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Milhares vão às ruas na Polônia no maior protesto contra decisão judicial que proíbe aborto no país

VARSÓVIA — Dezenas de milhares de pessoas de toda a Polônia se uniram a uma manifestação massiva em Varsóvia, nesta sexta-feira, contra uma decisão Tribunal Constitucional que, na prática, bane o aborto no país predominantemente católico. Manifestantes de extrema direita que apoiam a decisão também compareceram ao protesto em grupos bem menores e foram contidos por policiais.

Desafiando as regras que restringem as reuniões a cinco pessoas durante a pandemia do coronavírus, os manifestantes caminharam pelas ruas do centro da capital polonesa carregando guarda-chuvas pretos, símbolo dos protestos pelo direito ao aborto, e faixas que diziam “você não terá que andar sozinho” ou “Deus é uma mulher”. A líder do movimento, que estimou uma participação de cem mil pessoas, disse aos ativistas que relatassem quaisquer ataques ou ameaças.

— Não estamos fazendo nada de errado ao protestar e sair às ruas — afirmou Marta Lempart, em entrevista a jornalistas.

O governo vem acusando os manifestantes de arriscarem a vida de idosos ao desafiar as rígidas regras contra grandes aglomerações. A Polônia registrou mais de 21 mil novos casos de Covid-19 nesta sexta-feira.

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Em uma tentativa de acalmar as manifestações que tomaram conta do país e afetaram a popularidade do ultraconservador Partido Lei e Justiça (PiS), o presidente da Polônia, Andrzej Duda, propôs um projeto de lei reintroduzindo a possibilidade de interromper a gravidez devido a anormalidades fetais, mas limitado a condições que ameacem a sobrevivência. O primeiro-ministro Mateusz Morawiecki prometeu que os legisladores prosseguirão com a aprovação rapidamente.

— Quando os exames pré-natais ou outras indicações médicas mostrarem uma alta probabilidade de que a criança vá nascer natimorta ou ter uma doença incurável ou um problema que levará à morte inevitável, independentemente das medidas terapêuticas utilizadas —  disse o presidente, detalhando quando o aborto seria permitido.

O anúncio, no entanto, não serviu para desencorajar os manifestantes:

— Esta é uma tentativa de acalmar a situação para o PiS, mas nenhuma pessoa sã deve cair nela — disse a ativista e parlamentar de esquerda Joanna Scheuring-Wielgus à Reuters.

Hospitais já recusam casos

Na semana passada o tribunal, instância máxima da Justiça polonesa, decidiu que abortos por má-formações fetais se tornariam inconstitucionais. Se a medida entrar em vigor, apenas gestações causadas por estupro e incesto ou que ponham a vida da mulher em risco poderão ser legalmente interrompidas. Mulheres em busca de aborto disseram já ter sido recusadas por hospitais.

A Federação para Mulheres e Planejamento Familiar disse estar recebendo desde a semana passada dezenas de reclamações de mulheres, incluindo aquelas que foram recusadas em clínicas apesar de terem consultas marcadas devido a más-formações fetais, conta o jornal The Guardian.

A medida levou dezenas de milhares de mulheres às ruas, transformando as manifestações em uma onda de raiva contra o partido governista — uma pesquisa de opinião mostrou uma queda acentuada no apoio ao PiS. Segundo uma pesquisa encomendada pelo jornal Gazeta Wyborcza, três quartos dos poloneses não apoiam o veredicto judicial.

Na quarta-feira, uma greve geral paralisou todo o território polonês, com meninas, mulheres e homens aliados aderindo ao movimento, não comparecendo ao trabalho em empresas públicas ou privadas, a escolas ou universidades. Prefeitos de oposição ao governo também demonstraram apoio, entre eles o da capital, Varsóvia, e o de Lodz, no centro do país, que tuitou uma foto de um assento vazio.

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