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O que muda daqui pra frente, após o pico da pandemia?

Ninguém vai escapar dos efeitos provocados pelo novo coronavírus. A tendência é que ocorram mudanças drásticas na vida de todas as pessoas

Por Lília Barros

O vírus que obrigou cerca de 2 bilhões de pessoas a ficarem trancadas dentro de casa e deixou um rastro de vítimas pelo mundo não poupou nem os que conseguiram escapar da contaminação. Desde que chegou, o novo coronavírus vem provocando transformações radicais na rotina e no comportamento das pessoas.

Ao que tudo indica, essas mudanças permanecerão depois que o pico da pandemia passar, quando a curva de contágio cair e chegarmos a um estágio de segurança que nos permita voltar à normalidade.

O que vai mudar no jeito de ser e de viver do brasileiro?

Mesmo tentando cumprir à risca a quarentena, ninguém ficou de fora dos efeitos pós-covid-19. Como vamos lidar daqui pra frente com os novos hábitos de relacionamento? Será que as igrejas nunca mais serão as mesmas? Qual o impacto no longo prazo para a economia global? Teremos muitos desempregados? Nossos entrevistados afirmam que o pós-novo coronavírus parou o mundo e vai exigir reconstrução e adaptação.

Mudanças para a Igreja brasileira

“Quem imaginou que, de uma hora pra outra, as igrejas teriam que mudar a forma de seus cultos dominicais?”, pergunta, de forma até meio retórica, o reverendo Bruno Almeida de Oliveira, da Igreja Presbiteriana Unida, em Vitória (ES). Ele acredita que é no útero da crise que nascem os que ousam buscar novas possibilidades de superação. E não tem dúvidas de que a pandemia fez com que a Igreja se reinventasse quebrando velhos paradigmas e avançasse no uso da tecnologia para a comunicação do Evangelho de Cristo.

“Penso que, embora a Igreja tenha que, inevitavelmente, nos dias de quarentena, deixar as reuniões presenciais, ela aprendeu a viver em comunidade de uma nova maneira, por meio dos aplicativos, das redes sociais e da web”, disse. O pastor observa que até aqueles que tinham grandes dificuldades em aderir à tecnologia tiveram de entrar no ritmo da pós-modernidade.

O pastor batista João Marcos Mury Aquino, de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, acredita que a epidemia trouxe aprendizado. “Testou a nossa confiança em Deus, mesmo tomando as precauções necessárias. Reacendeu o sentimento do que é ser Igreja. Trouxe um novo paradigma para aquela ideia de estrutura templista”, observou.

São Paulo | o Estado com o maior número de vítimas e casos de covid-19 do Brasil

Ele avalia que o retorno será uma grande surpresa. “Veremos as pessoas buscando a Deus e retornando ao culto doméstico, uma prática que perdemos ao longo do tempo por causa de outros entretenimentos. Será um novo momento para a vida da Igreja. Um retorno do que é a essência da vida cristã”, afirma, recordando a comunhão vivida pela Igreja primitiva de Atos dos Apóstolos, registrada no capítulo 2.

E a questão financeira?

Quem diria que a contribuição financeira seria por meio de transferência bancária ou depósito em conta? Algumas comunidades não inovavam pelo medo de colocar máquinas para cartão em algum local de culto, por considerarem esse ato inapropriado dentro do espaço sagrado. “A expectativa é que a Igreja aprenda que a embalagem pode mudar sem mudar o conteúdo nela”, sublinhou o pastor Bruno.

SOLIDARIEDADE | Uma imensa rede se formou no Brasil por conta da pandemia causada pelo novo coronavírus

O diretor-geral da Convenção Batista do Estado do Espírito Santo (CBB), Diego Bravim, concorda que este é um momento para as igrejas se reinventarem e aponta algumas preocupações. “O mundo e a Igreja não serão mais os mesmos após a crise. Economicamente, minha perspectiva não é positiva”, disse, referindo-se ao planejamento financeiro para aplicação de recursos nas igrejas e na obra de evangelização no Estado.

A nova igreja online

Até aquelas igrejas que não estavam acostumadas com as facilidades da tecnologia experimentaram a transmissão de cultos online para evitar aglomerações. De acordo com Diego Bravim, pelo menos 35% das igrejas batistas no Espírito Santo já se adaptaram à nova realidade diante da pandemia do coronavírus.

Em São Paulo, o pastor Ari da Costa Cabral, 79 anos, da Igreja Batista Central, em Santo André, também está transmitindo os cultos pela web. “A experiência é tremendamente importante por conta do grande alcance de pessoas. O número é bem maior do que podemos reunir no templo, mas a comunhão presencial faz muita falta. Eu sinto a falta dos irmãos na hora de adorar ao Senhor”, revela.

Ao ser questionado sobre o futuro e as possíveis mudanças depois da pandemia, ele responde: “Ainda é muito cedo para avaliar. Temos que aguardar os acontecimentos gradativamente, mas em todas as situações do mundo, sejam boas, sejam más, Deus sabe tirar proveito”.

Fonte: Entrevistados da matéria
O mundo se fecha por causa de um vírus

Durante a quarentena, o toque de recolher fechou acessos físicos: os templos transmitiram mensagens por meio de serviços de streaming, redes sociais, aplicativos e até do rádio. Canais pagos de entretenimento e plataformas para reuniões de trabalho foram liberados. Bares, shopping centers, academias, igrejas, cinemas e teatros foram fechados. Eventos públicos acabaram cancelados. Escolas e faculdades adotaram o modelo home study.

As empresas operaram em sistema de rodízio e home office, as ruas ficaram vazias, e quem precisou sair levou o álcool em gel na bolsa e uma máscara para proteger a boca e o nariz; as famílias se isolaram e era comum ver pessoas nas janelas. A população idosa, por ser o segmento mais vulnerável e com a maior taxa de fatalidade, ficou alardeada.

Falta de calor humano

Abraços, beijos e apertos de mão não são mais recomendados. Diego Bravim ressalta que é tempo de “voltar pra casa, tempo de cura e perdão e de aproximação familiar”. Agora percebemos com mais eloquência o porquê de Jesus ter tocado em tanta gente aflita e sem esperança. Eram seus toques de amor que curavam aquelas pessoas feridas e cansadas.

O contato físico é muito importante, e a recomendação bíblica continua a soar como um clarinete de esperança no meio da orquestra do individualismo, dizendo: “Não deixemos de reunir-nos como Igreja, segundo o costume de alguns, mas encorajemo-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês veem que se aproxima o Dia” (Hebreus 10:25).

Fonte: Entrevistados da matéria

“Aqueles que ‘não nasceram de novo’ esfriarão com a falta da comunhão presencial e física da Igreja. Estes nunca amaram a Jesus de verdade, simplesmente iam por ir, mas os verdadeiros discípulos de Jesus voltarão com saudade ao encontro da santa comunhão, ao culto comunitário, assim como Israel se alegrou por poder celebrar a Deus depois do cativeiro na Babilônia. Muitos vão dar valor aos cultos presenciais”, afirma Bruno.

O pastor e psicólogo Josias César Porto da Silva, de Copacabana (RJ), disse que “a tempestade vai passar e não devemos deixar feridas abertas e marcas que atrapalhem nossas vidas daqui pra frente. Cuidado com o medo destrutivo e paralisante. Confie em Deus e tenha esperança”, aconselhou.

Um vírus no bolso

Em todos os momentos de ruptura, como este que estamos vivendo, é inevitável que as pessoas fiquem preocupadas com o que vai acontecer depois. Há uma inclinação automática para tentar retomar tudo exatamente de onde estava. Com base nessa reflexão, a economista Valéria Effgen faz uma leitura das prováveis mudanças pós-pandemia.

“Na prática, se a desaceleração forçada durar um tempo maior, as pessoas aos poucos perceberão que não é necessário consumir tanto, ter tantos carros, casas, roupas, e até que nem precisam comer a quantidade que comiam”. Ela explica que as pessoas acabam se acostumando e a tendência é que busquem uma vida mais simples. “A continuidade deste movimento resultará em um ser humano mais voltado para o interior, mais fraternal e mais unido com as pessoas em vez de voltado para as coisas”, acrescentou.

Segundo a economista, essas mudanças podem causar um efeito que desconhecíamos até pouco tempo, a deflação, ou seja, uma inflação negativa. “Isso será visível e até já vemos alguns movimentos nesse sentido, como a redução no preço dos combustíveis por parte da Petrobras e diretamente nos postos de gasolina”, apontou.

Não baixe a guarda

Sobre os riscos da volta da doença em grande escala, mesmo depois de contida no Brasil, o infectologista Eduardo Toffoli Pandini, do Instituto Emílio Ribas em São Paulo (SP), foi imperativo: “Enquanto houver casos no resto do mundo, teremos que tomar cuidado com viajantes.

Uma única igreja aberta para cultos na Coreia do Sul, durante o surto do novo coronavírus, foi responsável por mais de dois mil casos da covid-19”.

O médico geriatra Eliezer Pinto Ribeiro, de Volta Redonda (RJ), afirma que os idosos devem continuar evitando contato desnecessário com as pessoas, mesmo as mais próximas, como filhos e netos. O mesmo conselho serve para pessoas fragilizadas, hipertensas, diabéticas, em tratamento para câncer ou com Aids.

A esse grupo é orientado não participar de reuniões mesmo em áreas abertas. Ainda são motivos de preocupação a aglomeração nos templos e o uso de microfones, instrumentos musicais de sopro, corrimãos, bebedouros, cantinas, portas, banheiros e salas com brinquedos para crianças. “A prevenção é fundamental para evitar ao máximo o aumento de casos e gravidade. Os casos da Itália, principalmente, nos mostraram que a demora na tomada de decisão é prejudicial. Estamos tentando conter a doença a todo custo. Felizmente, o Ministério da Saúde está sendo muito assertivo nas decisões para evitar que o Brasil entre nessa pandemia”, opinou.

Ainda não há cura

Não há vacina específica para prevenir a contaminação contra o coronavírus, mas vários países, como Rússia, China e Estados Unidos, já pesquisam essa solução. Nancy Bellei, professora da Universidade Federal de São Paulo e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, afirmou à mídia que não foi feito um estudo sorológico do novo coronavírus para saber por quanto tempo ele fica em circulação. “Sabe-se que ele fica no corpo até mais de um ano após a transmissão e, depois, some”.

Foram 57 dias entre o primeiro alerta emitido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 31 de dezembro de 2019, após casos de uma misteriosa pneumonia na cidade chinesa de Wuhan, e o primeiro caso confirmado no Brasil, em 25 de fevereiro de 2020. A partir daí, começou a mobilização para evitar o avanço desenfreado da doença no país, porque, numa velocidade de um a 14 dias, o vírus infecta pessoas próximas ao doente.

Desde os primeiros casos que começaram a ser reportados na China, em dezembro, o coronavírus já infectou mais de 500 mil pessoas. Até o dia 31 de março, o Brasil registrou 5.717 casos confirmados da covid-19 e 201 mortes, das quais 113 são no estado de São Paulo e 18 no Rio de Janeiro. Amazonas, Pernambuco e Rio Grande do Sul registraram os primeiros óbitos.

Todos os estados já assinalaram infectados pela covid-19, e o Ministério da Saúde já afirmou que há a transmissão comunitária em todo o país.

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