Ricardo Soares*
A tal “gente de bem” tem nos feito mal faz tempo. Não é de hoje não, após um golpe que depôs uma presidente democraticamente eleita. Não é agora, depois de apoiar Temer e eleger Bozo e torcer para um réu ser presidente da Câmara. Na verdade, a ação secular da tal “gente de bem” me faz querer distância de quem assim se define colocando no pote dos proscritos aqueles que não a acompanham em suas retrógradas aspirações.
Que nosso país vive talvez um dos seus períodos mais turbulentos não é novidade pra ninguém. Que se perdeu o discernimento, a capacidade de debater sem ofender, ninguém duvida. Que ignorância passou a ser quase um atestado de competência para fazer parte dos quadros do primeiro escalão governamental está mais do que na cara. Resta saber até quando vamos suportar. A sociedade civil vai se rebelar ou todos seguiremos a sina de bezerros mansos e molhados?
Não há crédito entre nenhum dos três poderes. Não confiamos no Executivo, Legislativo e nem no Judiciário. Ao invés de governarem o país só se discute uma sucessão em 2022. É um universo paralelo onde só se fala de um país lá na frente e não tenta se abreviar as mazelas do presente. Nessa barca estão tanto os atuais detentores do poder quanto grande parte daqueles que estão fora da barca.
Eu ia lhes falar enquanto corria a barca para lembrar aqui a velha canção dos Novos Baianos. Mas a barca encalha e não abarca todas as nossas frustrações. A nação parece aquela criança que fomos um dia e que num momento de horror supremo se vê nua, em sonhos, em pleno pátio da escola. Todos apontam a criança infeliz e riem dela. Somos motivos de riso e chacota. Nossas veias saltam, e quantas gotas faltam para o desfecho dessa triste festa?
*Ricardo Soares é escritor, diretor de tv, roteirista e jornalista. Publicou 9 livros, dirigiu 12 documentários.
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