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Criador da série ‘CSI’, lançada há 20 anos, diz que seu maior trauma foi trabalhar com Justin Bieber: ‘péssimo’

RIO — Anthony E. Zuiker não inventou a ciência forense. Mas não faltam evidências de que é o grande responsável por transformá-la em hit televisivo. Há 20 anos, quando escreveu em três dias o roteiro do piloto de “CSI: Crime Scene Investigation”, ele não fazia ideia do impacto que a série teria na história da TV mundial.

Talvez a desconfiança de Zuiker fosse fomentada pelas reações diante de seu projeto, recusado por emissoras como NBC, Fox e ABC, que afirmou que a série seria “muito difícil de ser entendida pelo público médio”. Ao bater na porta da CBS, ele teve a ideia abraçada, iniciando uma trajetória que durou até 2015, quando a série foi cancelada. Três spin-offs surgiram dela: “CSI: Miami” (2002-2012), “CSI: Nova York” (2004-2013) e “CSI: Cyber” (2015-2016).

“CSI”, a original, conta o cotidiano das investigações de um grupo de cientistas forenses do departamento de criminalística da polícia de Las Vegas, em Nevada. Com 335 episódios exibidos e 15 temporadas, a série atingiu seu auge em 2003, com a inacreditável média de 26,3 milhões de espectadores por capítulo nos EUA.

A prova de que “CSI” ainda é bastante popular está na TV brasileira. A série faz parte da grade diária do canal a cabo AXN, com todos os episódios da franquia também disponíveis no Now. Neste mês de outubro, o AXN exibiu ainda uma maratona especial para celebrar os 20 anos. Resultado: na primeira semana do mês, a emissora atingiu sua melhor audiência desde abril, e estreou no top 10 de audiências da TV paga em 2020.

Anthony E. Zuiker, criado do sucesso 'CSI' Foto: Divulgação
Anthony E. Zuiker, criado do sucesso ‘CSI’ Foto: Divulgação

Ao celebrar essas duas décadas de sucesso da franquia ao redor do mundo, Zuiker, de 52 anos, relembra qual foi o gatilho para seu interesse em uma trama marcada pela ciência forense.

— Eu era fã de um programa documental do Discovery Channel chamado “The new detectives”, focado na investigação de crimes reais. Antes disso, não fazia ideia de como era o trabalho desses investigadores — diz. — Foram seis meses de pesquisa junto ao departamento de polícia de Las Vegas até fechar o projeto e oferecer aos canais.

“CSI” teve, então, a responsabilidade de apresentar uma gama de particularidades investigativas ainda desconhecidas do grande público, como o uso do luminol — substância química usada pela polícia para encontrar vestígios de sangue. Também se tornaram populares os kits forenses, carregados pelos peritos da série para as cenas dos crimes, com luvas, pincéis e swabs — espécie de cotonete coletor de DNA e outros elementos microbiológicos.

Ao mesmo tempo em que aproximava o público do mundo das perícias, “CSI” enfrentava críticas severas. A série foi acusada de prestar um desserviço ao expor o segredo de técnicas investigativas que poderiam facilitar a vida de criminosos da vida real. Também não agradava a rapidez com que os crimes eram desvendados, nem a transformação da figura do investigador em celebridade.

— Sei que fomos “culpados” por despertar em muitos a vontade de ser perito. Respeito as críticas, mas apenas quisemos mostrar que a ciência diz a verdade quando um corpo não pode revelá-la por conta própria — defende-se Zuiker.

Cena de 'CSI: Nova York', spin off da série original Foto: Divulgação
Cena de ‘CSI: Nova York’, spin off da série original Foto: Divulgação

Por falar em críticos, “CSI”, que teve como primeiros protagonistas  William Petersen e Marg Helgenberger, jamais alcançou na escala de premiações o êxito adquirido em audiência. Em 20 anos, a franquia concorreu três vezes (2002, 2003, 2004) ao Emmy de melhor drama, e outras três (2001, 2002, 2004) ao Globo de Ouro. Perdeu em todas.

Com um total de 39 indicações ao Emmy, “CSI” levou para casa somente seis estatuetas, todas em categorias técnicas, como edição de som, fotografia e efeitos visuais.

— Em Hollywood, é muito difícil ganhar dinheiro e ser premiado. Mas se você me pedir para escolher entre o sucesso financeiro ou de crítica, escolho o financeiro. Pude ter acesso a uma vida confortável, empregar milhares de pessoas, cuidar dos meus filhos, viajar o mundo — diz Zuiker. — As premiações poderiam ser mais justas. Dava para ter vencido um Globo de Ouro, pelo menos. Mas fizemos um grande sucesso na TV e ninguém pode tirar isso da gente.

Cena de 'CSI': série inovou ao apresentar técnicas forenses ao público Foto: Divulgação
Cena de ‘CSI’: série inovou ao apresentar técnicas forenses ao público Foto: Divulgação

Uma trajetória, aliás, marcada por participações de celebridades, como Taylor Swift e Kim Kardashian, em 2009, e Charlie Sheen, que protagonizou um crossover entre “CSI” e sua comédia “Two and a half men”, em 2008.

O convidado que Zuiker guarda com mais carinho na lembrança atuou por trás das câmeras. Em 2005, coube a Quentin Tarantino dirigir o episódio final da quinta temporada de “CSI”.

— “Pulp fiction” foi uma das inspirações para que eu me tornasse o que sou. Vê-lo naquele set como um fã confesso da minha série foi muito louco — conta Zuiker. — Lembro dele entrando na sala de roteiro com um café com leite na mão, e cuspindo ideias. Nos disse que faria uma cena final parecida com a de “Kill Bill”, e aí caiu nossa ficha de que realmente Tarantino estava entre nós.

Caneca como ‘estrela’

Uma memória afetiva que Zuiker divide com experiências menos agradáveis, como a luta para fazer com que o ego de alguns atores diminuísse, tinha um motivo simples: o criador de “CSI” sempre bateu na tecla de que as estrelas de suas franquias eram as pistas deixadas nas cenas dos crimes. Para ele, era crucial que o ator em cena tivesse a consciência de que estava sendo coadjuvante de uma caneca, a verdadeira protagonista.

Justin Bieber em cena de 'CSI': participação em dois episódios Foto: Divulgação
Justin Bieber em cena de ‘CSI’: participação em dois episódios Foto: Divulgação

Ele, no entanto, não revela nomes, com exceção de um convidado cuja ficha problemática fortalece as suspeitas levantadas pelo testemunho de Zuiker.

— Jamais gostaria de trabalhar novamente com Justin Bieber, foi péssimo — dispara o produtor, referindo-se aos dois episódios da 11ª temporada de “CSI” que contaram com a presença do cantor canadense, então com 16 anos. — Foi muito problemático no set. Mas prefiro acreditar que tenha sido porque era muito jovem.

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