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Jovem acusa médico de beijá-la à força durante consulta; vítima é a terceira a denunciar profissional

As duas primeiras vítimas, uma recepcionista e uma vendedora, alegam ter sofrido assédio sexual durante consultas com o médico no Centro de Controle do Coronavírus de São Vicente. Segundo as pacientes, o suspeito afirmou que elas estavam “estressadas” e que precisavam “dar uma relaxada”.

O terceiro caso teria ocorrido no Hospital dos Olhos de São Paulo na última segunda-feira (5). A representante comercial Angélica Santos, de 27 anos, conta que marcou uma consulta com o médico após ter ido à unidade no dia 19 de setembro para acompanhar os pais. “Meu plano não é conveniado com essa clínica e eu nunca tinha passado com ele. Por causa da idade do meu pai, que tem 65 anos, também entrei na sala”, afirma.

Durante a consulta, o médico teria oferecido à ela para fazer o exame. “Falei que não tinha convênio lá. Ele falou para eu sentar que ia ver meu grau. Até achei estranho, porque eu não ia pagar a consulta, mas como estava lá, fiz”, explica. O profissional a examinou e disse que o grau dela tinha aumentado, a orientando a voltar outro dia, pois queria fazer um exame específico. Segundo a jovem, a justificativa para um novo procedimento é que o doutor queria ver as taxas hormonais dela.

“Eu tive uma filha há dois anos e ele disse que isso poderia influenciar no aumento do grau”. A consulta foi marcada para o último dia 5. Angélica compareceu ao local com a filhinha, e inicialmente, a consulta correu bem, até que o médico pediu para que ela tirasse a máscara de proteção, pois faria o exame de vista novamente e o acessório poderia interferir. O procedimento específico, segundo a vítima, não teria sido realizado.

“Ele não fez o exame que disse que faria. Colocou uma luzinha nos meus olhos, disse que eu estava com uma alergia e que era estranho. Aí falou: ‘você precisa desestressar’”, explica. Nesse momento, a jovem disse ao médico que não tinha muito o quê fazer, porque cuidava da filha sozinha, e o homem perguntou se era casada e sobre o pai filha dela.

“Em seguida, ele começou a perguntar o que faltava em mim. Se era coragem, vontade ou oportunidade. Me perguntou várias vezes, só que eu não sabia o que responder, fiquei sem reação. Sempre falava que não sabia. Depois ele perguntou: ‘Se fosse agora, o que você faria para desestressar?’ Ainda falei que não faria nada”, conta. Ao fim da consulta, a jovem foi pegar a receita do medicamento para sair da sala, já que não estava se sentindo bem com a situação.

“Quando eu levantei, ele veio na minha direção, dizendo que eu precisava de um abraço. Eu não queria abraçá-lo. Ele me abraçou e me beijou à força. Eu empurrei ele e fui para trás. Ele pegou a minha mão e passou na calça dele, nas partes íntimas”, afirma.

Ela contou que não conseguiu gritar ou pedir socorro. Depois que conseguiu se soltar, Angelica pegou a filha e saiu do consultório. “A gente [vítimas] se sente envergonhada. Mandei mensagem para a minha mãe contando o que ocorreu”, conta. Angélica pensou em não denunciar, mas ao pesquisar na internet sobre o médico, encontrou os outros dois casos de Vivian Herculano Salvatore e Jocimari Fonseca.

A jovem procurou por Vivian, e ao conversar com ela, afirma que percebeu o que o médico falou a mesma coisa para ambas. Diante disso, a representante decidiu fazer a denúncia. O caso foi registrado como importunação sexual na 2ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) Sul, em São Paulo. “Ele ainda me falou: vou te ver daqui a dez dias’, mas eu não vou voltar. Parece que não foi comigo, que vi na televisão. Nunca imaginamos que vai acontecer conosco. Nunca mais vou a uma consulta sozinha”, finaliza.

Afastado

Em nota, o Hospital dos Olhos de São Paulo informou que a denúncia está sendo apurada pelos responsáveis da unidade e que o médico foi afastado de suas funções até a conclusão do caso.

Já o Conselho Regional Medicina Estado São Paulo (Cremesp) informou que, em relação às duas denúncias anteriores, já tomou as medidas cabíveis, mas que não foi acionado sobre esta nova denúncia. O órgão poderá abrir nova investigação para apurar os fatos.

Procurado pelo G1, a defesa do médico, representada pelo advogado criminalista Marcelo Cruz, afirmou que ainda não tomou ciência oficialmente da acusação e, assim que tomar, vai analisar o caso com as cautelas devidas. Ainda conforme a defesa, logo em seguida, pretende apresentar espontaneamente o médico para esclarecer o que for necessário perante a autoridade policial.

Entenda o caso

Em entrevista ao, a recepcionista Vivian Herculano Salvatore, de 29 anos, e a vendedora Jocimari Fonseca, de 27 anos, relataram ter sofrido o assédio durante consultas com o médico no Centro de Controle do Coronavírus, equipamento da Prefeitura de São Vicente exclusivo ao atendimento de pessoas com sintomas da Covid-19.

Crime aconteceu durante consulta no Centro de Controle de Coronavírus em São Vicente, SP — Foto: Divulgação/Prefeitura de São Vicente
Crime aconteceu durante consulta no Centro de Controle de Coronavírus em São Vicente, SP — Foto: Divulgação/Prefeitura de São Vicente

Após o atendimento, Vivian denunciou R.I.P.N. à administração da unidade de saúde, bem como à Polícia Civil, por meio da Delegacia de Defesa da Mulher, onde o caso é investigado como importunação sexual. Segundo a paciente, ela sentiu medo e não conseguiu reagir à ação do profissional. “Não quero que outras pessoas passem por situação igual ou pior à que eu passei”.

Jocimari também denunciou o caso à administração do hospital, mas relata não ter conseguido registrar a ocorrência por meio da Delegacia Eletrônica. Devido ao diagnóstico positivo para o novo coronavírus que recebeu ao voltar no Centro e fazer o exame, ela relata que está aguardando o fim da quarentena para comparecer pessoalmente na delegacia.

Importunação sexual

A lei caracteriza como crime de importunação sexual a realização de ato libidinoso na presença de alguém e sem seu consentimento, como toques inapropriados ou beijos “roubados”, por exemplo. A importunação sexual difere do assédio sexual, que se baseia em uma relação de hierarquia e subordinação entre a vítima e o agressor. Quem pratica casos enquadrados como importunação sexual poderá pegar de 1 a 5 anos de prisão.

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