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Entenda como Netanyahu foi tirado do poder em Israel por uma coalizão que inclui direita, esquerda e árabes – G1

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Naftali Bennet na sessão do Knesset em que foi confirmado como novo premiê de Israel — Foto: Reuters/Ronen Zvulun

Naftali Bennet na sessão do Knesset em que foi confirmado como novo premiê de Israel — Foto: Reuters/Ronen Zvulun

O Parlamento de Israel confirmou neste domingo (13) o fim dos 12 anos consecutivos de poder do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ao autorizar a formação de um novo governo, composto por uma ampla coalizão que vai de nacionalistas judeus de direita a políticos árabes-israelenses.

O Knesset, nome em hebraico do Parlamento israelense, aprovou essa aliança costurada por Yair Lapid, político centrista e um dos principais opositores de Netanyahu. Em 2 de junho, ele conseguiu firmar uma união majoritária ao ganhar apoio do direitista Naftali Bennett, em uma coalizão antes vista como improvável. Bennett passa a ser o novo premiê.

Na avaliação de Guga Chacra, comentarista da GloboNews, este não deve ser o fim da carreira de Benjamin Netanyahu. Assista ao comentário:

Guga Chacra analisa a derrota de Benjamin Netanyahu em Israel

Guga Chacra analisa a derrota de Benjamin Netanyahu em Israel

Nesta reportagem, você vai entender:

  • Quem são os personagens envolvidos
  • Como começou o impasse do poder em Israel
  • O que as urnas disseram
  • Como a nova coalizão se formou
  • Qual o futuro de Netanyahu
  • Quais os próximos passos

Quem são os personagens envolvidos?

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Netanyahu foi o primeiro israelense a ser vacinado no programação de imunização iniciado em meados de dezembro — Foto: Amir Cohen/Reuters

Netanyahu foi o primeiro israelense a ser vacinado no programação de imunização iniciado em meados de dezembro — Foto: Amir Cohen/Reuters

  • Benjamin Netanyahu — primeiro-ministro e líder do partido Likud

Um dos políticos mais proeminentes de Israel, Netanyahu se tornou o premiê com maior tempo de mandato na história de Israel. Ele governou o país entre 1996 e 1999 e, dez anos depois, retornou ao poder, de onde não mais saiu.

Netanyahu se sustentava graças aos posicionamentos nacionalistas que agradavam diversas áreas do centro à direita em Israel. Tanto militaristas seculares quanto judeus ortodoxos compunham a base do primeiro-ministro, que tinha apoio principalmente pela defesa do estado judaico e das ocupações israelenses nos territórios palestinos. Também tinha apoio ao endurecer os ataques contra a facção Hamas, que comanda a Faixa de Gaza.

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Líder do partido nacionalista de direita Yisrael Beiteinu, Avigdor Liberman, vota no assentamento de Nokdim, na Cisjordânia, em março de 2020 — Foto: Tsafrir Abayov/AP

Líder do partido nacionalista de direita Yisrael Beiteinu, Avigdor Liberman, vota no assentamento de Nokdim, na Cisjordânia, em março de 2020 — Foto: Tsafrir Abayov/AP

  • Avigdor Lieberman — ex-ministro da Defesa e líder do partido Israel Nossa Casa

O político da direita militarista representa principalmente a população israelense com raízes na antiga União Soviética, de onde milhares de judeus emigraram. A trégua firmada em 2018 com os palestinos e o embate com a ala religiosa sobre o serviço militar obrigatório foram o estopim para a saída de Lieberman do governo, o que erodiu a coalizão que sustentava Netanyahu no poder.

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O líder do Partido Azul e Branco, Benny Gantz, em discurso na cidade de Tel Aviv, Israel em 7 de março de 2020 — Foto: Sebastian Scheiner/AP/Arquivo

O líder do Partido Azul e Branco, Benny Gantz, em discurso na cidade de Tel Aviv, Israel em 7 de março de 2020 — Foto: Sebastian Scheiner/AP/Arquivo

  • Benny Gantz — líder do partido Azul e Branco

De centro-direita, Gantz se converteu no maior opositor de Netanyahu nas eleições ocorridas entre 2019 e 2020. No entanto, nenhum dos dois conseguia formar uma maioria parlamentar para iniciar um novo governo. Após três votações em menos de um ano, o líder do Azul e Branco concordou em se aliar a Netanyahu como solução temporária durante a pandemia do coronavírus. A aliança, porém, logo se desfez, empurrando Israel para um novo pleito em 2021 e minando a popularidade de Gantz entre os opositores do atual premiê.

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Yair Lapid, candidato do partido opositor Yesh Atid, vota em Tel Aviv para as eleições de Israel de 2021 — Foto: Corinna Kern/Reuters

Yair Lapid, candidato do partido opositor Yesh Atid, vota em Tel Aviv para as eleições de Israel de 2021 — Foto: Corinna Kern/Reuters

  • Yair Lapid — líder do partido Yesh Atid

Ex-apresentador de TV, Lapid ganhou popularidade entre os opositores de Netanyahu entre 2020 e 2021 e se tornou o maior líder do bloco anti-governo. Seu partido conseguiu uma votação muito alta nas eleições de março, mas o político centrista teria de formar alianças consideradas improváveis entre esquerda e direita, nacionalistas e árabes, para tirar o premiê do poder.

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Naftali Bennett durante sessão no Parlamento de Israel em 2 de junho — Foto: Ronen Zvulun/Reuters

Naftali Bennett durante sessão no Parlamento de Israel em 2 de junho — Foto: Ronen Zvulun/Reuters

  • Naftali Bennett — líder do partido Yamina

O magnata chegou a fazer parte do gabinete de Netanyahu no passado e se considera até “mais à direita” do que o primeiro-ministro e ex-aliado. Na liderança do Yamina, Bennett mostrou força nas eleições de 2021 e se tornou fiel da balança para que a oposição conseguisse formar a maioria.

Como começou o impasse do poder em Israel?

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Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, participa de sessão no Parlamento em 2019. Atrás dele, o ex-ministro da Defesa Avigdor Lieberman, líder do partido que rompeu com o governo — Foto: Sebastian Scheiner/Arquivo/AP Photo

Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, participa de sessão no Parlamento em 2019. Atrás dele, o ex-ministro da Defesa Avigdor Lieberman, líder do partido que rompeu com o governo — Foto: Sebastian Scheiner/Arquivo/AP Photo

Os sinais de que a situação política em Israel era de crise ficaram mais fortes no fim de 2018 com uma cisão na aliança pró-Netanyahu. Essa ruptura ocorreu principalmente por parte da ala mais nacionalista e militarista do governo. Os principais motivos eram:

  • A trégua anunciada em novembro de 2018 pelo governo israelense com os palestinos, que se enfrentavam na Faixa da Gaza.
  • O descontentamento com ala religiosa do governo, que queria isentar do serviço militar obrigatório os judeus ortodoxos que estudam a religião.

O estopim para a crise foi a saída do então ministro da Defesa, Avigdor Lieberman. Antes um braço direito de Netanyahu, o político direitista pediu para deixar o cargo após a trégua com os palestinos.

Assim, em dezembro de 2018, a coalizão governista foi formalmente desfeita e o governo teve de convocar novas eleições. Eles ocorreriam normalmente em novembro do ano seguinte, mas a decisão de dissolver o Parlamento antecipou essa votação para abril de 2019.

O que as urnas disseram?

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Uma mulher vota com crianças em uma sessão eleitoral de Rosh Haayin, em Israel, em 2019 — Foto: Sebastian Scheiner/AP

Uma mulher vota com crianças em uma sessão eleitoral de Rosh Haayin, em Israel, em 2019 — Foto: Sebastian Scheiner/AP

Os israelenses foram às urnas em quatro ocasiões em menos de um ano:

  • Abril de 2019
  • Setembro de 2019
  • Março de 2020
  • Março de 2021

As eleições mostraram o tamanho da fragmentação política em Israel. Isso porque nenhum partido conquistou, sozinho, as 61 cadeiras para controlar o Parlamento, que tem 120 assentos, nas quatro eleições ocorridas entre 2019 e março de 2020.

Nas três primeiras votações, os resultados foram muito parecidos: o Likud (de Netanyahu) e o Azul e Branco (de Benny Gantz) ficaram empatados ou com pouquíssima diferença no número de assentos conquistados.

O presidente de Israel, Reuven Rivlin — que tem o papel cerimonial de dar ao líder do partido mais bem sucedido na eleição a tarefa de montar uma coalizão governista, — convocou Netanyahu para formar alianças. Porém, o primeiro-ministro não conseguiu fechar acordos e perdeu prazos, levando a novas eleições.

O problema para o premiê é que, sem o ex-ministro da Defesa Avigdor Lieberman, Netanyahu não conseguia conquistar apoio dos 61 parlamentares necessários para uma maioria. Ao mesmo tempo, Lieberman — de linha nacionalista de direita — não demonstrava apoio a Gantz nem a outros partidos para formar uma coalizão contra o governo. Com isso, o Parlamento se via obrigado a convocar novas eleições.

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Cartaz da campanha de Benjamin Netanyahu (à esquerda) ao lado de outdoor que mostra Benny Gantz sentado ao lado de líder de partido pró-árabe, em foto de fevereiro de 2020 — Foto: Ahmad Gharabli/AFP

Cartaz da campanha de Benjamin Netanyahu (à esquerda) ao lado de outdoor que mostra Benny Gantz sentado ao lado de líder de partido pró-árabe, em foto de fevereiro de 2020 — Foto: Ahmad Gharabli/AFP

O impasse pareceu ter fim em março de 2020, quando Gantz e Netanyahu concordaram em unir forças para enfrentar a pandemia do coronavírus e não perpetuar o impasse político em Israel. A intenção era que os dois se revezassem no cargo de primeiro-ministro, começando por Netanyahu.

Mas a ampla aliança não vingou, e Gantz rompeu a coalizão. Entre as razões apontadas pelo rival de Netanyahu estão:

Mais uma vez sem governo, o Parlamento israelense marcou novas eleições para março de 2021. A fragmentação se repetiu, mas o polo anti-Netanyahu viu outros nomes tomarem a frente das negociações entre opositores: o centrista Yair Lapid e o nacionalista Naftali Bennett.

Como a nova coalizão se formou?

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Yair Lapid, Naftali Bennett e Mansour Abbas, líderes de posições diferentes no espectro político de Israel, assinam acordo de coalizão em 2 de junho — Foto: United Arab List Raam/Handout via Reuters

Yair Lapid, Naftali Bennett e Mansour Abbas, líderes de posições diferentes no espectro político de Israel, assinam acordo de coalizão em 2 de junho — Foto: United Arab List Raam/Handout via Reuters

Assim como nas outras três vezes, Netanyahu foi convocado para formar uma maioria com outros partidos. E, novamente, não conseguiu. Assim, o presidente Rivlin chamou Lapid, segundo colocado, para tentar uma aliança.

De início, Naftali Bennet se recusou a apoiar Lapid. Embora não tenha chegado a declarar apoio ao ex-aliado Netanyahu, o direitista não via com bons olhos a formação de um governo com lideranças mais ao centro e grupos árabes-israelenses. Assuntos como a escolha de juízes era um enorme entrave para os políticos.

Para Guga Chacra, a coalizão é frágil e terá dificuldade para se sustentar no longo prazo. Assista ao comentário:

Guga Chacra avalia que nova coalizão será frágil em Israel

Guga Chacra avalia que nova coalizão será frágil em Israel

Tudo se encaminhava para uma quinta eleição. Porém, a poucos dias do fim do prazo, Lapid e Bennett anunciaram uma improvável aliança. Uma foto em que os dois líderes e o principal representante de um dos partidos árabes assinam um acordo se tornou o símbolo dessa frente ampla contra Netanyahu.

Assim, o presidente Rivlin formalizou o anúncio dessa coalizão, e o Knesset autorizou a formação do novo governo.

Qual o futuro de Netanyahu?

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Primeiro-ministro Benjamin Netanyahu discursa em Jerusalém em 14 de abril de 2021 — Foto: Maya Alleruzzo/Pool/Arquivo/AP Photo

Primeiro-ministro Benjamin Netanyahu discursa em Jerusalém em 14 de abril de 2021 — Foto: Maya Alleruzzo/Pool/Arquivo/AP Photo

Agora fora do cargo de premiê, Netanyahu precisará enfrentar os tribunais pelas acusações de suborno, fraude e quebra de confiança nos seguintes casos:

  • por aceitar US$ 264 mil em presentes de magnatas, incluindo um produtor de Hollywood;
  • por negociar acordo com um jornal para obter uma cobertura mais favorável para o governo, oferecendo uma legislação para retardar o crescimento de um jornal rival;
  • por conceder favores regulatórios à principal empresa de telecomunicações israelenses, também em troca de uma melhor cobertura sobre o governo.

O julgamento foi retomado em abril e deve se estender por semanas. Netanyahu nega todas as acusações.

Os escândalos fizeram centenas de pessoas saírem as ruas no ano passado em protesto contra Netanyahu. Opositores exploraram as acusações para minar a popularidade do premiê durante os períodos eleitorais, e, ao deixar o governo, Benny Gantz mencionou a corrupção como uma das razões para romper a aliança formada meses antes.

Quais os próximos passos?

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Sentado, Naftali Bennett fala com Yair Lapid durante sessão no Parlamento Israelense nesta quarta (2). Os dois devem se revezar no comando do governo de Israel, caso os parlamentares ratifiquem a coalizão — Foto: Ronen Zvulun/Reuters

Sentado, Naftali Bennett fala com Yair Lapid durante sessão no Parlamento Israelense nesta quarta (2). Os dois devem se revezar no comando do governo de Israel, caso os parlamentares ratifiquem a coalizão — Foto: Ronen Zvulun/Reuters

Com a confirmação pelo Parlamento, vale o acordo dos partidos dessa nova aliança governista, que estipulou o seguinte revezamento:

  • Naftali Bennett fica como primeiro-ministro nos 2 primeiros anos
  • Yair Lapid substitui Bennett e assume o cargo de premiê nos 2 últimos anos do mandato

Nesse início de mandato, eles terão de escalar o gabinete — tarefa que não deverá ser fácil, uma vez que trata-se de uma coalizão de grupos muito distintos.

A questão que fica é se essa ampla e diversificada aliança vai se sustentar pelos próximos anos. O governo de Netanyahu se desfez graças — também — a divergências internas, de partidos que não concordavam em pontos chaves como o serviço militar obrigatório.

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Rastros de luz do sistema anti-míssil Israel enquanto ele intercepta foguetes lançados da Faixa de Gaza, vistos de Ashkelon — Foto: Reuters/Amir Cohen

Rastros de luz do sistema anti-míssil Israel enquanto ele intercepta foguetes lançados da Faixa de Gaza, vistos de Ashkelon — Foto: Reuters/Amir Cohen

O novo governo já deverá assumir em um momento tenso com os palestinos. Confrontos em maio deixaram dezenas de mortos. E enquanto Bennett se opõe a tréguas com o Hamas e não vê com bons olhos a ideia da formação de um Estado Palestino, outros componentes da coalizão adotam postura mais pós-palestina.

Essa divisão pode ser vista dentro das cidades de Israel, que registraram confrontos antes considerados raros entre israelenses árabes e judeus.

Assim, o desafio para essa coalizão será a manutenção de uma unidade mesmo diante de divergências dos grupos tão distintos que compõem a aliança.

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