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‘Eu fracassei’: Kim Jong Un mostra lado emotivo ao enfrentar dificuldades da Coreia do Norte

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SEUL — O líder norte-coreano, Kim Jong Un, derramou lágrimas no fim de semana ao emitir um raro pedido de desculpas por seu fracasso em guiar o país em tempos tumultuados, exacerbados pelo surto de coronavírus. Ele também agradeceu aos cidadãos por seus sacrifícios, na demonstração mais contundente de como ele conta com sua personalidade de “homem do povo” para enfrentar as crises cada vez mais profundas em seu país.

— Nosso povo depositou confiança em mim, tão alto quanto o céu e tão profundo quanto o mar, mas não consegui sempre viver de acordo com isso de forma satisfatória — disse Kim, com voz embargada. — Eu realmente sinto muito por isso.

A cena ocorreu durante um desfile militar no sábado. Kim se emocionou ao prestar homenagem às Forças Armadas por sua resposta aos desastres nacionais e prevenção do surto de coronavírus e pediu desculpas aos cidadãos por não ter conseguido elevar os padrões de vida da população.

— Embora me seja confiada a importante responsabilidade de liderar este país defendendo a causa dos grandes camaradas Kim Il-sung e Kim Jong-il, graças à confiança de todos as pessoas, meus esforços e sinceridade não foram suficientes para livrar nosso povo das dificuldades em suas vidas — continuou, citando seu avô e pai, os dois líderes anteriores da Coreia do Norte.

O discurso, que foi claramente planejado para ecoar entre o público doméstico, provavelmente consolidou a imagem de Kim como um líder competente e carismático que também tem um lado humano, disse Rachel Minyoung Lee, pesquisadora independente e ex-analista de código aberto da Coreia do Norte para o governo dos EUA.

— A modéstia e a franqueza de Kim, suas lágrimas e voz embargada, eram todos altamente incomuns, mesmo para alguém que reconhece publicamente as deficiências e tem um padrão estabelecido de ser expressivo — afirmou.

Kim, que sorriu largamente quando novos mísseis balísticos intercontinentais foram exibidos no desfile, culpou as sanções internacionais, a crise do coronavírus e uma série de tufões e inundações destruidores pelas contínuas dificuldades econômicas da Coreia do Norte.

Desde que sucedeu a seu pai em 2011, ele tornou o progresso econômico uma pedra angular de sua agenda. Mas planos ambiciosos para o comércio internacional, projetos de construção e outras medidas econômicas foram paralisados devido às sanções impostas aos programas de armas nucleares e mísseis balísticos.

A economia sofreu um novo golpe quando a Coreia do Norte fechou suas fronteiras para quase todo o tráfego devido à pandemia, e os tufões de verão causaram inundações que ameaçaram ainda mais o abastecimento de alimentos.

Kim disse que o sucesso do país em prevenir um surto de coronavírus e superar outros desafios foi uma “grande vitória alcançada” pelos cidadãos.

— Nosso povo sempre foi grato ao nosso Partido, mas ninguém menos que eles próprios merecem uma reverência de gratidão — disse ele.

O foco nos cidadãos foi um grande ponto de partida para esse tipo evento, onde os discursos são geralmente preenchidos com temas mais ideológicos e elogios ao Partido dos Trabalhadores da Coreia, disse Lee.

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Abordagem pessoal

Em contraste com seu pai, Kim levou sua esposa a cúpulas políticas com líderes estrangeiros, muitas vezes para abraçar crianças e se misturar com trabalhadores em aparições públicas.

Algumas dessas abordagens folclóricas moldaram sua resposta pública aos desafios econômicos do país, disse Benjamin Katzeff Silberstein, especialista em economia norte-coreana do centro de estudos Stimson Center, com sede nos Estados Unidos.

— Kim tem estado mais pessoalmente presente e visível em locais de reconstrução de desastres e similares, e ele priorizou muitos dos projetos de construção simbólicos projetados para mostrar o progresso econômico — explicou.

Mas, apesar de alguns movimentos iniciais no sentido de abraçar os mercados, Kim não é um reformista radical e suas prescrições de política tendem a se basear no manual da Coreia do Norte elaborado por seu pai e avô, o fundador do estado Kim Il Sung, disse Silberstein.

As Nações Unidas afirmam que, no governo de Kim, a Coreia do Norte continuou a aniquilar as liberdades básicas, mantendo campos de prisioneiros políticos e vigilância estrita de seus cidadãos. Kim mandou executar seu tio, de acordo com a mídia estatal, e os EUA acusaram seu governo de usar o agente químico VX para assassinar seu meio-irmão, Kim Jong Nam, em 2017, uma alegação que Pyongyang negou.

Na semana passada, Kim pediu a seu país que embarcasse em uma “batalha de aceleração” de 80 dias, uma campanha para atingir metas econômicas antes de um congresso em janeiro para decidir um novo plano de cinco anos.

Essas campanhas, que envolvem cidadãos realizando trabalho extra “voluntário”, foram descritas por alguns moradores como “uma das partes mais exaustivas e irritantes da vida cotidiana”, disse Silberstein.

— Kim se saiu essencialmente com lágrimas, desculpas, batalhas de aceleração e espremendo fundos onde quer que possam ser encontrados — afirmou.

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