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Coronavírus: adultos que se infectam com variante do Amazonas têm carga viral dez vezes maior, diz estudo – Jornal O Globo

RIO — Cientistas brasileiros podem ter encontrado uma nova resposta para o comportamento mais infeccioso da variante do novo coronavírus surgida no Amazonas, a P1. Pesquisadores da Fiocruz Amazônia publicaram um estudo preliminar, na última quinta-feira, indicando que a carga viral da nova cepa em adultos é dez vezes maior do que em outras variantes do Sars-CoV-2. A variante, que já foi identificada em diversos estados, é apontada como um possível agente causador da alta de internações em todo o país e uma ameaça de colapso do sistema.

O trabalho, publicado no repositório Reasearch Gate e ainda não revisado por outros cientistas, avaliou 250 amostras genômicas do coronavírus colhidas entre março de 2020 e janeiro deste ano, período que contempla as duas ondas da doença na capital, Manaus.

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Os pesquisadores também concluíram que a rápida disseminação da P1 ocorreu através da combinação da flexibilização do distanciamento social no estado com a dinâmica de mutação do vírus, que acabaram por “selecionar” a versão mais infecciosa e torná-la prevalente. As alterações na chamada proteínas S do patógeno, utilizada para infectar células humanas, já eram apontadas como um fator que contribui para um papel mais infeccioso da cepa amazonense.

O aumento da carga viral, ou seja, a quantidade de vírus alojados nas vias aéreas, foi observado em adultos de 18 a 59 anos. O fenômeno, no entanto, não foi observado em homens acima dessa faixa etária. Pelo Twitter, um dos autores do estudo, Tiago Gräf, afirmou que o número de indivíduos com mais de 59 anos no estudo foi limitado, o que poderia ser uma das explicações para a diferença. Outra explicação plausível é o papel reduzido da imuinidade em homens mais velhos, como já estudado anteriormente no âmbito da Covid-19.

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Com uma vigilância genômica deficitária, o Brasil não monitora o avanço das linhagens do novo coronavírus na velocidade necessária. Cientistas não descartam, no entanto, que a P1 já tenha se espalhado pelo território brasilerio. Nesta semana, o país registrou o pior número de mortes pela doença em 24 horas: 1.582 vítimas fatais foram notificadas pelas secretarias na última quinta-feira. Diversos estados anunciaram medidas restritivas em resposta à crescente alta da taxa de ocupação de UTIs e de novos casos e óbitos.

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Efeito do distanciamento social

O trabalho, liderado pelo virologista Felipe Naveca, aponta que as festas de fim de ano ajudaram na disseminação da variante amazonense pelo Brasil. Se por um lado o vírus e suas mutações atingiram mesmo regiões remotas do Amazonas, o fenômeno teria sido represado, na avaliação dos pesquisadores, pela própria particularidade geográfica do estado e pelo isolamento social na primeira fase da pandemia, no ano passado.

“Não encontramos evidências de disseminação das linhagens amazonenses do Sars-CoV-2 fora do estado nos primeiros surtos, o que indica que o Amazonas não teve um papel importante na disseminação viral no Brasil em 2020. A falta de acessos terrestres na maior parte das cidades do estado a partir de outros estados, combinado à redução das atividades de turismo e do tráfego aéreo no ano passado, pode ter reduzido de forma significativa a exportação das variantes amazonenses do Sars-CoV-2 para outras regiões brasileiras”, escreveram os cientistas. “No entanto, as celebrações de Natal e do ano novo, combinadas ao surgimento da variante potencialmente mais transmissível P1,  pode ter mudado esse cenário”.

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Embora mutações sejam absolutamente comuns em vírus de RNA, como é o caso do Sars-CoV-2, uma das principais dúvidas de cientistas quanto as variantes surgiram como preocupação a partir da linhagem do Reino Unido era se havia tempo suficiente para o coronavírus selecionar uma mutação específica o suficiente para se tornar mais infeccioso. Uma outra consequência seria o escape vacinal, quando os anticorpos produzidos por uma vacina perdem a especificidade graças a uma mudança genética.

Uma das razões apontadas para a emergência precoce de uma variante com potencial danoso para a curva epidemiológica foi o enfraquecimento das medidas de distanciamento social e o uso de equipamentos de proteção individual, as chamadas intervenções não farmacológicas. Os mesmos recursos teriam freado a disseminação da Covid-19 no Amazonas em meados de 2020, embora nunca em um patamar seguro, pontua a pesquisa.

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“A falta de isolamento social eficaz e outras medidas mitigantes provavelmente aceleraram a transmissão precoce da variante P1, enquanto sua alta transmissibilidade deu combustível para a rápida insurgência de casos de Sars-CoV-2 e hospitalizações observadas em Manaus após seu surgimento”, afirmam os cientistas no estudo. “A adoção fraca de intervenções não farmacológicas como ocorreu no Amazonas e em outros estados brasileiros representam um risco significativo do surgimento e disseminação de novas variantes. Implementar medidas eficientes de mitigação combinadas a uma vacinação em massa é essencial para controlar a disseminação das linhagens do novo coronavírus no Brasil”.

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