Mesmo após as duas doses da vacina contra a Covid-19, o ator Tarcísio Meira, de 85 anos, contraiu a doença e acabou não resistindo. Ele morreu nesta quinta-feira (12). Mas o que explica a infecção com risco de óbito mesmo após a imunização completa?
Especialistas esclarecem que em até 97% das pessoas as vacinas são capazes de impedir que o novo vírus cause a enfermidade de forma mais grave, mas não elimina todas as chances de contrair a doença. Eles reforçam ainda que a vacinação é essencial para salvar vidas.
O nível do risco de contágio e o agravamento da infecção é maior ou menor de acordo com alguns fatores como idade, comorbidades e imunidade no momento da exposição ao vírus. Por isso que, além da vacinação, outros cuidados continuam importantes, como afastamento social, higienização das mãos e uso de máscara.
A chegada de novas variantes do novo coronavírus, como a Delta – que tem se espalhado pelo país e já está em transmissão comunitária no Espírito Santo e outras Estados, como Rio de Janeiro de São Paulo – também pode comprometer a resposta imunológica das vacinas em determinados pacientes, o que obriga um zelo ainda maior da população no combate ao vírus.
Eles tomaram a segunda dose da vacina na Cidade de Porto Feliz, no interior de São Paulo, em março deste ano. A marca do imunizante não foi divulgada.
Os dois foram internados na última sexta-feira (6), no Hospital Albert Einstein, na capital paulista, após sintomas gripais. Tarcísio Meira acabou precisando de intubação. Glória, que foi diagnosticada junto com o marido, apresentou o quadro leve, e deve ter alta do hospital em breve, segundo a assessoria de imprensa do casal de artistas.
Até o início da semana, Tarcísio estava evoluindo bem e a equipe médica estava esperançosa. Ele precisou ser intubado “para melhor conforto do tratamento, conforme comunicados médicos divulgados anteriormente.
O professor-doutor em Imunologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Daniel Gomes, explica que a contaminação dos atores, mesmo após o esquema vacinal completo, ocorreu porque a vacina da Covid-19 impede apenas a piora clínica do paciente na maioria dos casos e não a infecção em si.
Em pacientes com idade avançada, cardiopatias ou com outras comorbidades, a imunização nem sempre impede o avanço da infecção na forma que aconteceu com o ator.
Tarcísio Meira, ator
“As vacinas são basicamente produzidas de duas formas. Existem aquelas que têm capacidade de prevenir infecções, enquanto outras vão atuar na prevenção de uma piora clínica, que é o caso dos imunizantes contra a Covid-19. Ou seja, uma pessoa vacinada, pode ser contaminada e também transmitir a doença a outros indivíduos”, pontua.
Gomes também destaca que a resposta imunológica do organismo após receber as duas doses do imunizante vai variar de paciente para paciente. O especialista ainda faz outras ponderações:
Daniel Gomes
Professor Doutor em Imunologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes)
“Pacientes que pertencem ao grupo de risco são mais suscetíveis à doença e, consequentemente, a uma piora clínica. Por isso que, mesmo vacinados, os protocolos de distanciamento social, higienização das mãos e uso de máscara devem ser mantidos”
Em entrevista ao Portal UOL, a doutora em Microbiolgia e presidente do Instituto Questão de Ciência, explicou que a vacina não é mágica. Ela faz uma analogia ao futebol, comparando um bom imunizante a um bom goleiro.
Segundo ela, é avaliado se um jogador é bom a partir do seu histórico em campo. Mas se esse goleiro atua em um time fraco, com algum problema em sua defesa, nem sempre o goleiro consegue impedir um gol.
Natália Pasternak
Doutora em Microbiologia em entrevista ao UOL
“Uma boa vacina é como se fosse um bom goleiro. E como sabemos que o goleiro é bom? Vamos olhar o histórico dele. A frequência com a qual ele faz defesas. Se ele defende com frequência, ele é um bom goleiro. Isso não quer dizer que ele é invicto, que ele nunca vai tomar gol. Mas, mesmo se tomar gol, ele não deixa de ser um bom goleiro”
A mesma coisa ocorre com o vírus que entra em contato com um organismo doente e com falha em seu sistema imunológico. Mesmo que o paciente tenha tomado a melhor vacina, muitas vezes, o agente causador é capaz de driblar essa eficiência, causando a doença.
Natália Pasternak
Doutora em Microbiologia em entrevista ao UOL
“A vacina diminui o seu risco de ficar doente, agora se você estiver numa área onde a defesa do time é ruim, onde o vírus está circulando muito, a chance de você ficar doente aumenta”
É FUNDAMENTAL PROTEGER OS IDOSOS, AFIRMA ESPECIALISTA
Segundo a professora-doutora em Epidemiologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e enfermeira, Ethel Maciel, em função da baixa cobertura vacinal no país, em que apenas 21,49% da população está totalmente imunizada (com as duas doses ou com vacina de dose única), é fundamental proteger os idosos, que têm um sistema imunológico mais frágil.
“Mesmo as pessoas vacinadas devem contribuir para o controle da doença e seguir as medidas de prevenção. Aquelas que convivem com idosos, mais ainda. Há estudos que indicam a aplicação de uma dose de reforço nesse público, que têm uma resposta à doença, mesmo após completar o esquema vacinal, mais baixa. Israel já começou a fazer isso, o que não é uma realidade para o Brasil. Aqui, cerca de 80% da população tomou apenas uma dose ou nenhuma”, explica Ethel.
A epidemiologista lembra que os cuidados são básicos. “O cenário ainda é de pandemia, embora haja redução das infecções atualmente, ainda há muitos casos da doença confirmados diariamente. Precisamos seguir com as medidas de controle e de forma rigorosa, usando máscaras mais filtrantes, evitando aglomerações, higienizando as mãos e completando o esquema vacinal contra a Covid-19. A vacina é uma ferramenta contra a pandemia eficiente, e que deve ser combinada com os demais cuidados”, destaca.
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