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Circo dos horrores

Eleonora Santa Rosa*

Nas últimas semanas, o governo nefasto que envergonha aos que têm senso de humanidade produziu uma enxurrada de atos, nomeações, liberações e declarações tão indignas e abjetas que me pergunto: como haverá de terminar esse pesadelo e essa temporada de triunfo da ignorância, insensibilidade e brutalidade como forma de gestão?

O aparvalhado general que comanda, em estado de caos e vacilo, a saúde pública do país, figura patética e despreparada na condução de um ministério vital, transformado em trincheira repleta de incompetentes e servis, a começar pelo próprio e a terminar com  as dezenas de áulicos recém-empregados, desprovidos de condições profissionais para tarefas complexas e delicadíssimas em tempos pandêmicos, vem enxovalhando uma área que deveria ser tratada e cercada de todos os cuidados e competências. Estamos assistindo diariamente à multiplicação de performances de ineficiência e descalabro operacional. A quantos processos responderão, muitos destes ainda fardados, pelo crime de postergação da vacinação da população, pela estocagem de quase sete milhões de testes não distribuídos, pela ineficácia no gerenciamento da logística de distribuição dos produtos, pela letargia na compra de seringas e agulhas? Não há como não dizer: é estarrecedor! Nesse sentido, leia-se a contundente nota emitida pela Sociedade de Medicina do Rio “contra a política homicida em vigor nesta pandemia que em breve terá matado 200 mil brasileiros”, após a morte, por Covid, de um dos mais renomados e brilhantes cirurgiões de cabeça e pescoço do país, Ricardo Cruz, com 66 anos.

No festival de absurdos dos últimos dias: pacientes com HIV e de Hepatite C sem exames de genotipagem, já que o ‘bamba’ da logística não renovou contratos cruciais. O governo prepara a revogação de uma centena de portarias sobre saúde mental, que trará forte impacto nos serviços e programas do SUS, com o desmonte das políticas de saúde mental da rede pública, além do incentivo presidencial à volta dos tratamentos por eletrochoques e dos manicômios, reorientando as diretrizes da Política Nacional de Saúde Mental.

Complementado o circo dos horrores: notícias sobre a recente liberação na importação de armas; a divulgação do projeto de instalação de um hotel-boutique em pleno Jardim Botânico do Rio de Janeiro, no prédio que hoje funciona o Museu do Meio Ambiente, ideia do ardiloso capataz dos interesses contrários à pasta que representa; a nomeação do pastor Tassos Lycurgo, pós-doutor em apologética cristã, sem qualquer experiência ou formação, para a diretoria de patrimônio imaterial do IPHAN, na função de Hermano Queiroz, reconhecido por seu excepcional trabalho de elevada qualidade técnica; a convocação de pesquisadores e intelectuais da Fundação Casa de Rui Barbosa para depoimentos na Polícia Federal, em função de perseguição da atual presidenta do órgão, uma tola autoritária, assessora do pastor Marcos Feliciano; enfim, de dar náuseas.

Tivemos também o momento de humor da semana: a ridícula cerimônia promovida pela primeira dama, Michelle do ‘Cheque de Queiroz’, de inauguração da “exposição” dos trajes presidenciais do dia posse. A melhor resposta à tamanha bobagem foi o volume de postagens nas redes sociais com memes geniais e imperdíveis.

Por fim, nessa terra de insensatos, do nunca pensamos que pudesse chegar a esse ponto, caberia conclamar aos que votaram nisso que está aí que meditassem a respeito, talkey?

Ex-secretária de Estado de Cultura de Minas Gerais, ocupou diversas funções públicas de relevo e desenvolveu projetos de educação patrimonial e de patrimônio cultural de repercussão nacional. Ex-diretora executiva do Museu de Arte do Rio – MAR (de novembro de 2017 a novembro de 2019), é considerada uma das mais experientes e respeitadas profissionais no campo da viabilização, implantação e soerguimento de equipamentos culturais no país. Estrategista e gestora cultural, tem larga experiência editorial; foi responsável pela publicação de mais de meia centena de obras voltadas à história e à cultura de Minas Gerais, tendo sido coordenadora editorial das consagradas Coleções Mineiriana e Centenário da Fundação João Pinheiro. Diretora do Santa Rosa Bureau Cultural, é autora do livro Interstício

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