sexta-feira, maio 10Notícias Importantes
Shadow

Deus Não Se Esquecerá de Você. Esperança na Escuridão da Doença de Alzheimer

Não sabíamos que meu avô tinha a doença de Alzheimer até que ele tentou se suicidar.

Era para ele ter morrido por causa de seus ferimentos, mas Deus poupou sua vida — e não apenas uma vez. Meu avô não era crente, então sem esperança diante de tal diagnóstico, ele tentou o suicídio várias vezes. A morte lhe parecia melhor do que perder o controle sobre sua vida e faculdades.

Pouco antes de meu marido e eu nos casarmos, minha sogra também foi diagnosticada com a doença de Alzheimer Ao longo dos últimos anos, observamos sua transformação de ser um centro brilhante na família para se tornar um fantasma de seu antigo ser. Estamos perdendo minha sogra memória por memória, função por função, quilo por quilo.

A doença de Alzheimer ataca implacavelmente a identidade e relações terrenas de uma pessoa. Ouvi muitos membros da família e amigos questionarem a presença de Deus. E eu silenciosamente me perguntei exatamente sobre isso. Onde está Deus nesta vasta escuridão? Onde está Deus, à medida em que o corpo de uma pessoa e sua personalidade são devastados pela doença de Alzheimer?

Uma Jornada pelas Trevas

Se uma pessoa com doença de Alzheimer pudesse escrever um salmo, acho que seria o Salmo 88. O salmista ezraíta Hemã se desespera ao passar por trevas intermináveis: “estou preso e não vejo como sair” (Salmo 88.8). E o último pensamento é “os meus conhecidos são trevas” (Salmos 88:18). Não há memória de qualquer esperança piedosa que possa elevar o espírito ao final deste salmo.

Neste salmo, o lugar dos mortos é um lugar de esquecimento. A morte e a cova (Salmo 88.3–4), a sepultura e os abismos (Salmo 88.11), as trevas e a terra do esquecimento (Salmo 88.12) — todos se referem ao mesmo lugar no Salmo 88. É onde “os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles recompensa, porque a sua memória jaz no esquecimento” (Eclesiastes 9.5).

Não é com isto que a doença de Alzheimer se parece? Uma viagem pela terra do esquecimento, do diagnóstico à ausência total? Uma escuridão incurável?

Deus Está Lá

Para o bem daqueles com doença terminal de Alzheimer, e para aqueles que amam e cuidam deles, sou grata que Deus inclui este salmo terminal nas Escrituras. Esta vida não é um conto de fadas. Deste lado da eternidade, nem tudo resulta numa resolução brilhante. E Deus pode parecer assustadoramente ausente quando as circunstâncias são mais sombrias.

O Salmo 88 não inclui a resposta de Deus a Hemã, mas como um dos músicos-chefes do Rei Davi (1Cr 25.1), Hemã deveria estar bem familiarizado com o Salmo 139.8: “se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também” e com o Salmo 23.4: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo”. Portanto, Hemã provavelmente escreveu o Salmo 88 não para confirmar a ausência de Deus, mas para afirmar a experiência humana de sentir como se Deus estivesse ausente.

Deus pode certamente parecer ausente na experiência da doença de Alzheimer, mas Ele está próximo, mesmo nesta hora. E mesmo na terra do esquecimento, Ele nos guia e nos sustenta (Salmo 139.10).

Deus Não Se Esquece

Meu avô fez tudo o que pode para resistir a Deus antes e depois do seu diagnóstico, mas Deus não o esqueceu. A graça irresistível o alcançou, mesmo à sombra de sua doença, e resgatou-o de uma escuridão maior do que a da doença de Alzheimer (Cl 1.13).

No ano anterior ao falecimento do meu avô, em um de seus últimos dias com compreensão, ele estava borbulhando, ao falar sobre a obra salvadora de Deus em sua vida. Essa salvação era tão doce para ele que, mesmo acamado e imóvel, sentia muita alegria ao saber que Deus o amava e o havia perdoado como seu filho. Sentia tremenda alegria em saber que poderia se comunicar com Deus na cama de hospital por meio da oração. A proximidade de Deus era o seu bem de uma maneira que penetrava trevas reais (Salmo 73.28).

Seus dias com compreensão se dissiparam lentamente até chegar a um esquecimento completo. Mas apesar da doença de Alzheimer ter levado todo o resto, nunca poderia tomar sua porção em Cristo (Salmo 73.26), e nunca poderia roubar sua promessa de ressurreição (João 11.25), porque as promessas do evangelho de Deus não têm cláusula de exceção para a doença de Alzheimer. Deus não diz que irá nos sustentar a menos que desenvolvamos a doença de Alzheimer e nos esqueçamos dele.

O Aguilhão da Doença de Alzheimer

Uma vez que pertencemos a Deus, nem mesmo uma doença debilitante, que rouba a saúde e a personalidade de uma pessoa, poderá nos arrebatar de sua mão (João 10.28), porque os dons de salvação e nossa adoção por Deus não “dependem do que fazemos, incluindo nossa capacidade de recordar ”, tal como escreveu Benjamin Mast (Second Forgetting [Segundo Esquecimento], 26). A carne pode esquecer, mas não o Deus soberano (Is 49.15).

Deus se lembrou do meu avô e o acompanhou pela terra do esquecimento. Mesmo à medida em que o corpo exterior de meu avô se deteriorava, seu homem interior era renovado dia a dia, sendo preparado pela leve e momentânea tribulação da doença de Alzheimer para um eterno peso de glória por vir (2Co 4.16–18).

“Onde está, ó morte, a tua vitória?
Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (1 Coríntios 15.55)

E doença de Alzheimer, onde está a tua vitória?

A Luz Ainda Brilha

A terra do esquecimento e das trevas profundas não é a nossa cidade duradoura — graças a Deus! Em nossa cidade duradoura, “já não haverá noite”, pois o próprio Deus será nossa luz e o Cordeiro, nossa lâmpada (Apocalipse 21.23; 22:5).

Meu avô já chegou à sua cidade duradoura. Minha sogra, ainda não. Mas na terra do esquecimento, afirmamos com olhos de fé que “a luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela” (João 1.5). Porque para aqueles que são de Cristo Jesus, a última palavra será luz.

Publicado originalmente em desiringGod.org.

Traduzido por Raul Flores

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

× Como posso te ajudar?