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Shadow

A Doutrina Satânica de uma Cruz Sem Ira

Um dia, ao examinar a seção de religião de uma livraria, em meio à uma mistura literária de ortodoxia, heresia e moralismo motivacional, um título chamou minha atenção.

“As Mentiras que Nos Contaram Sobre Deus”, de William Paul Young, autor do romance best seller A Cabana, parecia pequeno e conciso, e abordava uma necessidade real no mundo: corrigir mal-entendidos a respeito de Deus.

Os assuntos dos capítulos, cada um tratando de uma alegada mentira a respeito de Deus, incluíam coisas que poderiam parecer enganos óbvios—coisas como “Deus é um mágico” ou “A morte é mais poderosa que Deus”. Mas outros assuntos que Young lista como mentiras muito definitivamente não o são.

A sucessão de capítulos que mais me assustou em “As Mentiras que Nos Contaram Sobre Deus” gira em torno dos assuntos a respeito da expiação—ou seja, aquilo que Jesus conquistou espiritualmente em sua morte:

  • O inferno é separação de Deus.
  • O pecado nos separa de Deus.
  • A cruz foi ideia de Deus.

De acordo com Young, todas estas são mentiras. Além disso, ele incluiu um capítulo posterior intitulado “God Requires Child Sacrifice” [Deus Requer o Sacrifício de Crianças], uma pretensa tentativa de desqualificar a ideia de que Jesus satisfez a ira de Deus na cruz.

Esta é a caricatura da expiação penal substitutiva sobre a qual Young desajeitadamente se apoia, para que possa derrubá-la também de forma desajeitada. Referindo-se a um deus sedento de sangue que precisa ter seu senso de indignação justa aplacado, Young quer que os leitores pensem que ele está diferenciando um Deus misericordioso e gracioso de um conceito pagão de uma deidade cheia de caprichos. Ao invés disso, ele diminui a santidade de Deus, despreza a seriedade do pecado, e menospreza a linguagem bíblica a respeito dos caminhos de Deus para com os homens.

Young representa uma inquietação crescente no mundo evangélico com o conceito de um Deus irado e uma cruz propiciatória. Mais e mais, os crentes estão prestando atenção a autores e pastores que negam a expiação penal substitutiva e se referem a ela com a pior linguagem imaginável, dizendo coisas como: “crer em expiação penal substitutiva é ser adorador de um deus sedento de sangue que viola suas próprias leis, que proíbem o sacrifício infantil, a fim de cometer um abuso cósmico e um assassinato contra seu próprio filho”.

Bem, isto é tudo?

Há alguns anos, depois de ter feito uma palestra a respeito da cruz numa faculdade cristã, um jovem se aproximou de mim para me inquirir a respeito da minha visão sobre o sacrifício de Cristo. Minha palestra não havia sido sobre a substituição penal ou sobre as minúcias da doutrina da propiciação. Eu havia meramente proclamado as boas novas de que na cruz, Jesus havia sofrido a punição pelo pecado, para que a disposição de Deus para com aqueles que creem nele não fosse de condenação, mas de vida eterna. Até então, não havia me ocorrido que esta mensagem pudesse ser controversa entre cristãos professos.

Meu novo amigo expressou aversão à ideia de um Deus irado. Utilizou palavras como “sedento de sangue” e “abuso infantil”. Para ele, não parecia haver qualquer espaço na sinfonia cruciforme para a parte “penal” da substituição penal. Muitos que negam a expiação pela substituição penal dizem: “Claro, Cristo foi nosso substituto; mas ele não recebeu a ira de Deus”.

Minha resposta geralmente é: “Então, quem recebe?”.

Na busca de uma expiação que seja menos sangrenta, menos escura ou menos ofensiva, podemos chegar aos tropeços em uma que é menos efetiva, menos poderosa, menos… bem, menos expiatória.

O diabo adora esta trajetória, pois se ele puder nos fazer parar de pensar a respeito da ira de Deus na cruz, pode fazer o mesmo em relação a como o nosso pecado ofende a Deus; o que quer dizer que ele pode nos distrair da santidade de Deus, e portanto, de nossa necessidade de salvação. A cruz não significa apenas ira, é claro, mas se perdermos este aspecto vital da obra expiatória de Cristo, perderemos o próprio âmago das boas novas.

Os que se opõem à expiação penal substitutiva tem que enfrentar a realidade do horror abjeto da cruz. Jesus Cristo realmente morreu uma morte angustiante e sangrenta numa cruz romana, no lugar chamado “A Caveira”. Não temos obrigação de ajeitar e fazer com que este fato se encaixe nas noções inspirativas de desenvolvimento humano e de progresso religioso.

Isto não é apenas jogo de palavras acadêmico a respeito de minúcias teológicas. Tudo isto importa porque o que a Bíblia nos ensina a respeito da salvação importa. Importa tanto, que se nos distanciarmos a respeito deste ensino sobre a salvação, comprometeremos nossa própria salvação.

Ao final, foi nesta direção que conduzi o jovem estudante que desafiou minha visão da expiação penal substitutiva. Depois de examinar com ele a narrativa bíblica o melhor que pude de memória e ver que ele não estava concordando, eu só lhe perguntei diretamente: “você é pecador?”.

Ele refletiu por um segundo, e disse: “sim”.

Então perguntei: “Como é que seus pecados são perdoados?”.

Pude perceber que ele estava refletindo sobre a pergunta.

Me perguntei se ele já havia refletido sobre isto. Se ele havia ficado tão encantado com debates acadêmicos a respeito da cruz e com a rejeição da doutrina rude que ele reprovava, que se esqueceu de tomar a cruz não somente intelectual, acadêmica ou teoricamente, mas pessoalmente.

Devemos nos cuidar para que a priorização de qualquer outra visão da expiação que não a penal substitutiva, não seja uma tentativa de manter a cruz à distância. Necessitamos nos cuidar para não defender uma cruz baseada em efeitos imputados a outros ou a questões específicas, e não sobre nós mesmos.

O sangue do Cordeiro é precioso demais para não ser aplicado sobre as ombreiras e vergas de nossas próprias portas.

O diabo adora uma cruz sem sangue. Ele não se importa com uma joia brilhante em seu pescoço, contanto que a cruz não seja um tesouro brilhante em seu coração.

Satanás tem medo do sangue. Ele sabe que o sangue limpa pecadores (Hb 9.14; 1Jo 1.7; Ap 7.14). Ele sabe que a cruz sangrenta o expõe publicamente ao desprezo (Cl 2:15). E ele sabe que o sangue de Cristo pagou a dívida de ira dos pecadores (Rm 3.23; 1Jo 4.10), fazendo com que suas acusações sobre o povo de Deus sejam eternamente sem efeito.

E é por esta razão que Satanás adoraria que você fizesse do seu evangelho algo simpático e respeitável.

Traduzido por João Pedro Cavani.

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