quinta-feira, maio 2Notícias Importantes
Shadow

Pix é só o começo: saiba quais mudanças irão acontecer a partir do open banking

RIO —  Você paga juros caros pelo financiamento da casa própria? Arca todo mês com tarifas altas do cartão de crédito? Está insatisfeito com o serviço do seu banco, mas não tem paciência de pedir a portabilidade? Tudo isso pode mudar com a implementação do Open Banking.

O Banco Central (BC) está dando a largada para uma transformação que pretende mudar o sistema financeiro, tirando o poder dos bancos e colocando na mão dos clientes. O objetivo é combater a burocratização e os altos custos, fomentando a competitividade entre as instituições. Para tirar melhor proveito, o consumidor deve entender o que irá acontecer.

O primeiro passo para toda a mudança é o Pix, novo sistema de pagamentos que começa a funcionar em 16 de novembro. Por meio dele, pessoas físicas poderão fazer transferências para contas de outros bancos, de forma gratuita e praticamente instantânea, 24 horas por dia e sete dias por semana. Já no dia 30 do mesmo mês, será implementada a primeira das quatro fases do Open Banking.

Luiz Fabbrine, líder de finanças da consultoria Bip, explica que, primeiro, será feito o compartilhamento de dados das próprias instituições; depois, dos dados cadastrais dos clientes, mediante autorização; e por fim, de posse desse histórico, as instituições vão poder conceder melhores ofertas.

— Será parecido com um marketplace, mas com produtos financeiros alinhados a cada perfil. Hoje, 90% das operações de crédito são feitas pelos cinco principais bancos. O novo cenário vai possibilitar que bancos pequenos e fintechs tenham maior competitividade — explica.

Segundo o BC, o consumidor ganhará autonomia na gestão de seus recursos e a oferta dos serviços será mais ágil segura e totalmente digital. Para Raul Moreira, diretor executivo de Open Banking do Banco Original, a novidade fará do Brasil um dos países mais modernos do mundo, com sistema financeiro à frente até dos Estados Unidos:

— O Pix é a ponta do iceberg. Com o Open Banking o consumidor só terá conta num grande banco se estiver satisfeito. Porque tudo será compartilhado e ele poderá fazer tudo em um banco digital ou uma fintech. Acredito que no primeiro semestre de 2021 devemos ter um novo mercado.

Leia mais:

Controle unificado

Quem tem conta em mais de um banco não vai mais precisar ter tantos aplicativos instalados no celular. Dentre as novidades, está a possibilidade das instituições se transformarem em agregadores. Isto é, se um cliente tem mais afinidade com a plataforma de um banco, poderá escolher movimentar a partir dela o dinheiro depositado em outros bancos ou corretoras.

— Quem oferta esse serviço passa a ter acesso a mais dados do cliente, conseguindo customizar as ofertas para as necessidades dele. Em um banco europeu, por exemplo, se o cliente compra uma passagem internacional, mesmo que com o cartão de crédito de outra instituição, o agregador pode oferecer serviços adicionais, como um seguro viagem — conta Fabbrine.

Até mesmo empresas de outros ramos, como varejo, telecomunicações, energia e consumo vão poder assumir esse papel. O aplicativo de organização de finanças Guia Bolso, por exemplo, que já concentra informações de vários bancos, poderá ser usado para fazer as próprias movimentações: sejam pagamentos, transferências, ou até empréstimos.

— O cliente ganha uma plataforma para integrar seus dados e gerenciar melhor seus gastos, além do acesso a produtos selecionados de acordo com o seu perfil, e o Guiabolso ganha por ter maior visibilidade sobre sua vida financeira — diz Thiago Alvarez, CEO do Guiabolso.

Maxnaun Gutierrez, chefe da área de produtos de pessoa física do C6 Bank, acredita que a medida irá possibilitar maior autonomia para controlar suas finanças.

— Hoje, os bancos conseguem saber histórico de crédito ao acessarem Banco Central, mas as instituições financeiras de pagamentos, como o app de pagamento de combustíveis Abastece aí, não conseguem ter esse histórico. Com esse novo sistema, elas também terão acesso. Então, é natural que as empresas queiram prestar esse serviço ao consumidor — opina Gutierrez. — Por meio de parcerias, qualquer empresa poderá virar um meio de pagamento. A Tim, por exemplo, através da C6, poderá aceitar pagamentos. Com a maior competição, a redução de tarifas já deve aparecer a partir de maio de 2021.

População fora dos bancos

A população não bancarizada, ou sub-bancarizada, é a que terá o maior impacto com o Pix e com o Open Banking. Thiago Alvarez, fundador do Guiabolso, diz que quem já está no sistema terá uma redução de tarifas, mas quem quase não usa vai ter incentivo a usar os serviços e produtos financeiros.

— Essa revolução está acontecendo em um momento em que mais de 24 milhões de pessoas entraram para o sistema financeiro com o auxílio emergencial. Em dez anos, o sistema financeiro será diferente do que temos hoje — avalia.

Para advogado João Fernando Nascimento, do CSMV Advogados, os varejistas poderão estreitar ainda mais laços com esses consumidores:

— A classe mais baixa, não tem acesso a serviços financeiros, mas tem crediário para financiar o eletrodoméstico. Quem presta esse serviço é o varejista. Ele entende esse público e, por isso, vai fortalecer ainda mais essa relação, oferecendo outros produtos de crédito que ele necessitar.

Maxnaun Gutierrez, do C6 Bank, acrescenta que, com a abertura da informação que estava disponível apenas para os birôs, será possível baixar o custo do crédito para as pessoas de baixa renda em outras instituições.

Crédito competitivo

O empréstimo no Brasil é muito caro. Grande parte do problema é que é difícil avaliar o risco de crédito corretamente. O banco tem a vantagem de ter todas as informações sobre o cliente e poder analisar. No entanto, já que os demais concorrentes não têm a mesma informação, eles podem cobrar alto. Com o Open Banking, o consumidor poderá escolher que essas informações sejam públicas, dando a oportunidade a todas as instituições de crédito de poderem avaliar.

— Temos os maiores custos de crédito do mundo. E os mais penalizados são os que pouco usam o sistema financeiro e pequenos empreendedores , sempre preteridos pelos grandes bancos — afirma Rafael Pereira, presidente da Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD).

Não será mais necessário abrir conta em uma instituição para receber o crédito. O credor poderá depositar o dinheiro em qualquer conta. Assim, a avaliação de crédito será mais rápida e mais focada no cliente, que poderá facilmente comparar taxas .

— Poderemos ver em breve grandes plataformas oferecendo condições diferentes — diz Manoel Alexandre Bueno e Silva, do laboratório de inovação da consultoria Capco.

Ameaça aos bancos tradicionais?

Com os novos sistemas em operação, os grandes bancos perderão o oligopólio da informação e da compensação de depósitos e pagamentos. Mas parecem estar se preparando para isso. Em nota, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirmou que o Pix e o Open Banking serão duas ferramentas com papel importante no aumento da concorrência bancária no país.

Segundo a instituição, o Pix não impactará tanto nas tarifas porque hoje 62% das contas transacionais já são isentas dessa cobrança por regulação do BC, e outras pelo relacionamento do cliente com o banco. A Febraban ainda ressaltou que o Open Banking também pode gerar maior eficiência para os bancos, os quais terão maior flexibilidade e velocidade no lançamento de novos produto, além de maior conhecimento sobre os perfis de seus clientes.

— Os bancos tradicionais vão reagir. Até porque, com a portabilidade total entrando em vigor, passar tudo para outro banco será fácil. Eles estão se preparando. E, agora, quem tem os melhores modelos digitais vai poder se destacar — diz Raul Moreira.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

× Como posso te ajudar?