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Permissão de abertura do comércio 24h divide opiniões no setor e especialistas temem novos ‘ambientes de risco’ – Jornal O Globo

RIO – O anúncio sobre a autorização do funcionamento de centros comerciais em tempo integral dividiu opiniões entre os representantes do setor. Se por um lado a associação que representa shoppings centers considera a abertura 24 horas viável, a entidade de classe dos comerciários entendem que os riscos da Covid-19 são incompatíveis com essa medida, e a operação ininterrupta do comércio pode “jogar os trabalhadores na boca do leão”.

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O posicionamento assertivo é do Sindicato dos Comérciários do Rio de Janeiro. Em nota assinada por seu presidente, Márcio Ayer, a entidade classifica o anúncio feito pelo prefeito Marcelo Crivella e o governador Claudio Castro como “estarrecedor”.  

“É no mínimo estarrecedora a abertura de shoppings e centros comerciais por 24 horas no fim de ano, como anunciado pela Prefeitura do Rio, em conjunto com o Governo do Estado. Os casos de pessoas contaminadas com coronavírus cresce, assim como o número de leitos ocupados nos hospitais públicos e privados. Abrir o comércio por 24 horas é jogar os trabalhadores na boca do leão. Em nada vai contribuir para impedir a proliferação do vírus”, diz a nota.

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O sindicato considera que município e estado estão se rendendo ao negacionismo do governo federal e lembra os mais de 175 mil mortos pela pandemia em todo o país. A decisão, diz o texto, segue na contramão das recomendações de autoridades sanitárias. A entidade lembra, ainda, que a falta de transporte público e segurança pode afetar os trabalhadores do comércio.

“Cada vítima da Covid ficará sob a responsabilidade desses que estão à frente desses governos. Infelizmente, muitas famílias vão chorar neste fim de ano por conta desta decisão. Por isso, nosso Sindicato não concorda com essa abertura indiscriminada e fará de tudo para defender os direitos dos trabalhadores, com as garantias contidas em nossa convenção coletiva, que regulamenta a jornada de trabalho, o pagamento de hora extra e demais benefícios”, conclui a nota.

Estudiosos temem risco

Especialistas reiteram que não é momento de ampliar as flexibilizações quando os números da pandemia voltam a crescer no Rio e apontam para a tendência de os shoppings se tornarem ambientes de maior risco se ficarem abertos 24 horas por dia.

A pneumologista Margareth Dalcomo teceu duras críticas à decisão do estado e do município do Rio. Ela acredita que ampliar o funcionamento dos centros comerciais não garante que o fluxo de pessoas será diluído e atenta para o tempo reduzido para a desinfecção adequada dos espaços.

— É uma medida artificial quanto à eficácia e equívoca quanto à preservação. Afinal, quem vai limpar esses espaços 24 horas por dia? — questionou a médica.

A medida também preocupa Margareth Portela, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz. Para a especialista, o anúncio do prefeito e do governador em exercício transmite uma mensagem errada de normalidade, quando, na verdade, os hospitais estão lotados.

— A gente está com todos os alertas vermelhos de ocupação hospitalar. Pacientes estão aguardando em filas de UTI. Não é hora de aumentar a circulação. Muito pelo contrário, as pessoas deveriam ser incentivadas a ficar em casa — acredita.

Para Margareth Portela, a situação da pandemia é grave e exige que a população repense hábitos e tradições.

— Não teremos um Natal como os outros, e a população tem que se conscientizar disso. A vida ainda não voltou ao normal — afirma.

Para shoppings, as normas estão sendo cumpridas

A Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce), por sua vez, considera a abertura dos centros comerciais viável do ponto de vista sanitário. A entidade afirma que os protocolos estão sendo devidamente cumpridos por seus associados e atribui o aumento no número de casos a outros setores.

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“A Abrasce informa que os shoppings centers atuam em cumprimento a decretos municipais e estaduais, respeitando os períodos de funcionamento, bem como a capacidade máxima de pessoas. A entidade reforça que segue rígidos protocolos sanitários desenvolvidos e aplicados em parceria com a área de consultoria do Sírio-Libanês pelos shoppings do país. A alta no número de internações por Covid-19 foi impulsionada nas últimas semanas por outros setores que não investiram na criação e manutenção de protocolos de segurança, prejudicando todo o mercado e com impacto na manutenção de empregos e alavancagem da economia. Os shoppings do Rio de Janeiro seguirão em diálogo com as lojas para a melhor forma de atender a população, colaboradores e lojistas”, diz a nota da entidade.

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