segunda-feira, maio 6Notícias Importantes
Shadow

‘Ela Estaria Melhor Morta’: Três Maneiras de se Envolver Com Deficientes

Trabalhando como profissionais que lidam com deficientes na zona rural do norte da Índia, onde as visões de mundo são formadas com base em tradições e mitos, tivemos a oportunidade de testemunhar o impressionante estigma, as exclusões e injustiças que as pessoas com deficiência e suas famílias enfrentam.

Lembro-me de ficar chocado quando ouvi pela primeira vez um pai dizer, diante de sua linda filha que tinha uma deficiência — uma deficiência semelhante à de minha filha — que sua filha estaria melhor se estivesse morta. Desde aquele dia, já ouvi muitas vezes opiniões como esta serem expressadas.

“Ela estaria melhor morta.”

Na verdade, tal horror faz sentido em uma cosmovisão hindu. Tendo “cumprido a pena” por pecados da vida passada, a morte significaria uma chance melhor na próxima reencarnação. Os seguidores de Cristo têm novas muito melhores para qualquer pessoa com deficiência e para qualquer pessoa que esteja acompanhando algum deficiente. O mito da reencarnação desvaneça diante da promessa de ressurreição.

Jantares de ‘Lucas 14’

Nós nos sentimos abençoados por ter feito parte de atividades, tais como retiros familiares e jantares de “Lucas 14”, em que as igrejas se envolvem ativamente em amor para incluir pessoas com deficiência.

Nestes jantares de Lucas 14 — inspirados nas palavras de Jesus em Lucas 14.12-14 — as igrejas acolhem as pessoas com deficiência para uma noite de entretenimento, boa comida e companheirismo. O ato de hospitalidade não só demonstra o amor de Deus aos marginalizados, mas também demonstra às suas famílias e à comunidade, que o reino de Deus acolhe alegremente aqueles a quem a sociedade ignora ou rejeita. Este tipo de hospitalidade mostra que Deus ama seus filhos, independentemente de sua capacidade.

Embora nos Estados Unidos talvez não ouçamos alguém dizer “Ela estaria melhor morta”, este sentimento é tragicamente predominante. O status e o valor são prontamente determinados pela produtividade funcional das pessoas, sua contribuição para a produção econômica nacional, e até mesmo sua contribuição para nossa felicidade pessoal. Em nível nacional nos Estados Unidos, a maioria dos bebês que são diagnosticados com alguma deficiência, são abortados. Na realidade, estamos dizendo: “Ficamos melhor se ela estiver morta”.

Quatro Razões Para um Cuidado Intenso

A cada vez que cristãos acolhem intencionalmente e entusiasticamente pessoas com deficiências, elevamos a glória de Deus naquela sociedade. Devemos nos dedicar a cuidar destes homens e mulheres, em primeiro lugar, porque cada pessoa é criada à imagem de Deus (Gênesis 1.26-27). Todos os homens e mulheres com deficiência apresentam a inconfundível e inestimável imagem de seu Criador. E se Deus colocou sua imagem sobre essas pessoas, não ousamos ignorá-las ou aliená-las — ou coisa pior.

Em segundo lugar, a deficiência é uma personificação bela e física de tesouros guardados em vasos de barro (2 Coríntios 4.7). O que vemos e vivenciamos em nossa existência corpórea é um evidente desgaste externo, mas, na verdade, seu poder sobremodo excelente brilha através de nossa fragilidade. O ministério voltado para pessoas com deficiência em uma igreja, abre uma porta única para testemunharmos que Deus glorifica sua força. E isso vai nos impedir de nos conformarmos com um mundo obcecado com a aparência do vaso.

Terceiro, o ministério voltado para pessoas com deficiência relembra à igreja de que a tribulação não é fortuita. Pelo contrário, é um instrumento que Deus pretende usar para a nossa maior e mais duradoura alegria. A tribulação produz perseverança; a perseverança, experiência; a experiência, esperança; e a esperança não nos confunde (Romanos 5.3-5). A obediência através da tribulação produz esperança, perseverança e alegria. Temos vivenciado isto repetidas vezes neste tipo de ministério.

Quarto, enquanto o mundo vê pouco valor na deficiência — reagindo com eugenia, eutanásia e aborto seletivo — Jesus lembrou a seus discípulos que o homem cego de nascença nasceu assim para um propósito. Este propósito era “para que se manifestem nele as obras de Deus” (João 9.3). Nós nos voltamos para os deficientes porque mal podemos esperar para ver o que Deus pode fazer.

O Que Podemos Fazer?

O que as igrejas podem fazer, de maneira prática, para cuidar e servir às pessoas com deficiências? Estudamos os amigos do homem com paralisia em Marcos 2.1-12. A história deles nos inspirou em nosso ministério entre os deficientes na Índia e oferece a todos um paradigma para nos movermos em direção a deficiência em nossas comunidades.

1. Torne-se um Amigo

“… foram ter com ele… (Marcos 2.3).

Esses homens eram amigos do homem paralítico. O ato deles em seu favor foi sacrificial — ele provavelmente não seria capaz de retribui-los. Jesus vê o amor deles como um ato de fé e dá ao amigo deles uma nova vida — perdão e cura (Marcos 2.5, 10-12).

Aqueles que testemunharam o que aconteceu disseram: “Jamais vimos coisa assim!” Marcos (2.12). A amizade com uma pessoa deficiente pode exigir auto-sacrifício — muitos sacrifícios — mas Deus pode trabalhar através de tais atos de fé para abrir nossos olhos para sua glória. Normalmente, fazemos amigos com base em interesses comuns, mas quando nos atrevemos a sair e nos tornar amigos daqueles que são diferentes de nós, incluindo pessoas com deficiências, o mundo irá perceber.

2. Traga-os Para Dentro

“…conduzindo um paralítico, levado por quatro homens.” (Marcos 2.3).

A história deixa claro que não havia espaço para alguém chegar a Jesus. Os amigos do homem com paralisia foram além de simpatizar com ele, e se esforçaram por trazê-lo ao encontro de Jesus, superando obstáculos significativos para fazê-lo.

Convide as pessoas com deficiência para a sua igreja para conhecerem a Jesus. Na parábola do grande banquete em Lucas 14.15-24, notamos que o mestre não dá uma escolha, mas ordena que eles tragam o povo e encham a casa. Como seria para você (e sua igreja) fazer um esforço extra para receber pessoas com deficiências físicas ou mentais?

3. Derrube Barreiras

“E, não podendo aproximar-se dele, por causa da multidão, descobriram o eirado no ponto correspondente ao em que ele estava e, fazendo uma abertura, baixaram o leito em que jazia o doente.” (Marcos 2.4).

Os amigos do paralítico fizeram o que ele não podia, abrindo um caminho para levá-lo a Jesus. De maneira semelhante, porém mais profunda, Jesus foi até a cruz para dar a todo o que nele crê acesso a Deus. Como é triste então, quando nossas atitudes e prédios de igreja inacessíveis, erguem barreiras que impedem as pessoas de se encontrarem com Deus. Nossa tarefa é remover tantas quantas barreiras pudermos, para que todos tenham a oportunidade de ouvir as boas novas. Pode ser que necessitemos construir rampas, por exemplo, em vez de fazer uma abertura no telhado, para permitir que nossos amigos com deficiência entrem e encontrem a Jesus.

Conheça Priyanka

Uma história desse tipo de amizade se destaca em nossa experiência aqui na Índia. Um pastor que conhecemos se tornou amigo de uma garota com deficiência, quebrando fortes barreiras sociais neste processo. Ele arranjou tempo para se conectar com essa garota e sua família, e a convidou para sua igreja. Seu nome é Priyanka.

Ninguém em sua família estava disposto a levá-la à igreja, já que eles tinham que estar com o gado, mas este pastor se comprometeu a levá-la nas costas ao longo de dois quilômetros até a igreja. Entre outras razões, a história se destaca porque foi um pastor, não um pai, que tomou a iniciativa de cuidar desta criança. Ele fez isto durante vários meses, e Priyanka vivenciou a cura espiritual e social através da igreja dele.

Enquanto isso, é claro, a igreja também vivenciou as bênçãos por tê-la com eles. Com o tempo, a família de Priyanka percebeu e apreciou tudo o que havia mudado em sua vida, então eles também começaram a frequentar a igreja. Agora toda a família chegou à fé, juntamente com mais dezessete pessoas de sua aldeia. O pai de Priyanka tornou-se um plantador de igrejas. Ele agora está alcançando todos em sua área com o evangelho, incluindo aqueles com deficiências.

Oramos para que muito mais igrejas — na Índia, nos Estados Unidos e em todo o mundo — adotem este tipo de fidelidade e vejam este tipo de fruto ao cuidar de pessoas com deficiência — tornando-se amigos, trazendo-as para dentro e quebrando todas as barreiras possíveis.

Traduzido por Victor San.

Originalmente publicado em DesiringGod.org: https://www.desiringgod.org/articles/she-would-be-better-off-dead

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

× Como posso te ajudar?