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A Teologia de Karl Barth

A Teologia de Karl Barth, um
dos teólogos do século XX (segundo autores como o católico Hans Urs von
Balthasar e o protestante André Biéler), é difícil de ser enquadrada em uma
classificação. Pelo menos, três fases de sua Teologia podem ser percebidas: — a
fase liberal inicial, a fase dialética e a fase madura (caracterizada pela
monumental obra Dogmática Eclesiástica).

Em 1916, Karl Barth e seu
amigo Eduard Thurneysen começaram a estudar juntos, a carta aos Romanos. Junto
com Thurneysen, Barth iniciou um movimento de retorno à Escritura Sagrada e à
teologia dos Reformadores.

Em 1919, Barth escreveu o
Comentário à Carta aos Romanos. Em 1922, ele escreveu a segunda edição,
completamente reformulada, marcando o surgimento da assim chamada teologia
dialética, também conhecida por teologia da crise.

Obra
– O comentário à carta aos Romanos
.

No prefácio à segunda
edição, Barth diz: — “nesta segunda
redação do livro eliminei na medida do possível tudo o que na primeira pudesse
deixar entender que a Teologia se funda, se apoia sobre uma Filosofia da
existência ou dela receba a justificação”
. Portanto, a segunda edição do
Comentário à Carta aos Romanos é o documento histórico que marca o início da
Teologia da crise, pois Barth designava a Palavra de juízo divino contra todo o
empreendimento humano.

O ser humano é descrito como
um pecador que virou as costas para Deus, encontrando-se agora numa espécie de
cegueira. Por si mesmo, o homem não possui a capacidade de conhecer a Deus. O
conhecimento de Deus é uma dádiva a ser recebida pela fé em Cristo (Esios 2).
O ser humano precisa se confrontar com a graça revelada em Cristo.

O
conceito de religião
.

Barth salientou que existe
uma distância infinita e qualitativa entre ser humano e Deus. Além desta
distância, existe uma oposição substancial entre Deus e tudo aquilo que é
humano: — a razão, a cultura e a
filosofia
. Com sua pretensão de tornar a fé popular com recursos do método
histórico–crítico — método não usual, pois a ortodoxia nasce do método
histórico–gramatical — da cultura e da filosofia, os teólogos liberais teriam
diminuído a transcendência de Deus.

Barth se contrapôs a isto,
afirmando que Deus é “o Totalmente
Outro”
, sendo inútil tentar captá-lo com instrumentos humanos. Segundo ele:
Deus é o Deus desconhecido […]. A
excelência de Deus sobre todos os deuses, a sua característica como Deus, como
Criador e Redentor, está no fato de que nós não podemos saber nada de Deus, no
fato de que nós não somos Deus, no fato de que o Senhor deve ser temido. Por
isso, é legítima a rebelião contra o Deus que é fruto de uma religião que, como
a liberal, transforma Deus em ídolo. Ela, porém, não atinge a Deus, mas somente
sua caricatura humana […]. Contra Zeus, o não–Deus que tomou o seu lugar, prometeu
revolta-se com toda razão”
.

De acordo com Barth,
portanto, o homem nada pode saber e dizer a respeito de Deus por si mesmo. A
pessoa que pretende falar de Deus a partir de seus sentimentos e raciocínio
estaria na verdade falando de um ídolo. O verdadeiro Deus é “Totalmente Outro” em relação ao ser
humano – em tudo o que Ele pensa, sente, deseja, elabora e compreende.

Afeito à idéia de revelação,
Barth descobriu nas Sagradas Escrituras a grande ruptura: — a separação entre
Deus e o homem, entre o Reino de Deus e o mundo. O Deus do Evangelho – o
desconhecido, o Totalmente Outro, e absolutamente transcendente – revela-se e
diz não a todos os empreendimentos da cultura e do espírito, mediante os quais
o ser humano se esforça para afirmar sua autonomia e seu poder. Dentre todos os
empreendimentos humanos, a religião seria o mais pernicioso.

O homem religioso, para Karl
Barth, seria aquele que quer captar Deus para seu proveito próprio, e desse
modo se afunda na mentira e na idolatria. Sendo assim, nenhum outro
empreendimento estimularia mais a mentira e a idolatria do que a religião. A
vivência da fé foi transformada em Cristianismo, e a Igreja cristã passou a se
comprometer com o mundo, com a civilização e com a História. Com esta
vinculação, Cristianismo e Igreja teriam recusado o não que Deus pronuncia
sobre toda a humanidade.

A percepção deste não divino
é, também, a percepção de que o Deus oculto – o Totalmente Outro – está se
revelando. De acordo com Barth, ao encontrar o homem, Deus o chama a uma
decisão existencial da fé. Portanto, todo o empreendimento humano dever-se-ia
reduzir a nada na presença da Palavra de Deus. A revelação de Deus invade a
existência humana, levando o homem a uma decisão existencial. O único contato
possível entre o divino e o humano se dá por intermédio da encarnação de Deus
em Jesus Cristo.

Neste instante, segundo a
dialética de Karl Barth, o sim de Deus atinge verticalmente o homem e o mundo.
O sim de Deus foi pronunciado em Jesus Cristo – o momento central e decisivo
desta revelação vertical. Portanto, para Barth (indicando, assim, a herança
calvinista) é Deus quem estabelece o relacionamento, não havendo caminho que se
dirija da terra para o céu.

Deus
– o Totalmente Outro
.

Por si mesmo o homem nada
pode saber e dizer a respeito de Deus. Só podemos falar verdadeiramente de Deus
o que Ele mesmo transmitiu. Somente o que Deus revelou de si mesmo pode ser
conhecido e comunicado pelo ser humano. A pessoa que pretende falar de Deus a
partir de seus sentimentos e de seu raciocínio está na verdade falando de um
ídolo. O verdadeiro Deus é “Totalmente Outro” em relação ao ser humano – em
tudo o que a pessoa pensa, sente, deseja, compreende e elabora.

Deus
não é um poder ou uma verdade, Deus não é o Ser a ser descoberto pelo próprio
ser humano para então lhe outorgar o título de divindade; ao invés, Deus é
aquele que se tornou conhecido do ser humano como seu real Senhor, ao ir ao seu
encontro agindo, julgando, perdoando, santificando, prometendo, isto é, ao se
revelar a ele”
.

A
revelação de Deus
.

Para uma correta
compreensão, precisamos retornar às fontes: — a autorrevelação de Deus e o
testemunho da Sagrada Escritura. Deus é anterior a tudo o mais que existe. Ele
também é o absoluto primeiro ao se decidir pela eleição. Ele é absolutamente
livre, pois de outra maneira ele nem seria Deus. A demonstração de que o amor
de Deus transborda é que Ele é em si mesmo suficiente, não padecendo de
solidão, mas decidiu, em sua glória divina, compartilhar-se a si mesmo. O
transbordamento do amor de Deus é a essência divina. É um amor misericordioso e
paciente. Como explica Barth:

“A
decisão de Deus em Jesus Cristo é uma decisão em graça. Se é verdade que em
Jesus Cristo a plenitude da Divindade (Colossenses 2:9) tomou forma de corpo,
então justamente Deus pode em toda plenitude, enquanto se distingue de tudo o
que não é Deus, ser recebido como o soberano que se manifesta. Se é verdade que
a plenitude de Deus se agradou em fazer morada em Jesus Cristo (Colossenses 1:19),
então o próximo passo para uma doutrina cristã de Deus é inevitável. Também se
torna imediatamente claro em que direção esse passo deve acontecer. Jesus
Cristo é Deus em sua manifestação ao ser humano. Jesus Cristo é a decisão de
Deus para esse procedimento. Ele próprio é esse procedimento divino. Deus não
seria Deus sem o Filho sentado à direita do Pai”
.

Jesus
Cristo — a Palavra de Deus
.

A eterna Palavra de Deus se
uniu ao ser humano Jesus de Nazaré. E Deus estabeleceu uma aliança com o seu povo.
Nós nos relacionamos com o Deus que se manifestou em Jesus Cristo. Esse
testemunho da Sagrada Escritura impede que nossos pensamentos se dispersem. A
Escritura Sagrada faz nossos pensamentos convergirem para a manifestação de
Deus em Jesus Cristo. Deus só pode ser encontrado e conhecido em seu Filho e em
sua Palavra.

“Entre Deus e o ser humano encontra-se a pessoa de Jesus Cristo, Ele próprio Deus e Ele próprio ser humano, e assim intermediando entre ambos; nEle Deus se manifesta ao ser humano; nEle o ser humano reconhece Deus; nEle Deus se posiciona diante do ser humano e o ser humano se encontra diante de Deus, como é a eterna vontade de Deus e como é a eterna determinação do homem, correspondendo à vontade de Deus. Nele está estabelecido o plano de Deus com o ser humano, o juízo de Deus executado sobre o homem, a salvação de Deus consumada para o homem, a dádiva de Deus para o homem presente na plenitude, a reivindicação de Deus e a promessa de Deus pronunciada ao homem. Nele Deus se “comprometeu” com o ser humano. Ele é a Palavra de Deus, em cuja verdade tudo foi decidido, cuja verdade não pode ser sobrepujada e nem delimitada por nenhuma outra palavra. Ele é a Decisão de Deus, detrás e acima da qual não há anterior e nem superior e nem outra ao lado, contanto que todas as outras resoluções só podem servir para a consecução dessa uma. Ele é o Início de Deus, diante do qual não existe outro, exceto o único início que Deus tem em sei mesmo, assim que fora do próprio Deus ninguém e nada pode provir de outra parte, nem olhar em retrospectiva para um outro início. E é a Eleição de Deus, antes da qual, sem a qual e ao lado da qual Deus não efetivou outra, assim que diante dela, sem ela e ao lado dela ninguém e nada é eleito e desejado por Deus. E justamente Ele é a eleição (e portanto, também o início, a decisão, a Palavra) da livre graça de Deus. Pois, é livre graça de Deus que Deus elege isto: — ser um homem em si mesmo, intermediar-se a si mesmo e vincular-se ao ser humano. Ele, Jesus Cristo, é a livre graça de Deus, na medida em que esta não só permanece idêntica com o ser interior, eterno de Deus, porém é poderosa nos caminhos e atividades de Deus para fora. Justamente por isso não existe nenhuma eleição, nenhum início e resolução, nenhuma Palavra de Deus antes e sobre, ao lado e fora dEle. Livre graça é o único fundamento e sentido de todos os caminhos e obras de Deus para fora”.

“A
eleição de Deus é original e propriamente a decisão de Deus para que seja assim
como está descrito no Evangelho de João 1:1, 2: — que verdadeiramente a Palavra
– a Palavra, que é este que se chama Jesus – está no início, junto a Ele mesmo,
semelhante a Ele mesmo e com Ele sendo um na Divindade. Justamente por isso ela
é per se eleição na graça. Que isso seja assim, em verdade não se compreende
por si mesmo. Deus não seria Deus, Ele não seria livre, se isso assim
precisasse ser […]. O eterno Deus não estava devendo ao ser humano em si mesmo
ser o Deus que por essência portasse esse nome. Que Ele de fato é este Deus,
isto o ser humano não tem merecido, isto só pode lhe ser dado de presente”
.

Paz e graça.

Por Pr. Plínio Sousa.

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