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Após alta, Bolsonaro defende estudo sobre remédio sem eficácia comprovada contra a Covid-19 – O Globo

SÃO PAULO — Após receber alta na manhã deste domingo do Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, o presidente Jair Bolsonaro voltou a defender o uso de medicamentos sem eficácia comprovada para tratamento da Covid-19.

Ele disse que vai cobrar do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, um estudo sobre a proxalutamida, que segundo ele já estaria sendo utilizada contra a doença em outros países.

Em abril, Bolsonaro já tinha citado a proxalutamida, fármaco fabricado na China e estudado para o tratamento de câncer de próstata e de mama. Seu filho e deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) também já havia defendido seu uso para a Covid em uma rede social como “nova droga promissora contra a Covid”.

Mas o medicamento ainda não foi aprovado por agência reguladora para seu uso contra a Covid, nem no Brasil (pela Anvisa), nem nos Estados Unidos (pela FDA), e ainda está em fase de testes para utilização no tratamento de câncer.

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— (A proxalutamida) É uma droga que está sendo estudada e que em alguns países têm apresentado melhora. Existe no Brasil de forma não ainda comprovada cientificamente, de forma não legal, mas tem curado gente. Vou ver se a gente faz um estudo disso daí para a gente apresentar uma possível alternativa. Temos que tentar. Tem que buscar alternativas e, com todo respeito, eu não errei nenhuma. Até quando, lá atrás, eu zerei os impostos da vitamina D — afirmou o presidente.

Bolsonaro afirmou que se surpreende com o fato de que, no Brasil, “quem fala em cura da doença é criminoso”.

— Não é chute. É estudo. Não consigo entender por que criminalizar qualquer possibilidade de se descobrir uma alternativa ou remédio — disse.

A proxalutamida começou a ser associada a um possível tratamento para a doença em março, quando a agência reguladora americana (FDA) aprovou um pedido de investigação para uso do medicamento em casos de pacientes infectados pelo novo coronavírus.

No Brasil, também há estudos em andamento sobre a utilização do fármaco em pacientes infectados com o novo coronavírus, mas ainda sem dados conclusivos consistentes ou publicação em revistas científicas reconhecidas, com revisão de outros pesquisadores.

A teoria por trás da utilização da proxalutamida contra a Covid consiste no efeito anti-androgênico do fármaco. Potencialmente capaz de bloquear hormônios masculinos, ele seria também capaz de bloquear a entrada do novo coronavírus no organismo.

Isso porque estudos já mostraram que, para infectar uma pessoa, o vírus Sars-CoV-2 entra nas células por meio de um marcador que seria mais presente em pessoas que apresentam maiores níveis de testosterona. Mas ainda não há comprovação de que o fármaco atue de fato nesse bloqueio para a Covid.

Em janeiro deste ano, a Sociedade Brasileira de Infectologia publicou nota desaconselhando o tratamento precoce contra a Covid-19. “A SBI não recomenda tratamento farmacológico precoce para COVID-19 com qualquer medicamento, porque os estudos clínicos randomizados com grupo controle existentes até o momento não mostraram benefício”, afirmou a entidade na ocasião.

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Críticas à CPI

Na saída do hospital, o presidente voltou a fazer criticas à CPI da Covid e disse que “só Deus” o tira da cadeira da presidência.

— Se aparecer corrupção no meu governo, vou ser o primeiro a buscar uma maneira de apurar isso daí e deixar na mão de Justiça para que seja apurado — disse ele, afirmando que o país está há dois anos e meio sem corrupção.

Ele sugeriu que a CPI da Covid se dedique a apurar a origem do vírus e a possibilidade de cura.

Uma das frentes de investigação da CPI da Covid, a desinformação sobre a doença no país é marcada pela distribuição de mensagens falsas que simulam e falsificam a linguagem científica, fenômeno conhecido como “fake science” (ciência falsa, em inglês).

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O alerta é de um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal Fluminense (UFF) que identificou o uso da estratégia em ao menos 57 publicações feitas por 38 sites, a maioria bolsonarista, ao longo da pandemia. O GLOBO apurou que parte desses textos foi divulgada, inclusive, por parlamentares da base do governo.

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Calma na volta às atividades

O médico que acompanha o presidente, o cirurgião Antonio Luiz Macedo, disse no sábado que Bolsonaro não terá, a longo prazo, restrições alimentares.

Atividades como andar de moto, por outro lado, devem esperar até que o presidente esteja bem de saúde. O próximo passo do tratamento consiste em manter a alimentação pastosa.

— A (alimentação) cremosa precisa de uma colher para pegar. E a pastosa um garfo. Ambas precisam de mastigação — disse o médico, observando que ele deverá evitar alimentos que formem gases no intestino.

Macedo afirmou que o presidente poderá retornar às atividades “com calma”. Bolsonaro poderá, por exemplo, realizar caminhadas.

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