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O Cristão Diante do Racismo: Como Devemos Responder a Este Mal?

O mundo inteiro está sofrendo. O assassinato de George Floyd é um ato repugnante. Infelizmente, isto não é surpreendente. O racismo é latente na sociedade e uma ameaça diária para milhões de pessoas nos Estados Unidos. Sou testemunha de como meus amigos sofreram. A igreja deve agir. Nós, pastores e acadêmicos, necessitamos levantar nossas vozes.

Ao mesmo tempo, e com a maior esperança no evangelho, também estou convencido de que isto não mudará em um mês, nem com um número maior de manifestações nas grandes cidades do mundo (por mais necessárias que sejam). Não. O racismo é um mal do coração, um problema do pecado. Portanto, se procurarmos erradicar o racismo e todos os tipos de males nos quais um ser humano é discriminado por outro e não é tratado com respeito, devemos tratar sistematicamente e por muito tempo o problema do coração, tanto pessoalmente quanto em comunidade.

Acabar com um câncer

Há alguns anos, passei por tratamento contra o câncer. Retirá-lo de mim não foi suficiente. Era necessário atacá-lo, gota a gota, com os medicamentos necessários, em doses adequadas e com a frequência necessária. Além disso, a quimioterapia é administrada a todo o sistema e circula por todo o corpo, não apenas nos locais afetados. Da mesma forma, devemos agir de maneira abrangente contra o câncer do racismo, e devemos fazê-lo com frequência por um longo período de tempo.

Em sua carta aos Romanos, Paulo nos lembra repetidamente que todos pecamos e que o evangelho pode salvar a qualquer um, porque não há distinção diante de Deus. O evangelho é a maior demonstração da justiça de Deus: um homem inocente é sacrificado para que os culpados sejam justificados pela fé (Rm 3.21–31). Todos, independentemente de raça ou nação, recebem o perdão de Deus pela graça. Não há ninguém melhor que outro; ninguém pode se vangloriar diante de Deus, muito menos diante dos outros. É esta a convicção, o medicamento, que elimina completamente qualquer noção de superioridade em todos.

É por estas misericórdias de Deus que Paulo nos encoraja a apresentar nossas vidas a Deus para agradá-lo e não nos conformarmos com este tempo, mas para sermos continuamente transformados através da renovação de nossas mentes (Rm 12.1–2). O resultado desta transformação sistemática afeta todos os crentes, suas famílias, igrejas e até toda a sociedade.

Se continuarmos lendo Romanos 12–15, veremos que as convicções do evangelho, graça e fé determinam nossa conduta e ideais em todas as áreas da sociedade. Observe a primeira instrução de Paulo depois de nos conclamar a renovarmos nossas mentes: “Digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém” (Rm 12.3). Devemos ouvir isso, especialmente em referência ao racismo e a qualquer outro aspecto de desprezo por outra pessoa. O evangelho transforma nossa maneira de pensar. Muda nossos relacionamentos na igreja e na sociedade, nossa atitude em relação às autoridades e aos outros.

Então, como podemos infundir sistematicamente estas verdades para a renovação de nossas mentes? Em seguida, sugiro um plano de quimioterapia espiritual contra o racismo. Novamente, a cirurgia é definitivamente necessária. Precisamos de ação radical agora: igrejas e denominações unidas sobre este assunto, projetos de lei, marchas e novas políticas sociais. Mas, se quisermos erradicar este mal, devemos agir de maneira abrangente e a longo prazo em nível pessoal, familiar, eclesial e social.

Ação pessoal a longo prazo

Primeiro de tudo, olhe para o seu coração e vá fundo. Existe algum sentido, por menor que seja, de desconfiança ou desprezo por outra pessoa por causa de sua raça, nacionalidade ou classe social? Eu te pergunto a sério. Atitudes como estas estão enraizadas em nós, primeiro por causa de nosso coração enganoso, e também por causa de como alimentamos nossos pensamentos.

O próprio David orou: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno.”(Sl 139.23-24). Por isso, também devemos orar e buscar ver a trave em nossos olhos. Se houver iniquidade em nós e algum sinal de desprezo pelos outros, lembre-se de que um homem inocente morreu para perdoar você e todos que nEle confiam, porque não há distinção diante de Deus (Rm 3.22).

Ação familiar a longo prazo

Sua família e seu lar devem ser um local de hospitalidade para qualquer pessoa, independentemente da cor ou da conta bancária da pessoa. Para conseguir isto, você deve se perguntar primeiro: nos tratamos com respeito, sem subestimar os outros, dentro de casa? Não é uma questão pequena. Você trata seus filhos, seu marido ou esposa com respeito? Ou há sinais de superioridade e desprezo no tratamento intra-familiar?

Por exemplo, algo que minha esposa e eu temos que lamentar repetidamente é como tratamos nossos filhos. Não podemos subestimar nossos filhos pela idade deles. São pessoas criadas por Deus, dignas de respeito e atenção. Se interrompemos constantemente o que eles estāo fazendo ou não prestamos atenção quando falam conosco, estamos ensinando a eles que, por um motivo ou por outro, temos o direito de menosprezar os outros. Irmãos e irmãs, isto tem que acabar.

Segundo, há violência em casa? Devo ser claro: acho que existe um lugar para a disciplina corretiva na criação dos filhos, mas isto não deve ser feito com raiva e impaciência, mas com amor e graça. Existem poucas coisas mais dolorosas do que ver um dos meus filhos levantar a voz para outro e me ver refletido naquilo que ele está fazendo. As crianças imitam. Oramos ao Senhor, então, para que imitem nossa paixão pelo evangelho. O mesmo acontece com nossos maridos ou esposas. Piadas baseadas em gênero são abundantes em casamentos. Irmãos, que isto não seja ouvido entre nós. Esposas, honrem seus maridos. Maridos, amem suas esposas “porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida” (1Pe 3.7).

Ação eclesiástica a longo prazo

Quão diversa é a sua igreja? A verdade é que, às vezes, não há lugar mais segregado do que nossos locais de reunião nas manhãs de domingo. Inconscientemente, agrupamos nossos estudos bíblicos por “afinidade”, em vez de apreciar a riqueza da variedade. Separamos as famílias removendo as crianças do culto, e nossos membros continuam a selecionar locais de moradia com base nas escolas dos filhos ou no trabalho, ao invés de na comunidade e na missão.

Tenho o privilégio de servir em uma rede e família de igrejas onde intencionalmente recrutamos, treinamos e nomeamos líderes e pastores com a maior diversidade possível. Estamos convencidos de que a diversidade étnica na liderança se traduz em diversidade em nossa missão e congregação. As famílias e comunidades missionárias alugam e compram intencionalmente casas priorizando a comunidade que desejam abençoar. Este é o modelo da igreja em Antioquia! (At 13.1-3).

Ação social a longo prazo

Por ação social, não me refiro apenas à misericórdia junto aos mais vulneráveis, mas também ao nosso comportamento e atitudes na sociedade. É aqui que aqueles com vocações fora do ministério da Palavra e oração podem contribuir mais (ver At 6.1–7).

Como você se relaciona com seus colegas, especialmente aqueles diferentes de você? Você trata todos no seu local de trabalho com respeito? De segunda a sexta-feira, é quando devemos nos lembrar de que “quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos. Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10.43-45).

Independentemente da sua vocação ou carreira, a maior parte da nossa vida é gasta em estudo ou trabalho. Sāo nestes lugares que a renovação de nossas mentes mais se manifesta. Seja no esporte ou na medicina, na educação ou na política, nos negócios privados ou no serviço público, cada um de nós, espalhados por áreas da sociedade, devemos procurar intencionalmente servir aos outros com excelência, independentemente da classe ou raça.

Reflexão final

Se em cada um desses planos (pessoal, família, igreja e sociedade) atacarmos sistemática e consistentemente o problema do racismo e o do desprezo dos outros, então para a próxima geração certamente teremos um impacto marcante na cultura. O câncer de racismo terá sido tratado de forma abrangente e por um longo tempo.

Em tudo isso, não devemos perder de vista o fato de que, por se tratar de um problema espiritual, o evangelho deve ser administrado em doses perseverantes de oração. Sem dúvida, as tentações ao desespero e ao pessimismo virāo. Deus nos livre, veremos outros George-Floyds e meus amigos de outras raças continuarão sofrendo o terror de tirar seus filhos das ruas em várias cidades do mundo. Mas não vamos cair em desânimo. Deus nos assegura um futuro glorioso no qual a violência e a injustiça terminarão. Por enquanto, sejamos “fervorosos de espírito, servindo ao Senhor; regozijando-nos na esperança, sendo pacientes na tribulação, na oração, perseverantes;” (Rm 12.11-12).

Traduzido por: Matheus Thiago C. Mendonça

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