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Comunismo chiclete

Para muitos, sem dúvida, o comunismo talvez seja um chiclete alucinógeno feito em Cuba ou Coreia de Norte

Para muitos, sem dúvida, o comunismo talvez seja um chiclete alucinógeno feito em Cuba ou Coreia de Norte (Unsplash/Thought Catalog)

Ricardo Soares*

Quando eu era menino – e olha que já faz tempo – deitava num chão daqueles de ladrilhos vermelhos quebradinhos, típico dos anos 70, e, com uma parreira de uvas sobre minha cabeça, tentava vislumbrar entre as folhas o distante ano 2000, quando eu seria um “idoso” de 40 anos. Não sei bem porque me fixei na idade emblemática dos 40 e nem no ano 2000. Mas era isso que pensava, sem sequer imaginar que, 20 anos após o encontro que eu queria marcar comigo mesmo no ano 2000, o Brasil se converteria numa distopia apocalíptica em 2020.

Sei que todos vocês, todos nós, estamos cansados de tantas conjecturas que discutem para tentarmos entender como viemos parar nesse fosso sem fundo, especialmente no Brasil da ignorância ostentação onde os diplomas e o conhecimento nada valem.

Quando eu iria imaginar que em 2020 a maioria dos brasileiros apoiaria um governo de parvos e negacionistas? Quando poderia crer que a trilha sonora do país se converteria em “sertanojo gemeção” e que pelos quatro cantos do Brasil as pessoas temessem, de novo, um comunismo que jamais passou perto da gente? Fico inclusive curioso em saber qual seria o resultado de uma enquete nacional sobre o que é “comunismo”. Para muitos, sem dúvida, talvez seja um chiclete alucinógeno feito em Cuba ou Coreia de Norte, que faz com que todos nós doemos nossas casas e nossos bens sem qualquer contestação.

Temo que a escalada da ignorância ostentação – que tantas vítimas já vez – seja irreversível. E não me canso de assustar todos os dias com os seus “progressos”. Se soubesse disso sob a parreira de uvas lá de casa nos idos dos anos 70, teria optado por ter saído do país ainda jovem. Agora me restam poucas armas e alguma bagagem para, diante disso, tentar construir um retrato de artista enquanto velho em um país em franca decomposição de valores.

*Ricardo Soares é roteirista, escritor e jornalista. Publicou 9 livros. O mais recente “Devo a eles um romance” disponível no site da editorapenalux.com.br

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