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Guedes é confrontado por deputados sobre investimentos e ativos em offshore

O ministro da Economia, Paulo Guedes, foi confrontado na manhã desta terça-feira por deputados sobre seus investimentos e a valorização de seus ativos em uma offshore a partir da grande valorização do dólar ante ao real nos últimos anos. O primeiro bloco de perguntas coube aos autores dos requerimentos de convocação do ministro à Câmara. O deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), perguntou o motivo de Guedes não ter colocado também os recursos da offshore em um blind trust, como fez com seus investimentos no Brasil. O parlamentar também citou a retirada da tributação de offshores da reforma do imposto de renda.

“Também manteria meu patrimônio fora se fosse um multimilionário em um país que o ministro da Economia é Paulo Guedes. A lei diz que é vedado o investimento em bens que podem ser afetadas por decisões, e não apenas a gestão desses investimentos. E de que adianta se afastar dos investimentos na offshore, se a sua filha ou esposa continuam ligadas a ele?”, questionou. “O ministro não compareceu no Plenário da Câmara, nem na comissão da data originalmente marcada”, completou Kataguiri.

O deputado Elias Vaz (PSB-GO) perguntou sobre as respostas de Guedes à Comissão de Ética da Presidência quando assumiu o cargo de ministro, de que nenhum parente teria atividade com conflito de interesses à sua atuação na pasta. “A sua filha e a sua esposa são sócias da offshore. Quem faltou à verdade foi o senhor quando respondeu não”, indagou. “Além da offshore, o senhor possui um fundo de investimento exclusivo que ganhou R$ 380 mil por mês nos últimos anos, o senhor considera isso um sacrifício para o país?”, acrescentou.

Já o deputado Paulo Ramos (PDT-RJ) afirmou que Guedes possuía um “emaranhado de empresas de difícil rastreamento”, com muitas figuras públicas na composição das sociedades. “Essas figuram continuam atuando no mercado e obviamente mantém o relacionamento pessoal e podem em última análise se beneficiar de decisões do governo na área econômica”, insinuou.

Ele perguntou ainda se Guedes abriria seu sigilo bancário com os membros das comissões. O deputado Leo de Brito (PT-AC) considerou “escandalosa” a manutenção pelo ministro de uma offshore. “Essa situação já seria absurda em um contexto de normalidade, imaginem nessa situação de uma inflação de dois dígitos, com o preço dos alimentos e dos combustíveis nas alturas e a população voltando à fome”, avaliou.

Guedes participa de audiência com as comissões de Trabalho, de Administração e Serviço Público e de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados. O ministro foi convocado para explicar movimentações financeiras no exterior por meio de empresas em paraísos fiscais.

Em outubro, a revista Piauí e o site Poder360 revelaram a existência de empresas offshore em nome de Guedes e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. As informações fazem parte da investigação dos Pandora Papers, coordenada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ).

Comportamento do dólar após declarações

O ministro da Economia disse que houve 27 ocasiões enquanto ocupava a pasta em que o dólar subiu mais de 2% em um dia, e nenhuma delas por uma declaração de algum integrante da pasta. A afirmação de Guedes fez parte do argumento de que ele não estaria usando os recursos depositados na offshore para especular e lucrar com a variação do dólar.

Ele disse ainda que uma alta do dólar torna mais pobres, e não mais ricos, os investidores que têm a maior parte dos recursos no Brasil. “Quem tem um pouco de dólar, na verdade, protegeu um pedaço dos seus recursos, mas não escapou da perda patrimonial”, comentou. “Eu, por curiosidade, fui ver quando, nos últimos dois anos e 10 meses, o dólar subiu mais de 2% em um dia, para saber se tem alguém na Economia fazendo alguma besteira ou falando alguma besteira para empurrar o dólar para cima, para ter lucro, para ganhar alguma coisa com isso”, afirmou Guedes. “Foi sempre Covid, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro saindo do governo, o ex-presidente Michel Temer é preso. Foi só política ou doença, que são os eventos mais contundentes.”

Segundo Guedes, a criação de uma offshore se deveu a razões sucessórias, para que seus investimentos no exterior pudessem ser transmitidos a herdeiros em caso de alguma fatalidade, para evitar que o governo dos Estados Unidos “expropriasse” de 46% a 47% do valor. Por isso, argumentou, não seria necessário declarar se sua esposa ou filha estavam na offshore, que seria uma “obviedade”.

“A offshore é como uma ferramenta. É uma faca. Você pode usar para o mal, para matar alguém, ou pode usar para o bem, para descascar uma laranja”, disse Guedes, que alegou ainda não ter investimentos em nenhuma ação brasileira fora do país.

O ministro afirmou ainda que os seus depósitos em offshore foram feitos entre 2014 e 2015 e que, depois, nunca fez nenhum novo depósito ou remessa de recursos para o Brasil.

De acordo com Guedes, os investimentos foram devidamente declarados à Receita Federal e ao Banco Central. Ele também argumentou que, se desejasse especular com o valor do dólar, não teria defendido o projeto de independência da autoridade monetária.

Guedes disse ainda que precisou se desfazer de todos os seus investimentos em empresas sob a sua administração direta antes de assumir o Ministério da Economia, em um processo que teria lhe custado mais do que o valor investido em offshore.

O ministro ainda afirmou que colocou em um ‘blind trust’ seus investimentos em ativos que pudessem sofrer um impacto indireto da sua gestão à frente da pasta.

Origem

Guedes disse também que seu patrimônio foi obtido por meio da criação de empresas como Insper, BTG Pactual e Abril Educação, além de MBAs executivos. “Eu fiz muitos investimentos e criei muitas oportunidades empresariais para muita gente”, comentou. O ministro argumentou que teve oportunidades de participar do governo antes e que não ingressou no Executivo por oportunismo.

“Se eu fosse alguém que quisesse ganhar dinheiro vindo no governo para usar informações privilegiadas, para promover meus próprios interesses, eu teria vindo muito antes”, disse Guedes.

Guedes afirmou que havia sido convidado a participar do governo na década de 1980 pelo então ministro da Fazenda Francisco Dornelles, para compor a diretoria do Banco Central. “Eu não vim aqui pelo oportunismo, ao contrário”, disse.

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