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Conservadores auxiliam pré-candidatos à direita com seus planos de governo

Em entrevista a Oeste, integrantes do Ibcon contam como o projeto tem auxiliado políticos a estruturar suas propostas com base no conservadorismo e no liberalismo

Ibcon

Instituto presta orientações sobre liberalismo e conservadorismo | Divulgação

Um grupo de jovens do Instituto Brasileiro Conservador (Ibcon) tem auxiliado pré-candidatos de direita a construir planos de governo para as eleições municipais deste ano. A ideia é que os postulantes ao cargo de prefeito possam debater seus projetos alinhados aos temas defendidos, como o liberalismo, no âmbito econômico, e a doutrina cristã, no campo dos costumes. O grupo trabalha — de forma gratuita — com 50 pré-candidatos em todas as regiões do país.

Apelidados de “FGV da Direita”, os integrantes do Ibcon afirmam que o instituto não tem fins lucrativos por se tratar de um centro de estudos e de políticas públicas. Atualmente, a equipe é formada por 15 técnicos em áreas diversas como direito, economia e segurança pública.

Ouvidos por Oeste, os integrantes do instituto argumentam que a nova direita no Brasil sofre com a falta de tecnicidade para aprimorar o discurso na área de desenvolvimento econômico e social. Para apresentar o Ibcon, a reportagem conversou com o presidente, Romulo Castello, o diretor-geral, Marcus Vinicius Motta, e com o gerente de estudos municipais, Rodrigo Rios.

Como surgiu a ideia e qual foi a inspiração para criar um instituto conservador no Brasil?
Rodrigo Rios — A ideia veio da necessidade de fornecer quadros e estudos de visão conservadora. Temos hoje muitos centros e espaços que defendem a ideologia de esquerda. Temos alguns institutos liberais, mas sentíamos falta de institutos com essa vertente de direita conservadora. Então a gente viu que havia uma lacuna nesse espaço. Faltava um quadro técnico que pudesse auxiliar esses políticos de direita e conservadores que ascenderam nos últimos anos.
Marcus Vinicius Motta — Percebemos que a gente precisava pensar de forma técnica e formar quadros. Percebemos que a direita ia chegar ao poder, mas não teríamos um quadro de pessoas para trabalhar. Ou seja, nosso intuito é tentar formar pessoas para atuar da maneira que acreditamos, com uma doutrina cristã, contra a ideologia de gênero, a favor de uma escola que prepare cidadãos para o mercado de trabalho em vez de militantes. Reunimos pessoas com o mesmo objetivo de ajudar outras que busquem por mais conhecimento sobre o conservadorismo.

Como estão sendo criados os planos de governo para os pré-candidatos a prefeito e quais são as bases desses planos?  Como fazem a adaptação das ideias de acordo com a realidade de cada município?
Rodrigo Rios — A procura foi orgânica e veio por meio de pessoas que nos conheciam e eram próximas aos pré-candidatos ou filiados a partidos. Eles procuravam ajuda com propostas para os planos de governo. Diante dessa demanda, resolvemos criar uma gerência para disponibilizar estudos aos pré-candidatos. Claro que temos ajustes a fazer, conforme a realidade de cada município, mas algumas premissas são as mesmas. Entre elas, os pontos em comum em todas as orientações são o compromisso com planos de ordem urbanística; a diminuição da máquina pública; a facilitação de negócios; a redução dos cargos comissionados; a transparência dos gastos; a não criação de impostos sem justificativa clara.

Como é feita a adaptação das ideias de acordo com a realidade de cada município?
Rodrigo Rios — Além dessas premissas básicas que acreditamos que todos os candidatos devem defender, tentamos olhar os problemas específicos de cada município. Por exemplo, às vezes determinada cidade tem uma taxa muito alta de falta de saneamento, então, entre os compromissos, sugerimos que o candidato trabalhe para cumprir metas nessa área. Conversando com a equipe, a gente consegue adaptar as propostas.

Existe um entendimento por parte dos candidatos do que realmente é o conservadorismo e o liberalismo ou eles ainda não construíram essa formação?
Rodrigo Rios — Há candidatos que já têm uma linha conservadora mais explícita e lapidada e compreendem melhor o que falamos. Outros têm uma noção básica, mas às vezes não sabem como funciona uma PPP [Parceira Público-Privada], e aí entra nosso trabalho mais técnico com esse candidato. Explicamos por que adotar tal modelo seria bom para o município.

Quais as ideias trazidas pelos candidatos que foram adaptadas, pois eles não sabiam como executá-las?
Rodrigo Rios — Quando não conhecemos a realidade dos municípios, é importante que o candidato traga suas ideias para que possamos auxiliar melhor. Em um dos casos, por exemplo, um candidato afirmou que algumas escolas públicas estavam com problemas de orçamento e ele queria uma parceria com o Ministério da Educação para levar a escola cívico-militar. Mostramos quais caminhos ele deveria tomar e colocamos isso no seu plano de governo. Nossa função é repassar conhecimento e mostrar como as propostas podem ser adaptadas de acordo com cada situação.

Por ser um país com milhares de municípios, muitas vezes os políticos não costumam ter essa preocupação com os ideais de esquerda ou de direita nas eleições municipais. Essa alta demanda de direita surpreendeu?
Rodrigo Rios —  Sim, não tínhamos o objetivo de algo tão vultoso. Pensamos que seria uma coisa com cinco candidatos a prefeito e outros poucos a vereador. Mas o boca a boca foi muito rápido, e o pessoal gostou dessa abordagem técnica. A coisa cresceu. Muitos dos nossos consultados são novos na política e não tinham esse suporte técnico de como funciona o processo.

Qual o projeto para o futuro do instituto depois desse passo inicial?
Rodrigo Rios — Demos o primeiro passo, que foi reunir vários planos de governo com nossas ideias. Isso é importante porque pusemos as propostas em discussão. Ainda que nenhum candidato venha a ser eleito, o que acho difícil, essas ideias colocadas em debate chegarão à população. No futuro, nosso plano é oferecer cursos para treinar pessoas sobre finanças públicas, a Lei de Licitações e economia básica. Percebemos que hoje a direita não tem acesso a isso, e queremos disponibilizar esses conteúdos. Claro que nossa vertente vai ser o público conservador, mas nosso conteúdo vai ser disponibilizado para quem quiser aproveitar.

Essa demanda por conhecimento técnico também deve ocorrer na política nacional? Vocês acreditam que essa demanda por planos e propostas conservadoras deva crescer ainda mais em 2022?
Marcus Vinicius Motta — Avalio que a eleição de 2022 vai ser mais técnica. Teremos um governo que vai ter o que mostrar e vai ser criticado pela oposição pelo que fez. Contudo, essa bancada que está aí não vai poder apenas adotar o discurso de ser contra o PT, por exemplo. Então essa demanda por conhecimento técnico vai aumentar. Os candidatos vão ter de dizer o que fizeram e o que vão fazer.

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