Família acusa PMs de matar adolescente e jogar corpo em córrego na Zona Norte do Rio
Dor e desespero eram os sentimentos dos familiares que tiveram que reconhecer o corpo de Cauã da Silva Santos, de 17 anos, no Instituto Médico Legal na terça-feira (5).
Segundo a família, ele morreu na segunda-feira (4), ao ser baleado na rua Antônio João, na comunidade do Dourado, em Cordovil. Cauã havia acabado de sair de um evento do projeto #Vemcer, que promove esporte por meio de lutas para jovens, e que acontecia na associação de moradores.
“A rua estava cheia, o evento tinha acabado de terminar. Ficou todo mundo por ali, conversando, as crianças brincando no pula-pula. Tinha mais de 150 pessoas na rua”, lembra o irmão de Cauã, Caio Martins, de 22 anos.
Associação de Moradores do Morro Dourados, onde acontecia o evento em que Cauã estava. Após, jovem ficou na rua com amigos — Foto: Reprodução/Google Street View
Vizinhos contaram que policiais chegaram atirando, o que provocou correria. Cauã, que estava com amigos, foi baleado e teve seu corpo jogado em um valão que fica perto da associação.
Ele foi resgatado por amigos e levado ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, mas não resistiu.
“Meu filho acordava cedo, umas 6h da manhã e ia trabalhar em um ferro-velho. De tarde, ia para a escola e, nos dias de projeto, ia para lá lutar. Quando não era assim, estava dentro de casa no celular. Tinha dias que o Cauã ia dormir 19h30 da noite. Como puderam fazer isso com esse garoto?”, questionou a mãe, Claudia Helena Camargo da Silva.
Mãe de Cauã fala sobre a morte do filho: ‘Ele não merecia isso’
O irmão do meio de Cauã, Caio, que amparava a mãe, lembrava ainda de sua paixão pela luta.
“Ele queria eu todo mundo fosse lutar. Eu dizia que não, que eu era gordo. Ele falava: ‘Mas eu te amo’. O que vai ficar para mim é esse eu te amo”, disse emocionado e ainda sem acreditar na morte do irmão de 17 anos.
Foto de Cauã em projeto social
Ainda na terça, parentes e amigos de Cauã divulgaram imagens que mostrariam o adolescente no projeto social do qual fazia parte, e também de outras crianças que participavam do evento, dando uma ideia do clima do momento. Segundo eles, é uma evidência de que o rapaz não estava envolvido com crimes quando foi morto.
Cauã de costas e com a camisa de manga vermelha durante o evento no projeto social — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal
Outras crianças durante a festividade na ONG #VemCer — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal
Cauã fazia parte da ONG há três anos e sonhava em ser lutador profissional — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal
PM divulgou várias versões para o caso
Na manhã da terça (5), a Polícia Militar divulgou uma nota dizendo que equipes do Batalhão de Olaria faziam um patrulhamento quando criminosos armados atiraram contra a guarnição, houve confronto e um suspeito foi atingido. Policiais teriam encontrado uma pistola, carregadores e munição em um córrego da região.
Os parentes dizem ainda que, depois de baleado, o corpo de Cauã foi lançado em um valão — Foto: Reprodução/ TV Globo
Depois a Polícia Militar enviou um nova nota informando que a primeira Delegacia de Polícia Judiciária Militar instaurou um inquérito policial militar para apurar todas as circunstâncias do caso.
Ao meio-dia, o porta-voz da PM falou ao RJ1 que não sabia que um ferido não havia sido socorrido.
“Essa é uma informação das testemunhas no local. O que os policiais afirmam é que posteriormente, após o término da ocorrência, eles tomaram ciência de que alguém teria sido socorrido no valão. O grupo que fugiu dos policiais, fugiu nesse valão e que nesse valão teria sido encontrado o jovem Cauã”, disse o porta-voz da PM.
Sete policiais militares foram afastados das ruas e já prestaram depoimento Delegacia de Homicídios da Capital .
Cronografia da morte de Cauã — Foto: Wagner Magalhaes/Editoria de Arte g1