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Após derrota de Trump, Bolsonaro precisará fazer ajustes para escapar de conflitos – Jornal O Globo

A vitória do democrata Joe Biden para a Presidência dos Estados Unidos pode não ser ruim para o Brasil, como acreditam os mais pessimistas. Integrantes do governo brasileiro creem que Biden agirá com pragmatismo, pois quer que Brasília caminhe na mesma direção que Washington em diversos temas. No entanto, para isso funcionar, o presidente Jair Bolsonaro também terá de ser pragmático e fazer alguns movimentos e ajustes nas políticas externa e ambiental.

Segundo uma fonte da área diplomática, existe a convicção de que Biden não dará carta branca ao governo Bolsonaro na área ambiental, devido ao papel central das mudanças climáticas em sua agenda. Por isso, o presidente precisará fazer ajustes concretos nas políticas vigentes para evitar atritos maiores.

Se a resposta for ideológica, como tem sido até agora, Biden também será forçado a elevar o tom, com consequências negativas para o Brasil. Entre os poucos aliados que o governo Bolsonaro tem hoje estão os EUA de Donald Trump, a Hungria e a Polônia, onde há governos de extrema direita.

Menos protecionista

Um fator positivo levantado nos bastidores por técnicos da área econômica do governo é que Biden poderá ser menos protecionista do que Trump. Ele cedeu às pressões de setores como o siderúrgico e de alumínio, fechando o mercado para os exportadores brasileiros. A relação comercial entre os dois países é ruim para o lado do Brasil, que tem vendas para o mercado americano em queda e um déficit de mais de US$ 3 bilhões (R$ 16,09 bilhões) este ano.

Outra avaliação é que, na era Biden, o governo Bolsonaro precisará se aproximar mais do Congresso americano, de instituições da sociedade civil americana, de lobbies que atuam em Washington e investidores americanos. As boas relações dependerão bastante da iniciativa privada.

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O presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, Nelson Trad (PSD-MS), disse que as eleições nos EUA foram equilibradas e demonstraram uma vantagem do candidato democrata não só no âmbito popular como entre os delegados. O resultado, a seu ver, não pode ser contestado.

— Esperamos que a relação comercial entre Brasil e EUA possa melhorar e avançar, em função desse momento de retomada de desenvolvimento econômico pós-pandemia que nossos países vão atravessar — disse o senador.

Para o professor de Relações Internacionais Juliano Cortinhas, da Universidade de Brasília, Bolsonaro tem cometido uma série de erros em sua política externa, junto com ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, o assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Filipe Martins, e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Ele lembrou que, no começo do mandato, o governo Bolsonaro reconheceu Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela, unindo-se a dezenas de países cujo objetivo era derrubar o regime do chavista Nicolás Maduro, o que não aconteceu.

Ministros em risco

Bolsonaro também apoiou Mauricio Macri na tentativa de reeleição para a Presidência argentina, mas a eleição foi vencida por Alberto Fernández — de centro-esquerda e desafeto do presidente brasileiro.

— É um erro atrás do outro, que comprometeu o papel de liderança que o Brasil tinha na região. Fora dela, Bolsonaro apoiou o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, alvo de várias denúncias de corrupção, brigou com a China e fez propaganda para Donald Trump, que prometeu mais do que cumpriu — disse o acadêmico. — Biden tende a pressionar muito o Brasil com relação à política ambiental e aos direitos humanos.

Ele acrescentou que acredita que o chanceler Ernesto Araújo e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, “estão com os dias contados”.

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