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Lula ou Bolsonaro? O que a bolsa prefere? E como ficam as ações? Entenda! – Valor Investe

O mercado foi pego de surpresa no meio da tarde ontem (8) com a notícia de que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin anulou as condenações do ex-presidente Lula. Na prática, a não ser que o plenário da corte seja acionado e mude a decisão, isso significa que ele pode ser candidato à presidência novamente em 2022. A resposta do mercado foi imediata: a bolsa despencou. Mas afinal, por que isso aconteceu e quais são as implicações desta novidade no longo prazo? O mercado prefere Lula ou Bolsonaro? Ou, olhando ainda para o mandato atual, como a sombra da candidatura do ex-presidente Lula influenciará em decisões de curto prazo de Jair Bolsonaro?

A resposta, segundo analistas, não é nada fácil. Afinal, Lula é visto como o nome mais forte para se opor ao atual presidente. Uma possível consequência disso poderia ser uma adoção de políticas populistas por parte de Bolsonaro para tentar manter ou até mesmo aumentar sua popularidade. Alguns exemplos são a criação ou aumento de programas de distribuição de renda (como o auxílio emergencial) e a paralisação de medidas que podem ajudar a conter os gastos públicos (como enxugamento de cargos públicos).

O fim dessa história, no entanto, já é conhecido: aumento dos gastos governamentais. O problema é que as contas públicas já estão comprometidas e há meses o governo faz malabarismos para manter o teto de gastos. Portanto, se houver mais despesas, o risco-país aumenta e, em um cenário mais arriscado, isso afugenta os investidores. O resultado seria uma bolsa despencando.

Para Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos, embora Lula já tenha adotado, principalmente no início do seu governo, medidas liberais na economia, a expectativa é de que esse não será o momento em que ele vai olhar para isso. “A preocupação do mercado é que o candidato mais forte de oposição que aparece no radar não deve tomar medidas condizentes com a condição fiscal que o país possui”, afirma. Ou seja, o aumento de gastos públicos pode acontecer também com Lula no poder.

Arnaldo Curvello, sócio-diretor da Galápagos Wealth Management, afirma que o cenário ainda mais polarizado deve levar a um aumento do populismo. “Isso tem um impacto direto nas contas públicas e o ideal é que isso não acontecesse, porque as contas já estão fragilizadas e qualquer medida no caminho do populismo inclui mais gastos e menor preocupação com a responsabilidade fiscal. O cenário que o mercado preferia é um que fosse pautado por uma agenda mais fiscalista“, diz.

Para Júlia Monteiro, analista da MyCap, é impossível prever quem o mercado preferiria, justamente porque isso depende de uma “resposta” de Bolsonaro. “Muita coisa pode acontecer. E agora a gente tem que ver qual vai ser a posição do Bolsonaro. Se ele vai adotar uma linha mais populista e vai contrário aos interesses do centrão ou não. Nesse momento, é impossível prever quem o mercado preferiria”, afirma.

Esteter, da Guide, afirma que, pelo menos por enquanto, o mercado tende a “preferir” Bolsonaro, por conta de sua equipe econômica. É importante lembrar que o ministro da Economia, Paulo Guedes, se comprometeu, durante a campanha eleitoral de 2018, a cumprir uma agenda liberal, com pautas como privatizações e enxugamento de gastos públicos. Na prática, porém, nenhuma privatização relevante ocorreu e as reformas andam a passados lentos no Congresso.

Há quem afirme, no entanto, que a preocupação com uma eventual eleição de Lula pode ser “exagerada”. Segundo Flávio Conde, chefe de análise da Inversa, durante o governo do petista, o Brasil e a bolsa cresceram. “Apesar de todo mundo ter ficado muito preocupado na eleição do Lula em 2002, ele foi um presidente que fez o Brasil crescer e a bolsa subiu muito. Na época, a bolsa foi de 8 mil pontos para algo em torno de 60 mil pontos. Outra coincidência engraçada é que o Lula foi favorecido por um superciclo de commodities puxado pela China e, curiosamente, estamos entrando nesse ciclo. Não sabemos quanto vai durar, mas estamos entrando”, afirma.

A queda acentuada da bolsa após a notícia, segundo André Perfeito, economista-chefe da Necton, foi mais explicada pelas incertezas que uma anulação da condenação de Lula traria não só para o mercado como para o andamento de outras investigações. “De fato, a notícia é ruim para o mercado, porque gera incerteza a respeito dos processos, de tudo. Lembrando que a Lava Jato é até maior que o Lula, tem várias outras empresas envolvidas, então isso tudo gera uma série de ruídos”, afirma.

No Twitter, profissionais do mercado financeiro se manifestaram sobre o assunto e houve, até mesmo em perfis tipicamente liberais, quem “comemorasse” uma eventual volta da dobradinha Lula e Henrique Meirelles (ex-ministro da Fazenda do governo de Michel Temer e presidente do Banco Central durante o governo Lula).

Especialistas destacam, no entanto, que pode não ser hora de discutir a eleição. Afinal, a Procuradoria Geral da República (PGR) pode recorrer à decisão de Fachin e o caso pode ser discutido em plenário do STF.

“O mercado está perdendo o foco. O foco do Brasil não é em hipótese nenhuma quem será candidato em 2022, e muito menos quem vai ganhar. A gente tem um problemão pela frente que é a pandemia e a economia parando”, afirma Conde, da Inversa.

E as ações, como ficam?

No meio de todo esse caos, se as ações das estatais são apontadas como perigosas em qualquer desfecho do cenário político, há também os papéis que estão mais blindados. É o caso, por exemplo, das exportadoras (justamente por dependerem menos do cenário local). “As empresas de papel e celulose, mineradoras, frigoríficos e até mesmo as empresas de óleo e gás, com exceção de Petrobras, se beneficiam bastante”, afirma Esteter, da Guide.

Para Júlia Monteiro, da MyCap, as ações ligadas ao consumo podem ser favorecidas em um cenário mais populista. Isso porque o governo pode injetar mais dinheiro na economia (com programas de distribuição de renda e manutenção de servidores públicos), o que favorece setores como o varejo e o alimentício.

Por outro lado, Esteter lembra que em um cenário mais arriscado, os juros futuros sobem (afinal, com a economia incerta, paga-se mais para o investidor deixar seu dinheiro parado). Isso pode fazer com que os investidores priorizem aplicações de renda fixa, ao invés de ações boas pagadoras de dividendos.

“No meio de uma pandemia sem fim e curva de juros cada vez se abrindo (subindo) mais, o investidor fica inseguro quanto ao futuro. E tem outros setores amplamente impactados pela abertura da curva de juros, como construção, shoppings, energia. O investidor que aplica para ter ‘renda passiva’ vai pra renda fixa ou empresas boas pagadoras de dividendos. Com os juros mais longos pagando 8% ao ano, fica mais confortável ir para a renda fixa“, afirma.

Toda essa incerteza, no entanto, prejudica a bolsa como um todo, justamente porque traz mais risco e afasta os investidores, especialmente os estrangeiros. “O Brasil já estava com um cenário adverso de expectativa de risco. Com o não fechamento de nenhum plano político, fiscal, econômico, os juros do Tesouro americano crescendo e aumento do nosso risco-país, a consequência natural é fuga de investidor estrangeiro e aversão a risco. Então, o investidor calcula qual o risco que você está propenso e se o risco-retorno é válido”, conclui Julia Monteiro, analista da MyCap.

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eleição — Foto: Getty Images

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