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Diálogo Interreligioso nos Documentos do Vaticano


Nostra aetate marcou profundas mudanças nas relações da Igreja com as religiões mundiais. O documento não apenas reconheceu que existe nessas religiões algo de verdadeiro e santo (NA 2) como também a importância do diálogo inter-religioso. Apesar do reconhecimento dessas questões, admoesta que é obrigação da Igreja “anunciar incessantemente Cristo, ‘caminho, verdade e vida’ (Jo. 14,6), em quem os homens encontram a plenitude da vida religiosa e no qual Deus reconciliou consigo todas as coisas” (NA 2). Noutro documento, Evangelii Nutiandi, Paulo VI exortava a Igreja acerca do empenho em anunciar o Evangelho aos homens de nosso tempo, tendo o testemunho que Jesus dá de si mesmo e o seu exemplo evangelizador como paradigma para a evangelização (EM 1, 7). Na Redemptoris Missio, João Paulo II lembrava a Igreja da validade permanente do mandato missionário, uma vez que “a missão de Cristo Redentor, confiada à Igreja, está ainda bem longe do seu pleno cumprimento” (RM 1). Ainda na Ad Gentes (AG 2) afirmava-se categoricamente que a natureza da Igreja peregrina é missionária, como cooperadora do desígnio de Deus Pai na missão do Filho e do Espírito Santo. 
Contudo, a teologia do pluralismo religioso traz novas inquietações ao anúncio da salvação em Cristo. O anúncio é aqui entendido como “a comunicação da mensagem evangélica, o mistério de salvação realizado por Deus para todos em Jesus Cristo, com o poder do Espírito” [1].
Deste modo entende-se que existe uma diferença entre diálogo interreligioso, missão evangelizadora e anúncio. O diálogo interreligioso entendido como “o conjunto das relações inter-religiosas, positivas e construtivas, com pessoas e comunidades de outros credos para um conhecimento mútuo e um recíproco enriquecimento” (DM 3) [2] não impede a missão evangelizadora e mais particularmente, o anúncio, isto é, a comunicação do mistério de salvação realizado por Deus para todos em Jesus Cristo. O diálogo representa um desafio, mas não um impedimento à missão evangelizadora. A Igreja é o sacramento universal da salvação, o germe e início do Reino, ela avança para a plenitude num diálogo de salvação. Deste modo, o diálogo não deve substituir o anúncio, porquanto se constitui a tarefa primordial da Igreja fazer crescer o Reino de nosso Senhor e do seu Cristo.
Neste novo contexto de pluralismo e diálogo interreligioso, a Igreja é desafiada a se empenhar mais profundamente, discernindo elementos crísticos presentes em certas verdades defendidas pelas religiões, mas sem confundir os elementos nelas também presentes que são incompatíveis com a fé e a singularidade de Cristo como mediador salvífico. A Igreja entra em diálogo de salvação com todos, mas a natureza de seu diálogo não é meramente antropológico, mas teológico. O diálogo da Igreja é um diálogo de salvação, embora não esteja excluído o diálogo da vida, das obras e da experiência religiosa.


 [1] SEDOC – Revista de Documentação – Santa Sé, 24, p.258-288. 
 [2] Citado in SEDOC 24, p.261.

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