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Depois de sair do hospital, Trump tem dia de reveses ligados ao vírus e negação – Jornal O Globo

No dia seguinte à sua altasegundo alguns médicos, apressada — do hospital, para continuar o tratamento contra a Covid-19 da Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump não apresentou sintomas de Covid-19 nesta terça-feira, segundo o seu médico, Sean Conley. Ainda assim, sofreu uma série de reveses ligados ao vírus, que reforçam a imagem de falta de comando frente à pandemia, a menos de um mês das eleições presidenciais.

A Casa Branca recuou em sua tentativa de pressão para acelerar o desenvolvimento de uma vacina, o que tornou mais improvável o anúncio de um imunizante antes da votação. O presidente também encerrou unilateralmente negociações com o Partido Democrata para a aprovação de um pacote de estímulo econômico contra os estragos da pandemia, mas pode ter dado um passo em falso, pois a responsabilidade pela falta de ação pode lhe cair sobre os ombros. Por fim, diversos militares do alto escalão do país precisaram entrar de quarentena após terem estado em contato com pessoas infectadas, o que provocou apreensão na área de segurança nacional.

O anúncio ligado à vacina veio à tarde. A Food and Drug Administration (FDA, a Anvisa americana) divulgou normas atualizadas e mais rígidas para os desenvolvedores de vacinas contra o coronavírus, um documento que a Casa Branca antes bloqueara por duas semanas. O governo federal decidiu aceitar os padrões exigidos pelo órgão para a aprovação de vacinas seguras e eficazes, o que provavelmente tornará o processo mais lento do que o presidente gostaria.

Desde o início da pandemia de coronavírus, a FDA disse buscar formas de acelerar o desenvolvimento de vacinas sem sacrificar a segurança. Quatro vacinas chegaram ao estágio final de teste, conhecido como ensaio de Fase 3, nos Estados Unidos, e uma quinta deve alcançar esta etapa neste mês. Trump sugeriu repetidamente que uma vacina estaria pronta no dia da eleição, se não antes, mas agora vê diminuírem as possibilidades de um imunizante ser usado como arma de campanha.

Pouco antes disso, veio a medida mais audaz de Trump do dia, que, para muitas analistas, configurou um tiro no pé. O presidente foi ao Twitter anunciar o fim das  negociações com o Partido Democrata para a liberação de um pacote de estímulo econômico contra estragos provocados pela pandemia. Ele responsabilizou o partido rival por exigir um volume exagerado de recursos, e disse que anunciará um plano de resgate após sua possível reeleição em 3 de novembro.

“Nancy Pelosi está pedindo US$ 2,4 trilhões para resgatar estados democratas, mal administrados e com alto índice de criminalidade, dinheiro que não está de forma alguma relacionado à Covid-19. Fizemos uma oferta muito generosa de US$ 1,6 trilhão e, como sempre, ela não está negociando de boa fé. Rejeito o pedido deles”, escreveu Trump, referindo-se à presidente democrata da Câmara dos Deputados. “Instruí meus representantes a pararem de negociar até depois da eleição, quando, imediatamente depois de minha vitória, aprovaremos uma importante lei de estímulo que se concentra nos trabalhadores americanos e nas pequenas empresas.”

As negociações para o pacote estavam empacadas há meses, e a maioria dos parlamentares não acreditava que seria possível chegar a um acordo até a eleição. No entanto, além de provocar uma queda no mercado, o anúncio abrupto fez parecer que a responsabilidade pela falta de ação é do presidente, afirmaram muitos observadores.

“Trump não apenas rejeitou fundos de estímulo que provavelmente teriam ajudado em suas chances de reeleição, mas também o fez de forma a ter certeza de que ele pessoalmente levará a culpa por isso”, escreveu em uma rede social o prestigiado estatístico e analista político Nate Silver, sintetizando a análise de vários de seus colegas.

Já o Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman afirmou que “de forma geral, é tarde demais para que alguma política faça diferença real na economia até o dia da eleição; esta seria a única grande exceção (…) As aparências importam: ao ter um ataque de raiva em vez de buscar um acordo, Trump provavelmente inclina mais alguns eleitores para Biden”.

As notícias ruins para Trump também se estenderam à área de segurança, com o mais alto escalão militar do Pentágono precisando partir para o auto-isolamento por precaução sanitária. Pela manhã, soube-se que o chefe do Estado-Maior Conjunto, Mark Milley, e quase todos os chefes militares que integram o órgão de comando das Forças Armadas, incluindo o general James McConville, chefe do Estado-Maior do Exército, isolaram-se depois que o almirante Charles Ray, vice-comandante da Guarda Costeira, apresentou resultado positivo para coronavírus.

“Estamos cientes de que o vice-comandante Ray testou positivo para Covid-19 e que ele esteve no Pentágono na semana passada”, disse Jonathan Hoffman, porta-voz do Pentágono, em comunicado. “Por excesso de cautela, todos os potenciais contatos próximos nessas reuniões estão em quarentena.”

O anúncio representou uma ocorrência alarmante nos EUA, uma vez que o vírus estende seu alcance desde os mais altos escalões do governo civil — já são 19 membros do governo infectados, o último deles o redator dos discursos de Trump, Stephen Miller — até o coração operacional do aparato de segurança nacional do país.

Funcionários do Departamento de Defesa disseram que a decisão de pôr os altos oficiais em quarentena obedeceu às diretrizes estabelecidas pelos Centros de Controle de Doenças (CDCs). A reação do Pentágono contrastou com a Casa Branca, onde Trump desrespeitou as mesmas orientações sanitárias.

O presidente, contudo, não demonstra disposição para retroceder ou mudar de tática. Logo pela manhã, afirmou que “está ansioso” para comparecer ao debate presidencial marcado para o próximo dia 15, quando, possivelmente, ainda estará infeccioso. À  noite, questionou pesquisas eleitorais sobre a Pensilvânia, estado-pêndulo onde, segundo estudos divulgados nesta terça-feira pela NBC, seu rival democrata está à frente por 4 pontos. “Como Biden lidera nas pesquisas da Pensilvânia quando ele é contra fracking (empregos!), a Segunda Emenda e religião? Pesquisas falsas. Vou ganhar a Pensilvânia!.”

A quatro semanas da eleição, contudo, o cenário não é animador para o presidente. Como tem sido a regra, Biden apareceu à frente em todas as pesquisas divulgadas na terça-feira relativas a estados indefinidos, incluindo Carolina do Norte, Flórida, Michigan, Arizona e Wisconsin. Em um discurso em Gettysburg, lugar histórico da guerra civil na Pensilvânia, o candidato democrata disse que Trump ” deu as costas” ao povo americano ao desistir do pacote econômico. Em seguida, insistiu na mensagem de união nacional que tem sido a marca de sua campanha:

— Há algo maior acontecendo nesta nação do que apenas nossa política quebrada. Algo mais sombrio. Estou falando de algo diferente, algo mais profundo. Muitos americanos procuram não curar as divisões, mas aprofundá-las — afirmou Biden. — Nós podemos transformar a divisão em uma unidade. Creio que muitas pessoas estão buscando isso.

Nesta terça-feira, o New York Times anunciou seu apoio a Biden, alegando que sua campanha é baseada em “firmeza, experiência, compaixão e decência”.

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