nos últimos dez meses. Ninguém melhor para simbolizar a importância da chegada ao Brasil da vacina salvadora.

É inegável que Dória se aproveitou da oportunidade para tentar se fortalecer como possível candidato à Presidência da República. Na verdade, só ele, pelo menos por enquanto, parece ter cacife para enfrentar Bolsonaro numa disputa eleitoral. A esquerda não tem mais um Lula ou quem o substitua como líder da classe trabalhadora. Portanto, como diz o competente jornalista Rubem Ur Rocha, trata-se agora de uma luta da direita contra a extrema direita. Eu traduzo como da ponderação contra o radicalismo. Ou da vanguarda contra o obscurantismo.

Dória, muito mais inteligente do que o presidente extremista, sabia que um dos caminhos para negociar a compra da vacina, ou mais ainda para a aquisição de insumos necessários à produção, era a China. Mas logo a China, que o clã dos Bolsonaro considera o inimigo número um do Brasil? Sim a China, que a família do zero ao quatro não leva em conta ser o nosso principal parceiro comercial. O que mais compra e o que mais tem a oferecer. Só a ideologia extremista e canhestra não sabia ou não sabe disso. E se sabe, acha melhor ignorar, o que é extrema burrice, característica principal da extrema direita. E há ainda o patético ministro das relações exteriores, que fala e age como um autêntico zero cinco. Também ele hostilizou a China.

Não é de todo descartável a hipótese de que os chineses estejam fazendo uma espécie de pirraça, uma retaliação branca e altamente nociva ao Brasil, com o retardamento da conclusão do acordo para fornecimento das vacinas e dos insumos. Pois um dos zero a cinco não disse que a China é o país de tlocaletlas e que teria originado, propositadamente, a formação do vírus ou a demora em divulgar o perigo para o mundo? Houve quase um incidente diplomático grave com as declarações dos bolsonaros em relação ao país asiático. Agora, quem paga sãos os brasileiros, que continuam morrendo diante da incúria do Governo.

Também a Índia, grande produtora mundial de insumos para produção da vacina, não teve, por parte do Itamarati, o tratamento que se deve a um país amigo. E também dela o Brasil depende para produzir o antídoto contra o vírus mortífero.

O contingente ainda expressivo de brasileiros que ainda apoiam o presidente baseia-se, ao que tudo indica, no fato de ainda não haver corrupção comprovada no Governo, pelo menos não nas proporções da administração do PT. Talvez isso se deva à falta de grandes obras, que são o ambiente propício à formação dos canteiros de propinas. Mas, será que isso justifica a incompetência, o negacionismo e, especialmente, o extremismo ideológico? Penso que não. É tudo um mal do mesmo porte. Ou do mesmo calibre, para usar um termo compatível com as fardas palacianas.

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