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Aliados veem Mourão como porta-voz de ministros que defendem reconhecimento da eleição de Biden – O Globo

BRASÍLIA — Autor de declarações contrariando o presidente Jair Bolsonaro, o vice Hamilton Mourão assumiu o papel de ‘porta-voz’ de ministros técnicos do governo, afirmam interlocutores do próprio chefe de Estado. Nesta sexta-feira, Mourão considerou a vitória de Joe Biden nos Estados Unidos “cada vez mais irreversível”, adotando um posicionamento adverso ao do parceiro de chapa que se nega reconhecer publicamente a derrota do republicano Donald Trump.

— Como indivíduo, eu reconheço, mas temos que olhar que eu não respondo pelo governo. Como indivíduo, eu julgo que a vitória do Joe Biden está cada vez mais sendo irreversível — disse Mourão, em entrevista à Rádio Gaúcha.

A declaração do vice-presidente evidencia uma guerra branca que está sendo travada nos corredores do Palácio do Planalto desde que o presidente demonstrou que atenderia a ala ideológica do governo e não reconheceria a vitória do democrata Joe Biden.

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Enquanto ministros técnicos de áreas estratégicas do governo se preocupam com os efeitos do posicionamento do presidente quanto às relações bilaterais entre os países e tentam, em vão, convencê-lo a reconhecer a vitória do democrata, Bolsonaro se nega a ceder se fiando nos conselhos dos ideológicos: ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, assessor especial da Presidência, Filipe Martins, e de seu filho o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP)

Antes enfraquecidos, conservadores e ideológicos ganharam poder desde a indicação de Kássio Nunes Marques ao Supremo Tribunal Federal (STF). Na avaliação de interlocutores de Bolsonaro, a reação de apoiadores nas redes sociais provocou uma nova mudança de comportamento no perfil do presidente. O tom moderado que vinha sendo trabalhado desde junho deu espaço novamente a declarações polêmicas e, em alguns casos, consideradas até homofóbicas, como a recente manifestação sobre um refrigerante cor de rosa famoso no Maranhão.  

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Reservadamente, ministros consideram um “erro” o presidente insistir numa reversão das eleições americanas. Como mostrou a revista Época, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, foi um dos primeiros a tentar convencer Bolsonaro a mudar de opinião sobre Biden, tão logo a imprensa americana reconheceu a vitória de Biden. Mas Bolsonaro insistiu que só se manifestaria após a oficialização do resultado por todos os estados ou pelo país, em 14 de dezembro. 

Passíveis de demissões caso contrariem o presidente, ministros se calaram. Bolsonaro ameaça a todo momento dar “cartão vermelho” a quem está em desacordo com os pensamentos dele ou do governo. Na última quinta, durante uma transmissão ao vivo, afirmou que quem se “casou” com o governo dele, já sabia das suas propostas, portanto, não pode reclamar.

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Diante deste cenário, o indemissível Mourão — que não pode receber cartão vermelho — surge como porta-voz dos insatisfeitos e dá seus recados. Além da declaração sobre Biden, o vice contrariou o presidente recentemente afirmando que o governo vai comprar a vacina CoronaVac contra Covid-19 e alegando que toda a briga em torno do assunto se tratava de uma questão política contra o governador João Doria (SP). Depois, de desautorizar Mourão, o próprio Bolsonaro admitiu que o governo deve comprar o medicamento.

Nas declarações, Mourão tem o respaldo das Forças Armadas. Recentemente, militares têm procurado o general Eduardo Villas Bôas para fazer críticas a certos posicionamentos do chefe do executivo. Ex-comandante do Exército, Villas Bôas se tornou numa espécie de conselheiro de Bolsonaro desde uma conversa que tiveram durante a campanha de 2018, em que o militar decidiu apoiar o deputado.

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A insatisfação na caserna levou o comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, a dizer que os militares não querem “fazer parte” da política e nem querem que a política “entre” nos quartéis. Militares entenderam que Pujol enviou um recado para a instituição a fim de evitar qualquer movimento de rebelião ou insubordinação de militares revoltados com o governo.  A declaração foi feita durante participação em uma transmissão ao vivo na instituição.  

— Não somos instituição de governo, não temos partido. Nosso partido é o Brasil. Independente de mudanças ou permanências de determinado governo por um período longo, as Forças Armadas cuidam do país, da Nação. Elas são instituições de Estado, permanente. Não mudamos a cada quatro anos a nossa maneira de pensar e como cumprir nossas missões — reforçou, nesta sexta-feira, o comandante do Exército.

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Pujol tem feito manifestações pontuais contra posicionamentos de Bolsonaro. Em outubro, enquanto o presidente se negava reconhecer a gravidade da Covid-19, o comandante classificou a pandemia como “uma das maiores crises vividas pelo Brasil nos últimos tempos” e ainda lembrou que 25 mil militares atuam nas ações de enfrentamento ao vírus em todo o país. 

Em junho, quando militantes conservadores atacavam o Supremo Tribunal Federal, Pujol saiu em defesa da Corte, reunindo-se com os ministros e destacando que Forças Armadas e Judiciário iam “abrir um canal de conversa”. A época, o ministro Gilmar Mendes afirmou que as Forças Armadas não eram “milícias do presidente da República”, “nem de força política” que o apoiava. 

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