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Bolsonaro planta descaso e quer colher vacinas – UOL Notícias

Um aparelho eletrônico, quem diria, tornou-se o principal opositor de Jair Bolsonaro. Nada é mais corrosivo para o prestígio do presidente do que as cenas de vacinação que chegam do exterior pelo televisor. As imagens deixam Bolsonaro zonzo.

Em menos de 72 horas, o presidente adotou três posições diferentes. No sábado, deu de ombros para o avanço da vacinação contra Covid noutros países. “Eu não dou bola pra isso.” No domingo, disse o oposto: “Temos pressa em obter uma vacina segura, eficaz e com qualidade…” Nesta segunda-feira, culpou os fabricantes pela falta de vacinas no mercado nacional.

O Brasil tem 210 milhões de habitantes. Um mercado consumidor, de qualquer coisa, enorme. Os laboratórios não tinham que estar interessados em vender para a gente? Por que eles, então, não apresentam documentação na Anvisa? Pessoal diz que tenho que… Não, não. Quem quer vender… Se eu sou vendedor, eu quero apresentar.”

O mercado, como se sabe, costuma se guiar pela lei da oferta e da procura, não pela vontade de gestores imprevidentes. No momento, o número de candidatos à vacina é maior do que a capacidade de produção dos fabricantes. Por isso, é grande, muito grande, incomensurável a procura por vacinas.

Os compradores fazem fila na porta dos laboratórios. Não é que os produtores de vacina tenham esquecido o mercado brasileiro. A questão é que o governo Bolsonaro jogou suas melhores fichas no imunizante da Oxford-AstraZeneca, que atrasou. Esnobou todo o resto, enquanto outros países iam às compras.

A Pfizer tentou vender sua vacina ao Brasil desde o meio do ano. A pasta da Saúde só acordou agora. Em outubro, Bolsonaro mandou rasgar o compromisso de compra de 46 milhões de doses da chinesa CoronaVac, testada no Brasil pelo Instituto Butantan. Agora, o governo cogita encomendar 100 milhões de doses.

Enquanto os brasileiros morriam de Covid, Bolsonaro imaginou que o negacionismo e a terceirização de responsabilidades imunizariam seu governo contra os efeitos da pandemia. Agora, numa fase em que os brasileiros começam a morrer de falta de vacinas, fica mais difícil distribuir as culpas.

Não é à toa que Bolsonaro leva o debate sanitário para o campo econômico. A economia compreende todas as atividades do planeta. Mas nenhuma atividade do planeta compreende integralmente a economia. Quando o sujeito não entende nem os fatos nem os números, basta misturar os fatos (angústia X descaso) e os números (210 milhões de brasileiros X nenhuma dose), para tecer com eles um indecifrável silogismo. Pronto! O gestor confuso já pode reivindicar que seus devotos continuem considerando-o um extraordinário presidente.

O único problema é que as poses de Bolsonaro não produzem imunizantes. O presidente plantou descaso desde março, quando a pandemia começou a matar no Brasil. Agora, quer colher vacinas. Se você é do tipo que economiza para os dias ruins, comece a se planejar para os dias piores. Eles já chegaram,

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