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Paula Toller faz aniversário neste domingo e fala sobre beleza aos 58 anos

Hoje é 23 e, como diz a canção de Paula Toller e George Israel, “são oito dias para o fim do mês”, e a cantora completa inacreditáveis 58 anos. A ninfeta newwave que embalou os anos 1980 e 1990 com músicas de atitude sensual — “fazer amor de madrugada” —, letras feministas de toque juvenil — “garotos fazem tudo igual e quase nunca chegam ao fim” — e hits românticos — “um dia um caminhão atropelou a paixão” — atravessou impávida as décadas sem sucumbir a críticas e cancelamentos.

A voz e a figura de Paula reverberaram em 1984, quando a banda Kid Abelha e Os Abóboras Selvagens, do qual ela era líder e cantora, lançou seu primeiro álbum. O rock brasileiro fervia, mas mulheres eram exceção. A menina tímida nascida em Copacabana e criada pelos avós na Tijuca começou a cantar para acompanhar “aquela coisa de turma”.

Quando estourou, enfileirando sucessos radiofônicos, foi tachada de desafinada, mas seguiu em frente. Alheia a rótulos, conquistou, ao longo dos anos, apurada técnica. “A voz de Paula não quebra cristal, ela o faz flutuar de tão delicada e afinada”, define a rainha do rock brasileiro, Rita Lee.

Camisa Divina Criação e anéis Sara Joias Foto: Pedro Loreto

O temperamento reservado da cantora, porém, não a deixou imune aos novos tempos. Nas raras vezes em que posta nas redes sociais fotos em momentos informais, como, por exemplo, na praia, ou faz uma live, seu nome sobe com a rapidez de um foguete para os trending topics do Twitter, e sua imagem dá vazão a uma série de memes.

O motivo principal é o espanto diante de sua aparência eternamente jovem. “Eles têm razão, sou vampira e durmo no formol”, brinca Paula. “As pessoas querem um creminho, uma explicação, ? Mas a verdade é que sou disciplinada. Malho todos os dias, corro, faço pilates, jogo tênis, pulo corda, pratico musculação. É um sacrifício”, admite.

Paula usa blazer amarrado na cintura e calça, ambos A.Brand, pulseira HStern e sandálias Maria Filó Foto: Pedro Loreto
Paula usa blazer amarrado na cintura e calça, ambos A.Brand, pulseira HStern e sandálias Maria Filó Foto: Pedro Loreto

Ela também deixou na esteira do passado relacionamentos turbulentos, como os que teve com o compositor Leoni, que foi seu companheiro de banda, e o paralamas Herbert Vianna. Casada há 32 anos com o cineasta Lui Farias e mãe de Gabriel, de 30, Paula se separou do Kid em 2016 e segue carreira solo, resguardando sua privacidade em tempos de exposição máxima. “Basta ler as letras que escrevo para entrar na minha intimidade”, justifica. Com a agenda de shows interrompida pela pandemia, seguiu sendo abastecida pela música. “Era a única da família que não tocava nenhum instrumento, acredita? O guitarrista que me acompanha, Gustavo Camardella, começou a dar aulas de violão on-line. Perguntei se ele aceitava uma aluna tardia e começamos em março. Já estou tocando alguma coisa”, diz ela, dando uma palinha de “Amanhã é 23” durante a entrevista feita por videochamada.

O temperamento reservado da cantora, porém, não a deixou imune aos novos tempos. Nas raras vezes em que posta nas redes sociais fotos em momentos informais, como, por exemplo, na praia, ou faz uma live, seu nome sobe com a rapidez de um foguete para os trending topics do Twitter, e sua imagem dá vazão a uma série de memes. O motivo principal é o espanto diante de sua aparência eternamente jovem. “Eles têm razão, sou vampira e durmo no formol”, brinca Paula. “As pessoas querem um creminho, uma explicação, ? Mas a verdade é que sou disciplinada. Malho todos os dias, corro, faço pilates, jogo tênis, pulo corda, pratico musculação. É um sacrifício”, admite. Na quarentena, por exemplo, treinou no prédio, subindo e descendo escada, alternadamente, por 40 minutos. “Botox eu já apliquei, mas falava sempre: ‘Não me deixa com a sobrancelha de diabinho’. Até que um dia resolvi deixar para lá. Nunca fiz plástica e esqueço de passar creme no rosto”, continua ela, que também dá crédito à genética. “Meu pai aparentava ser mais jovem”, lembra sobre o Seu Luis Paulo. “Estou bem comigo mesma e sei que não sou mais uma menina. Existe um equilíbrio entre o que se faz para se manter bem, adiando a decadência, e a necessidade de evitar que isso vire uma paranoia”.

A tomada de consciência da ação implacável do tempo se deu em 2009, aos 47 anos. Numa consulta dermatológica, o médico, que a acompanhava desde os anos 1980, desconfiou de sua magreza excessiva e solicitou alguns exames. Paula, que se orgulhava de não pegar nem gripe e se tratava com homeopatia unicista, descobriu ter diabetes do tipo 1. “Foi um baque”, reconhece. “Em seguida, tive hipotireoidismo e veio a menopausa, que é como se acabasse a nossa ‘validade’”.

A partir de então, ela cortou o açúcar, passou a ser ainda mais regrada com a alimentação, descartando alimentos processados, e o exercício, que já se fazia presente, virou religião. “Tenho a sensação de ser mais saudável hoje”, diz a cantora, adepta da contagem de carboidratos. “Isso me dá a possibilidade de comer um docinho e tomar uma taça de espumante, e tomo um pouquinho mais de insulina”, comenta Paula, que tem um borbulhante com seu nome, o LaToller Brut. “Mas não estou recomendando nada. Quando me questionam algo, respondo: ‘Pergunta para o seu médico’”.

Se memes elogiosos são o lado divertido da internet, Paula também já sentiu na pele o efeito reverso. Em 2018, processou o PT, Fernando Haddad e Leoni, que divide com ela a autoria de “Pintura íntima”, pelo uso da música na campanha presidencial sem a sua autorização. Volta e meia, o fato é lembrado e Paula, “cancelada” por parte da esquerda. Apesar de não falar sobre o processo, ela discorre sobre a cultura do cancelamento. “Tenho bastante tempo de estrada, e meus fãs conhecem as minhas atitudes”, diz a cantora, que usa as redes sociais com parcimônia. “Não sou youtuber nem influencer, não quero ficar dando minha opinião sobre tudo nem chamar quem me acompanha de seguidor, parece coisa de seita. Não invado a privacidade dos outros com a minha”, frisa. “Até mesmo sobre o significado das letras, gosto de deixar lacunas. Certa vez, um crítico musical disse achar que ‘Nada tanto assim’ era sobre masturbação. A pessoa viaja, e isso que é legal.”

Sobre a situação da cultura no Brasil, vai direto ao ponto: “A música sempre foi a arte mais exportada do Brasil. Eu tenho autógrafos de Tom Jobim, Jorge Benjor, Rita Lee, que são os meus gurus”, observa. “Os governos, em geral, não dão à cultura a importância de que deveriam. Fui criada na iniciativa privada, sempre banquei todos os meus shows, no lucro e no prejuízo, mas é claro que existem mil coisas que necessitam de investimento”, analisa. “Mas não vou ficar falando sobre política partidária. Hoje em dia tudo é politizado, é massacrante.”

Se a quarentena teve um bálsamo, a apropriação do violão, o período também foi marcado por uma montanha-russa de emoções. “Fiquei muito ansiosa, tive insônia. Começava a sentir calafrios, tossia e já pensava ter contraído Covid-19”, confessa. A sorte no meio do caos foi o fato de o filho, o produtor Gabriel (homenageado pela mãe em “Oito anos”, aquela que diz, “well, well, well Gabriel”), estar no Rio, depois de ter vivido no exterior por dez anos, em processo de mudança de apartamento na cidade. “Ele veio passar quatro dias na minha casa e continua aqui até hoje”, conta. “No começo, estava mais estressado do que eu. A gente, além de se ajudar nas tarefas domésticas, se apoiou; o Lui ficou responsável pelo entretenimento, até comprou uma mesa de pingue-pongue.”

O casamento longevo, diz Paula, foi submetido a maior de suas provas durante a quarentena. “Quatro meses em casa direto, ? Mas passamos com nota mil”, comemora. “Nós gostamos da companhia um do outro. Lui já foi meu parceiro musical e eu dou pitacos nos seus roteiros. A canção ‘Tímidos românticos’ diz bem como somos. A gente se admira e tudo rola bem”, declara a cantora, que se recorda da festa de réveillon em que a paquera começou: “Já o conhecia, mas naquela noite, pensei: ‘Ih, casei’. Foi uma coisa meio de bruxaria.” Lui retribui à altura: “Já são 32 anos de casamento e de aprendizado do que é viver ao lado de uma mulher que sabe liderar homens, com a inteligência e o talento de não deixar que eles percebam”, afirma o cineasta. “Se Paula fosse uma deusa grega, seria uma mistura de Afrodite com Atena e Hera. Beleza, amor, sexo, sabedoria, guerra, monogamia e casamento numa única divindade.”

O espaço conquistado no rock brasileiro dos anos 1980, em que os homens predominavam, escancara o espírito desbravador e de liderança, citado pelo marido. “O meu modelo era a Rita Lee, que tinha essa coisa mais moleque”, conta ela, que chegou a cursar Desenho Industrial e Comunicação Visual na PUC-Rio. O cenário machista não foi empecilho. “Na minha adolescência, já tinha tido a segunda onda de feminismo, fui criada para ser independente. Porém, nem todos os homens, inclusive os legais, tinham a noção de que 100% das mulheres haviam sido assediadas em algum grau”, analisa. “Somos cúmplices de uma geração do rock. Num ambiente quase exclusivamente masculino, ela tem seu lugar para sempre no panteão. Paula é uma das maiores letristas do Brasil”, aplaude o músico Dado Villa-Lobos. “Paula descobriu sua verdadeira vocação muito cedo. Seus timbre, carisma, beleza e escolhas criteriosas fazem tudo ficar maravilhoso”, completa o produtor musical Liminha.

Ela sonha agora com o retorno aos palcos. “É onde me sinto jovem, garota mesmo”, constata. “Quero seguir com os shows e registrá-los”, diz, traçando planos para quando a pandemia der trégua. “A Humanidade inteira vai querer celebrar. Estamos passando por uma coisa inominável, uma guerra”, analisa a cantora, que compôs neste período, com George Israel, a música “Eu amo brilhar”.

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