RIO — O médico colombiano Brad Alberto Castrillon SanMiguel prestou depoimento, por seis horas, na noite desta segunda-feira, na 27ª DP (Vicente de Carvalho) e no fim do interrogatório teve seu passaporte apreendido pelo delegado Renato Carvalho. O médico é investigado pela morte da diarista Maria Jandimar Rodrigues, de 39 anos, após o procedimento estético de hidrolipo feito por ele e pouco depois foi encontrada morta num estacionamento do centro comercial onde foi feito o atendimento, na última sexta-feira (17). Acompanhado de um advogado, SanMiguel alegou ter prestado socorro por 30 minutos ininterruptos à paciente e disse que isso teria acontecido do lado de fora da clínica.
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Ele também teria apresentado nomes de testemunhas que presenciaram o fato e apontado, inclusive, que uma equipe do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) teria estado no local. Responsável pela investigação do caso, o delegado vai examinar imagens de câmeras de segurança do centro comercial, em Vicente de Carvalho, onde era localizada a clínica de Brad Alberto, para checar se a versão apresentada pelo médico é verdadeira ou não. Apesar de um laudo cadavérico preliminar não ter apontado a causa da morte da diarista, a polícia trabalha com uma estimativa de que o caso seja concluído entre sete a dez dias. Durante este período poderá ficar pronto o exame complementar (análise das vísceras da vítima), que deverá ajudar os peritos a determinar o que levou Maria Jandimar à morte.
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Durante a segunda-feira, foram colhidos cinco depoimentos. Além de SanMiguel, foi ouvido o instrumentador que trabalhava na clínica. Também compareceram à 27ª DP Wagner Vinicius Morais de Carvalho, de 33 anos, e Brenda Rodrigues, de 21, viúvo e filha de Maria Jandimar, como testemunhas. A promoter Daiana França, uma paciente do médico que ficou com sequelas após um procedimento, também foi ouvida.
Família relata tentativa de fuga
Na última sexta-feira, Brenda chegou a gravar o socorro à Maria sem saber que a paciente era sua mãe. Às 13h de sexta-feira, dia 17, Brenda a aguardava na recepção de um prédio comercial, por volta das 13h. Maria foi a uma clínica de estética realizar a segunda sessão, de três, de hidrolipo. Enquanto esperava no térreo do prédio a autorização do estabelecimento para subir à sala onde era feito o procedimento, a recepcionista que a atendia percebeu que uma mulher estava caída na entrada no centro comercial: a vítima era loira e estava de roupão. Por estar longe, Brenda não conseguiu reconhecer que na verdade ali estava sua mãe.
— Foi ali que desabei. Um homem passou por mim e eu perguntei se ele era o médico. Mas ele respondeu que não, que na verdade era um funcionário do prédio. Mas era o médico. Depois, quando eu o confrontei, ele não falou mais nada. Meu mundo acabou ali. Eu com 21, anos, filha única. É chorar, pedir força a Deus e pedir por Justiça — diz.
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Brenda narra que após o óbito ocorrer, uma recepcionista da clínica desceu e pediu para a acompanhar. Mas, em vez de subir para a sala onde, em tese Maria estava, ela foi levada para os fundos do prédio e informada que o médico a encontraria. A jovem ainda conta que o médico e o anestesista estavam carregando uma espécie de mala.
— Já tinha um táxi ali parado para ele ir embora — desabafa a filha.
Segundo Wagner, campanheiro de Maria por seis anos, após ver a paciente passar mal o médico responsável pelo procedimento tentou fugir.
— Ele juntou todo o material e se preparou para sair. Disse para as pessoas que ia descer para buscar socorro, mas chamou um táxi para ir embora. Foi um segurança do shopping que segurou ele e chamou a polícia — afirmou.
O corpo de Maria Jandimar Rodrigues foi enterrado neste domingo, no Cemitério de Inhaúma.
Por meio de nota, o advogado Hugo Novais, da defesa de SanMiguel, afirma que o médico “adotou corretamente todos os previstos na literatura médica, e quando se deparou com a intercorrência, buscou imediato socorro em uma emergência próxima, o que não foi possível em virtude do falecimento da paciente. Importante ressaltar que não existiu omissão de socorro, muito menos tentativa de fuga”. O comunicado ainda afirma que ele está à disposição das autoridades e que se solidariza com a família da paciente morta.
Paciente relata sequelas
Nesta segunda-feira, outras três pessoas foram ouvidas pela polícia sobre o caso. Entre elas está a promoter Daiana França. Com sequelas, como dificuldades para andar e uma incisão ainda aberta, decorrentes de uma infecção generalizada, Daiana contou que tudo começou após se submeter a um procedimento com Brad no início do mês passado. Ela ficou 23 dias internada, 16 deles num CTI.
— Fiz o procedimento no dia 4 de novembro. Com certeza, poderia ter acontecido comigo o mesmo que aconteceu com a Maria, porque eu fui desenganada. A cada dia (que passava) não sabia se iria viver ou morrer. Tive infecção generalizada. No hospital (onde foi atendida), foi comentado que o material utilizado no procedimento estético não estava esterilizado de forma correta — contou Daiana na porta da delegacia, nesta segunda-feira. — Espero que ele pague pelo que fez. A Maria não teve a mesma sorte que eu tive (de sobreviver). Ainda não estou recuperada, não estou cem por cento — concluiu.