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Crise no MEC: o que já se sabe sobre áudio em que ministro admite pedido de Bolsonaro para passar verba a municípios indicados por pastores – Globo.com

Um áudio do ministro da Educação, Milton Ribeiro, detonou uma crise no ministério nesta terça-feira (23), que dá sinais de se estender pelos próximos dias. Na gravação, divulgada inicialmente pelo jornal “Folha de S. Paulo”, o ministro admite que, a pedido do presidente Jair Bolsonaro, repassa verbas do ministério para municípios indicados por pastores.

Depois que o áudio foi revelado, o ministro negou que Bolsonaro tenha feito o pedido e negou também que os pastores influenciam nas decisões do MEC.

Apesar das negativas de Ribeiro, a situação política dele no comando da pasta se tornou instável. Os desdobramentos da denúncia vão ser decisivos para o futuro do ministro.

Ministro da Educação diz em áudio que, a pedido de Bolsonaro, repassa verba a municípios indicados por pastores

Ministro da Educação diz em áudio que, a pedido de Bolsonaro, repassa verba a municípios indicados por pastores

Veja o que se sabe do caso até agora:

O que diz Milton Ribeiro no áudio?

Ministro da Educação diz em áudio que prioriza amigos de pastor a pedido de Bolsonaro

Ministro da Educação diz em áudio que prioriza amigos de pastor a pedido de Bolsonaro

No áudio gravado durante uma reunião de Milton com prefeitos, o ministro diz:

“Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar.”

Na reunião, estavam presentes, além dos prefeitos, os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura.

Mais à frente, o ministro acrescenta:

“Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar.”

Em determinado ponto da reunião, o ministro diz ainda que há uma contrapartida para esses repasses, mas não dá detalhes sobre isso.

“Então, o apoio que a gente pede não é segredo. Isso pode ser [inaudível] é apoio sobre construção das igrejas”, disse.

Quem são os pastores?

  • Gilmar Santos

O pastor Gilmar Santos tem 61 anos, é nascido em São Luís (MA) e comanda o Ministério Cristo Para Todos, uma das várias ramificações dentro da Assembleia de Deus, em Goiânia.

Segundo perfil escrito pelo próprio pastor em páginas nas quais oferece cursos de teologia, ele é formado em teologia e doutor em divindade.

O pastor já pregou na Ásia, na Europa, na África e na América do Norte, dirige o Instituto Teológico Cristo para Todos (ITCT) e preside a Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil (Conimadb).

  • Arilton Moura

O pastor Arilton Moura não é ativo nas redes sociais. Em um de seus perfis aparece como residente no Pará. Segundo a Conimadb, ele preside o Conselho Político da entidade.

Em 30 de maio de 2018, foi nomeado para o cargo de secretário estadual extraordinário de Integração de Ações Comunitárias pelo então governador do Pará Simão Jatene (PSDB). Foi exonerado do cargo no dia 1º de novembro do mesmo ano.

O pastor também aparece em registros do Tribunal Regional do Pará (TRE-PA) como presidente estadual do antigo PHS, incorporado pelo atual Podemos.

Relação dos pastores com autoridades

Os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura são personagens com trânsito em gabinetes de altas autoridades em Brasília.

Em 2019, primeiro ano do mandato, estiveram com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. Primeiro, em abril, Gilmar Santos foi fotografado ao lado do presidente em uma solenidade .

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Em outubro de 2019, Bolsonaro e o ministro Luiz Eduardo Ramos receberam os pastores Gilmar Santos (à esquerda) e Arilton de Moura (à direita) — Foto: Carolina Antunes/PR

Em outubro de 2019, Bolsonaro e o ministro Luiz Eduardo Ramos receberam os pastores Gilmar Santos (à esquerda) e Arilton de Moura (à direita) — Foto: Carolina Antunes/PR

Em outubro daquele ano, também no palácio, os dois participaram de um evento em que o presidente estava presente e, de acordo com registros oficiais do governo, entregaram a Bolsonaro um livro produzido pela Conimadb.

Em uma rede social, Conimadb mostra outro encontro dos dois pastores com Bolsonaro, dessa vez em fevereiro do ano passado.

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Conta do Instagram da Conimadb mostra Bolsonaro em evento com os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura em fevereiro de 2021 — Foto: Reprodução/Instagram

Conta do Instagram da Conimadb mostra Bolsonaro em evento com os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura em fevereiro de 2021 — Foto: Reprodução/Instagram

Em dezembro último, eles estiveram com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira.

E também em 2021 os dois se reuniram 18 vezes com Milton Ribeiro, de acordo com registros oficiais.

A agenda do ministro afirma que esses encontros eram de “cortesia” ou para tratar de “obras” ou de “alinhamento político”.

O que Milton Ribeiro disse sobre o áudio?

Após a repercussão do áudio, o ministro da Educação buscou se justificar. Ele disse, em nota, que Bolsonaro não fez pedido de favorecimento para os pastores.

“Não há nenhuma possibilidade de o ministro determinar alocação de recursos para favorecer ou desfavorecer qualquer município ou estado”, afirmou.

“Registro ainda que o presidente da República não pediu atendimento preferencial a ninguém”, completou o ministro.

Como fica a situação política do ministro?

Entidades da área de Educação disseram que Milton Ribeiro perdeu as condições de comandar o MEC.

Segundo a União Nacional dos Estudante (UNE), a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES) e a Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG), o ministro estabeleceu no MEC um gabinete paralelo que funciona “às margens da legalidade”.

“No momento em que vivemos a maior crise da educação brasileira, quando milhares de jovens evadem das escolas e universidades e pós-graduandos padecem com 9 anos de bolsas congeladas, realidade que exigiria do Ministro um grande esforço para reverter esse cenário, vimos o ministério ser transformado num grande balcão de negócios a céu aberto para alimentar esquemas eleitorais do presidente”, escreveram as entidades.

Entre os partidos políticos, também houve reação. Parlamentares de oposição apresentaram ao Supremo Tribunal Federal (STF) notícias-crime contra o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Educação, Milton Ribeiro, por suposto favorecimento a pastores na distribuição de verbas públicas.

Além disso, foram apresentados pelo menos cinco pedidos na Câmara para Milton Ribeiro dar explicações no plenário. Os pedidos ainda precisam ser aprovados.

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