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Eleições 2020: PF faz buscas nas casas de Jerominho e Natalino em operação contra milícia na eleição do Rio – O Globo

RIO – Agentes da Polícia Federal cumpriram, na manhã desta quinta-feira, 12 mandados de busca e apreensão em residências, comitês de campanhas e empresas ligadas à prática de lavagem de dinheiro conexos a crimes eleitorais na Zona Oeste do Rio. Entre os alvos estão  os irmãos José Guimarães Natalino e Jerônimo Guimarães Filho, apontados como fundadores da Liga da Justiça, uma das maiores milícias do estado.

Carminha Jerominho, filha do miliciano,  também é investigada na operação de hoje, ao lado da prima Jéssica Natalino.  Ambas disputam a eleição deste ano.  Jéssica concorre ao cargo de vice-prefeita pelo Partido da Mulher Brasileira (PMB), na chapa liderada pela presidente da legenda, Suêd Haidar, enquanto Carminha  disputa uma vaga na Câmara de Vereadores pela mesma legenda.

A PF apreendeu com os alvos celulares, materiais de campanha e pacotes de dinheiro, num total de R$ 141 mil, além de US$ 2,5 mil.

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Jerominho e sua sobrinha Jéssica Natalino, que vai disputar a eleição municipal em seu lugar Foto: Divulgação
Jerominho e sua sobrinha Jéssica Natalino, que vai disputar a eleição municipal em seu lugar Foto: Divulgação

Durante as investigações, foram identificadas movimentações financeiras atípicas em empresas ligadas aos investigados a partir da análise dos Relatórios de Inteligência Financeira (Rifs). De acordo com a PF, esses recursos possivelmente seriam destinados para gastos de campanhas eleitorais.

A PF sustenta que os alvos utilizavam as redes sociais para escolher os candidatos que iriam concorrer nas eleições. Enquetes eram realizadas entre os membros do grupo, que votavam em seus preferidos e depois ainda financiavam e patrocinavam a campanha eleitoral dos escolhidos, incluindo a prática de disseminação de informações falsas sobre as disputas eleitorais.

 

 

Os mandados foram expedidos pela 16ª Zona Eleitoral, divisão especializada em crimes praticados por organização criminosa, de lavagem de dinheiro e outras infrações relacionadas a crimes eleitorais. Entre os 12 mandados de busca e apreensão, estão pessoas físicas, diiretório de campanha, drogaria  e um restaurante.

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Não houve a realização de prisões em respeito às regras da Justiça Eleitoral, que proíbe o cumprimento de mandados de prisão de candidatos a menos de 15 dias para o pleito e de eleitores a menos de 05 dias do dia de votação.

Além diinheiro, os agentes apreenderam material de campanha de Carminha. Outros valores em espécie ainda estão sendo contabilizados pela PF.

Agentes da PF na empresa dos irmãos Jerominho e Natalino Foto: Reprodução
Agentes da PF na empresa dos irmãos Jerominho e Natalino Foto: Reprodução

Uma das empresas investigadas na Operação Sólon também pertence aos irmãos Jerominho e Natalino. Agentes da PF estiveram no Bar Farofão Empório e Confeitaria, uma loja de conveniência e depósito localizado na Estrada do Guandu do Sapê, em Campo Grande, Zona Oeste da cidade.

Candidata já foi eleita na cadeia

A filha Carminha Jerominho, também ex-parlamentar e candidata a vereadora Foto: Facebook / Reprodução
A filha Carminha Jerominho, também ex-parlamentar e candidata a vereadora Foto: Facebook / Reprodução

Em 2008, Carminha ficou 40 dias presa por crimes eleitorais e conseguiu se eleger vereadora de dentro da penitenciária federal de segurança máxima de Catanduvas, no Paraná, com mais de 22 mil votos. Na época, ela foi detida por ter se beneficiado de um curral eleitoral organizado pela Liga da Justiça, que impediu outros candidatos de realizarem campanha na região. No ano seguinte, ela teve teve o mandato cassado por arrecadação irregular de verba.

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Alvo da operação de hoje, o ex-deputado estadual José Guimarães Natalino já foi condenado por chefiar a maior milícia do Rio. Natalino também foi preso em 2008 em uma megaoperação da Polícia Civil que apreendeu um fuzil, duas escopetas, uma submetralhadora, quatro pistolas e dois revólveres no local em que estava, apontado como “QG” do grupo paramilitar que atua na Zona Oeste. No mesmo dia, houve tiroteio entre milicianos e policiais, e alguns integrantes do grupo conseguiram fugir.

Irmão de Natalino, Jerominho também foi alvo de busca na manhã de hoje. Ele é apontado como um dos  chefes da milícia na Zona Oeste, que se espalhou sob o comando de policiais e políticos. Vereador por duas legislaturas, também foi preso em 2008 acusado de chefiar o grupo. Os irmãos foram soltos em 2018, após quase 11 anos na cadeia.

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Jéssica Natalino, candidata a vice-prefeita pelo PMB Foto: Reprodução
Jéssica Natalino, candidata a vice-prefeita pelo PMB Foto: Reprodução

Questionada pelo GLOBO sobre as razões para escolher alguém com familiares envolvidos com a milícia, Suêd Haidar elogiou Jéssica e destacou a independência do partido.

– Jéssica Natalino fui eu que escolhi. Identifiquei nessa advogada, uma mãe, trabalhadora e jovem que vai fazer uma boa governança, humanista. Nós discutimos o nosso programa em um coletivo, sem indicação pessoal. O PMB sempre foi um partido independente. Não devemos a ninguém e a nenhum sistema – afirmou Suêd.

Pré-candidato à Prefeitura do Rio, Jerominho alegou em vídeo motivos de saúde para desistir da disputa e anunciou a sobrinha na chapa de Suêd.  “Apesar de eu ter desistido em virtude da minha doença no coração, a Zona Oeste continua forte, continua coração valente. E Sued Haidar pode fazer um grande trabalho já que aqueles prefeitos anteriores nada fizeram e os que estão vindo aí vão continuar na mesma de nada fazer”, afirmou.

Liga da Justiça

Jerominho e Natalino são apontados como os fundadores da Liga da Justiça, grupo que originou a maior organização paramilitar no Rio. De acordo com o Ministério Público (MP), eles usavam o símbolo do super-herói Batman para marcar casas e estabelecimentos comerciais que pagavam pelos “serviços” dos milicianos. Quem se recusava a pagar sofria violência ou era assassinado. Relatórios também indicaram atuação da quadrilha em Campo Grande, Guaratiba, Paciência, Cosmos e Santa Cruz.

Símbolo do "Batman" demarca território da maior milícia do Rio, a Liga da Justiça Foto: Marcelo Piu/Agência O Globo
Símbolo do “Batman” demarca território da maior milícia do Rio, a Liga da Justiça Foto: Marcelo Piu/Agência O Globo

Na época em que foram presos, a Liga da Justiça movimentava cerca de R$ 2 milhões por mês frutos da exploração do transporte alternativo, uma das principais formas de rentabilidade da milícia. Atualmente, estima-se que as milícias lucrem R$ 25 milhões por mês com diversos “negócios”, como o transporte irregulares em vans, venda de botijão de gás e até construção civil, com apartamentos para serem alugados.

O grupo surgiu entre 1995 e 1996, conhecidos como “Os Caras do Posto” por seus integrantes se concentrarem em um posto de gasolina Texaco na Rua Guarujá, próximo à estação de trens da Supervia no bairro de Cosmos, na Zona Oeste. Na época, a Liga da Justiça era liderada por Ricardo Teixeira Cruz e Aldemar Almeida dos Santos, conhecidos respectivamente como Batman e Robin.

Em 2007,  Ricardo Teixeira, Toni  Angelo Souza Aguiar e Marcos José de Lima, o Gão, comandavam o grupo junto com os irmãos Guimarães. Ex-policiais que ganharam o controle econômico da área e praticavam assassinatos para se manter no poder.

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