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E Davi derrubou Golias

Afonso Barroso*

A eleição do pequeno empresário Samuel Ferreira para prefeito da cidade de Goiabeira, no extremo Nordeste de Minas, é um exemplo de bem armado e bem-sucedido marketing político. Assessorado pela mulher, competente e dedicada, mais um grupo de amigos não menos dedicados e competentes, Samuel ganhou a eleição com uma estratégia simples como ele: a simplicidade.

Conhecido na cidade como Ferrim, Samuel é um caso de self-made man, para usar uma expressão da terra para onde ele foi aos 20 anos, numa leva de aventureiros que buscavam um punhado de dólares nos Estados Unidos. Depois de entrar pelo México sob a orientação de um coiote-guia e instalar-se em uma pensãozinha de Boston, ele começou a trabalhar no que aparecesse. Foi ajudante de jardinagem, faxineiro de restaurante, lavador de pratos, auxiliar de cozinha e cozinheiro. E juntou em seis anos, não um punhado, mas milhares de dólares, economizando sempre, comendo sanduíche e dormindo quatro horas por noite. O resto do dia era trabalho, trabalho, trabalho, até porque ganhava-se por hora trabalhada.

Antes mesmo de voltar da sua sofrida, mas rentável estada nos Estados Unidos, Samuel já havia comprado um hotel em Goiabeira. Já em casa, empregou suas economias em outros negócios, como dois postos de gasolina, mais um hotel e imóveis para aluguel.

Samuel tinha também alguma vocação para a política. Tanto que se elegeu por três vezes seguidas como o vereador mais votado do município. Até que resolveu encarar a eleição para prefeito. Uma aventura que seu próprio pai, o prudente e desconfiado Seu João Ferreira, desaconselhava. Dizia que política só servia pra perder dinheiro e ganhar inimizades. Mas Samuel não pensava assim. Pretendia gastar o mínimo possível e não sabia fazer inimigos.

E candidatou-se, disposto a enfrentar uma dinastia de poderosos adversários que dominavam a cidade havia 16 anos. Iniciou-se então uma luta de Davi 77 contra Golias 22. A humildade contra a prepotência. A simplicidade contra a arrogância. Adeptos do 22 propunham apostas de até 10 mil reais no seu candidato. Apostaram e perderam. Um comerciante rico chegou a dizer que estava para nascer alguém que pudesse derrotar o 22. Dona Darci, a simpática mãe de Samuel, ao final da apuração estava disposta a mostrar ao arrogante 22 a carteira de identidade do filho, um recém-nascido de 41 anos. Olha aí, nasceu o que estava pra nascer, ela diria ao atônito desafiador.

E assim se desenvolveu a campanha vitoriosa. Samuel não era exatamente o candidato ideal para um marqueteiro profissional. Não era acostumado a mentir, a prometer o que não podia cumprir, a dissimular e engambelar com o famoso tapinha nas costas, como faz a maioria dos políticos. A pandemia serviu para treiná-lo na arte de falar ao público sem palanque. Nas lives, Anamaria, a mulher-companheira e marqueteira nata, estimulava-o a usar a linguagem natural que sabia empregar desde a infância, sem nada de erudição, mas com muita sinceridade no que dizia, olho no olho, o que aos poucos foi conquistando mais e mais eleitores.

A vitória foi esmagadora. Menos pela diferença de 101 votos e mais por representar uma mudança que a população esperava havia tanto tempo, sem muita esperança de derrubar o até então imbatível gigante Golias.

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