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Uma Pergunta a Fazer Antes de Escrever uma Mensagem de Texto

Odeio fazer ligações telefônicas. Às vezes preciso ter uma conversa motivacional comigo mesmo antes de ter a coragem de discar. Quando o telefone do meu escritório toca, muitas vezes espero que seja um número desconhecido para que eu possa deixá-lo ir para a caixa de mensagens. Entre enviar mensagens de texto e fazer ligações, eu sempre vou escolher enviar mensagens de texto. O que há de errado comigo?

Estou começando a ver este mesmo fenômeno estranho emergir em sessões de aconselhamento. Enquanto me contam sobre uma grande discussão que arruinou a semana de um casal, após cinco ou mesmo dez minutos de explicação, eu tenho que pausar a história e perguntar: “Espera, tudo isto foi dito via mensagens de texto?” Obviamente, não sou só eu que está nesta situação. Isto está acontecendo em casamentos, amizades, relacionamentos de trabalho e famílias em todos os lugares. O que há de errado conosco?

Em seu livro sobre smartphones, Tony Reinke ressalta: “[Nossos telefones] estão nos mudando; sobre isto não há discussão.” Eles estão nos mudando; e eles estão expondo o que há em nós. A forma como nós conversamos por mensagens de texto pode nos contar muito sobre nós mesmos.

Enviamos Mensagens de Texto para Fugir

Somos criaturas medrosas por natureza. Desde o jardim do Éden, preferimos nos esconder entre os arbustos em vez de corajosamente dar um passo para a clareira. Cada geração desenvolve suas próprias folhas de figueira para se proteger da culpa e da vergonha. A nossa conseguiu colocar um logotipo da Apple [maçã] na parte de traz — um lembrete irônico daquela queda fatídica.

Considere esta desculpa via SMS para ver se lhe serve: Eu errei por gritar com você em casa. Eu te amo muito. Me desculpe. Ou esta confissão por mensagem de texto: Eu olhei para algo que não deveria no meu telefone na semana passada. Ore por mim. Infelizmente, nossa tendência por mensagens de texto em nossos relacionamentos não é porque todas as formas de comunicação são iguais. Nos comunicamos por mensagens de texto porque temos medo.

No fundo, muitos de nós estão se escondendo por medo, atrás da segurança de uma tela de vidro. Comunicarmo-nos através de mensagens de texto nos ajuda a nos esconder de tantas coisas: das consequências de nossos erros, do desapontamento de outros, do desconfortável sentimento de conflitos pessoais. Não toleramos imaginar a expressão dolorosa que pode nos olhar de volta. Queremos evitar ver as lágrimas. Não queremos ter que reviver tudo e ter de explicar nossas ações pecaminosas. Temos medo de que possam ficar com raiva ou não gostar do que temos a dizer.

Então nos comunicamos por mensagens de texto.

Faça uma retrospectiva do seu registro de mensagens e tenha um momento de honestidade consigo mesmo. Quantas delas deveriam ter sido conversas com pessoas reais na vida real? Ao invés de olhar nos olhos de alguém feito à imagem de Deus e abrir nossas bocas, o medo nos diz que é igualmente bom olhar para um retângulo inanimado e digitar alguns caracteres, talvez um emoji.

No aconselhamento, denominamos isto de resposta de fuga aos conflitos. Muitos de nós não tem ideia do por quê nossos casamentos estão passando por dificuldades, por que nos distanciamos nos nossos relacionamentos e por que os conflitos ainda não parecem resolvidos. Mas eu mandei uma mensagem! As pessoas são engraçadas. Parecem sentir quando alguém se esconde. Nada diz “Estou me escondendo de você” tão bem quanto mensagens de texto que deveriam ter sido conversas reais.

Falamos por Mensagem de Texto para Termos o Controle

Enquanto enviar uma mensagem pode representar fuga para alguns, para outros isto significa lutar. Nos vemos enviando mensagens não quando estamos nos escondendo, mas quando estamos no ataque. Há algo de psicológico sobre mensagens de texto; elas naturalmente suscitam uma resposta. Se você é como eu, é necessário disciplina para ignorar uma mensagem. Ainda mais disciplina é necessária para não permitir que uma mensagem de texto perturbadora penetre no meu subconsciente e me irrite a tarde inteira. Esta qualidade desagradável faz das mensagens de texto uma ferramenta bastante perversa para a manipulação.

Por quê você não está me respondendo?
Eu sabia que você não iria deixar a vida seguir.
Olá?
Por quê você não vai me perdoar?

Com repetidas notificações no celular, podemos desgastar nossos interlocutores com mensagens que exigem atenção imediata. Muitas vezes motivados por culpa e vergonha, partimos para a ofensiva, exigindo reconciliação ou perdão rapidamente. Tentamos convencer alguém a nos dar afeto ou alguma concessão. Um recente comercial de smartphones retrata uma mulher que envia seu primeiro “Eu te amo” para o namorado e aguarda com expectativa por sua mensagem de retorno. Os aplicativos de mensagens não têm espaço para emoções, dor, perguntas complementares ou contemplação silenciosa. Eles exigem uma resposta. Imediata.

Podemos usar mensagens de texto para tecnologicamente colocar alguém contra a parede. No final da tarde, você envia esta: “Esqueci de lhe dizer. Indo para a academia depois do trabalho. Tudo bem?” Com a esperança de evitar a discussão, você recebe a resposta de apenas uma palavra que você deseja da sua esposa: “OK”. Nossos smartphones são uma arena onde tornamos mais difícil a capacidade de uma pessoa expressar seu ponto de vista, sua preocupação ou sua dor. A chuva de notificações de mensagens destina-se a forçar uma resposta que os outros podem não estar dispostos ou prontos para dar.

“O amor é paciente e benigno… Não procura os seus próprios interesses “, nos lembra Paulo (1Coríntios 13.4-5). Quando usamos mensagens de texto para manipular, isto é o oposto do amor. Andy Crouch nos relembra em seu livro The Tech-Wise Family [A Família Tecnologicamente Sábia] que as pessoas são “corpo e alma juntos”. Não é amoroso quando evitamos o envolvimento em carne e osso. Quando recorremos a mensagens de texto, reduzimos os outros a pessoas emocionalmente imaturas. Recusamos permitir que expressem suas emoções, pensamentos e sentimentos através da linguagem corporal, contato visual e qualidade vocal. Nos distanciamos intencionalmente de sua humanidade.

Faça uma revisão mental das mensagens de texto que você enviou na semana passada. Você está envolvendo outros em uma arena que os impede de lhe fazer mudar de opinião? As suas mensagens são escritas de forma a manipular e forçar os outros a lhe darem o que você quer? O amor não crescerá nos relacionamentos em que usamos nossos telefones para subjugar os outros.

Como Você é Tentado?

A próxima vez que você pegar seu celular, faça a si mesmo esta simples pergunta antes de disparar uma mensagem: Por quê?

Por quê estou escolhendo uma mensagem em vez de uma ligação? Esta conversa pode esperar até que possamos falar pessoalmente? Amar os outros significa primeiro crescer em nossa capacidade de discernir nossos próprios corações. Devemos reconhecer o reflexo do medo que nos encara através da tela de vidro. Temos que perceber quando estamos usando a tirania do urgente para colocar contra a parede aqueles que amamos.

Para aqueles de nós que tendem a se esconder atrás de nossos smartphones, as Escrituras dizem: “Não temas”. Ken Sande encoraja nossos corações, “O conflito [é] uma oportunidade de glorificar a Deus, servir outras pessoas e crescer à semelhança de Cristo”. Na próxima vez que você se sentir tentado a resolver um conflito, confrontar alguém ou confessar algo através de mensagens, não tenha medo. Faça uma ligação. Ou melhor ainda, agende um tempo para se encontrar com esta pessoa.

Para aqueles de nós que somos tentados a usar nossos smartphones como armas, as Escrituras dizem: “Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo.” (Filipenses 2.3). Esta é a mente do próprio Jesus Cristo, que estava disposto a dedicar-se a conversas reais: com a mulher no poço, com Marta e Maria, com Nicodemos, com Pedro e tantos outros.

Aprendemos com o nosso Salvador que a comunicação não é uma ferramenta para obter o que queremos dos outros, mas um meio para amar e servir as pessoas — ter comunhão com elas — em corpo e alma.

Publicado originalmente em DesiringGod.org.

Traduzido por Bruno Nunes

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