sábado, maio 18Notícias Importantes
Shadow

Perfil: Após fracasso em 2018, Boulos se ‘profissionaliza’ nas redes para furar bolha da esquerda – Jornal O Globo

SÃO PAULO – Numa manhã de janeiro de 2019, dias depois da posse de Jair Bolsonaro, Guilherme Boulos se reuniu com a direção do PSOL e aliados do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) para reavaliar a sua estratégia de atuação política. Sentados à mesa da pequena sala de reuniões do escritório da empresa de comunicação que o havia assessorado na campanha presidencial, tentavam encontrar uma forma de reverter o mau desempenho que havia ficado como saldo da disputa eleitoral do ano anterior. Boulos ficou em décimo lugar, com 677 mil votos, o pior resultado de um candidato do PSOL na história.

São Paulo:  Faça o teste e saiba com qual candidato você mais se identifica

Horas de discussão depois, concluíram que era preciso jogar no campo de batalha do inimigo. A partir dali, o líder do movimento dos sem teto se empenharia para tentar virar o anti-Bolsonaro das redes sociais.

Nos meses seguintes, Boulos passou a rebater sistematicamente as principais falas do presidente. A tática rendeu frutos. O político do PSOL tem mais seguidores do que Ciro Gomes (PDT) no Twitter e se aproxima de Fernando Haddad (PT) no Instagram. A musculatura virtual — passou de 250 mil seguidores no Twitter no final da eleição de 2018 para 1,1 milhão hoje — o ajudou na arrancada à corrida pela prefeitura.

As pesquisas mostram que o melhor desempenho do candidato do PSOL é justamente entre os eleitores mais jovens, de 16 a 24 anos, faixa em que chegou a superar os principais adversários — no plano geral, ele disputa com Celso Russomanno (Republicanos) e Márcio França (PSB) uma vaga no segundo turno contra Bruno Covas.

Leia mais: Em entrevista a Gabeira, pneumologista Margareth Dalcolmo diz que ‘a discussão sobre não vacinar é absurda e ignorante’

O frisson da internet, no entanto, está longe de ter o mesmo impacto nas ruas. Na tarde da última terça-feira, o líder sem-teto, acompanhado apenas de um assessor de imprensa, um segurança e um motorista, passou quase despercebido ao cruzar um calçadão de comércio popular no centro da cidade. No local, Boulos faria o “Se vira nos 50”, uma invenção da campanha que dá ao candidato 50 segundos para responder a perguntas de pessoas que passam pela rua. Mas poucos pararam para ouvi-lo falar. Saiu depois de 30 minutos e, novamente, caminhou apressado por 600 metros até o estacionamento onde o seu Celta estava estacionado.

O veículo, seu único patrimônio declarado à Justiça Eleitoral, virou personagem e ganhou até jingle. Tudo dentro da estratégia de tentar consolidar no eleitor a imagem de que o candidato é um homem de hábitos simples, diferente de políticos tradicionais.

Cola eleitoral: Preencha com os dados de seus candidatos e tenha os números com você

Formado em Filosofia e professor do Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa, Boulos tem 38 anos e mora há sete no Campo Limpo, periferia da cidade. O estilo do filho de médicos bem-sucedidos que na juventude trocou uma cobertura da Zona Oeste de São Paulo por uma invasão do MTST conquistou setores da classe média progressista, mas não é assimilado na periferia, justamente o público a quem seu discurso se destina. Integrantes da campanha reconhecem que a negação da vida confortável provoca curto-circuito na cabeça de parte desses eleitores.

A origem no movimento sem-teto é o berço político do candidato, mas trouxe também uma série de dores de cabeça. Boulos é réu por dano ao patrimônio público num processo sobre manifestações ocorridas na época da desocupação de uma área em São José dos Campos, em 2013. Ele chegou a ser detido e agredido por agentes de segurança.

Guia da eleição: confira o que levar, horário, local de votação e os cuidados com o coronavírus

Jingle imita o de Lula

Com a necessidade de expandir o seu eleitorado para se garantir no segundo turno, houve uma tentativa de recalibrar um pouco na reta final o caráter “esquerda festiva” da candidatura. Parcela considerável de seus aliados queria que Boulos mudasse até o figurino, adotando o blazer pelo menos nos debates. Ele resistiu.

Apesar de sua proximidade com Lula e da boa convivência com o PT ao longo da maior parte da disputa, Boulos não esconde que o seu projeto é diferente. As ligações com o ex-presidente hoje aparecem mais nos detalhes.

Depois que entrou na política, em 2018, o líder sem-teto, que usava apenas cavanhaque, deixou crescer a barba. O slogan que acompanhou Lula na campanha que o levou ao Planalto também foi adaptado para esta eleição municipal. “A esperança vai vencer o medo” de 2002 virou “A esperança vai vencer o ódio”.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

× Como posso te ajudar?