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A autoria do livro de Gênesis

Embora o Novo Testamento fale do Pentateuco em geral como “Moisés” ou “livro” ou “lei” de Moisés, em parte alguma indica especificamente o livro de Gênesis com esses termos. Por seu turno, o Pentateuco fala da decisiva participação de Moisés em sua produção, desde os seus primeiros registros da maldição lançada sobre Amaleque (Êx 17:14) e do livro da aliança do Sinai (Êx 24:3-7), até à escrita e preservação de sua final exposição da lei (Dt 31:24-26). Sob Deus, o cerne e a substância dos livros de Êxodo e Deuteronômio são obra dele, bem como, sob Deus, os acontecimentos relatados constituem a história da sua vida. Contudo, Moisés é sempre “ele”, nunca “eu”, nesses acontecimentos. Até mesmo o “registro dos itinerários” de Nm 33 está na terceira pessoa (isto é, foi escrito com base no registro feito por ele, não apenas inserido), e quando deveras fala na primeira pessoa, como em Deuteronômio, uma introdução e uma conclusão estruturam suas palavras e dão ao relato final o cunho de história, e não autobiografia.

Nada aí corresponde às memórias de Neemias, desacompanhadas de introdução, nem às “passagens-nós” de Atos. Ao atribuir o Pentateuco como um todo a Moisés, o Novo Testamento parece sugerir que em Gênesis há uma relação de semelhança entre o conteúdo substancial e a forma externa final, como sugere que há nos demais livros. Isto é, que o material é de Moisés, seja quem for o seu biógrafo e editor. Parece artificial, por exemplo, excluir Gênesis da expressão de nosso Senhor: “Moisés… escreveu a meu respeito” (Jo 5:46) e da exposição que fez no caminho de Emaús: “começando por Moisés” (Lc 24:27; cf. 44). Essa distinção jamais ocorreria a nenhum dos leitores originais dos evangelhos. Este modo de considerar a relação entre Moisés e os livros que trazem seu nome parece concordar com algumas das pequenas pistas superficiais existentes em Gênesis.

É preciso salientar, porém, que não são concludentes. Por um lado, por exemplo, 47:11 emprega os termos “terra de Ramessés” para indicar o território israelita, expressão que podia ter vindo de modo particularmente fácil a Moisés, se é que foi contemporâneo de Ramessés II. Por outro lado, 36:31, passagem que fala dos reis que reinavam em Edom “antes que houvesse rei sobre… Israel”, segundo qualquer forma normal de entendimento, atribui-se a si própria como sua data o tempo de Saul ou uma época posterior a ele. Contudo, esta lista de reis tanto podia ser um adendo para dar atualidade a um livro antigo, como podia indicar a data da sua composição. Não há meio seguro de determinar isso. Outras frases de menor importância com possíveis dados sobre datas são 12:6 (cf. 13:7 “Nesse tempo os cananeus habitavam essa terra”, e 14:14 “até Dã” (cf. Jz 18:29).

A primeira não é decisiva, visto que “nesse tempo” pode significar “nesse tempo, como agora” (cf. Js 14:11), ao passo que a outra, como 36:31, citada acima, podia indicar ou o período do autor ou de algum escriba que substituiu um nome arcaico por outro de uso corrente. Portanto, a evidência bíblica, no livro e fora dele, deixa aberta a questão se a inclusão de Gênesis entre os escritos de Moisés significa simplesmente que ele constitui o fundamento do Pentateuco ou que Moisés o escreveu pessoalmente. Mas talvez se possa acrescentar a esta altura que o livro mostra uma amplitude de concepção e um conjunto de erudição, maestria e discernimento psicológico e espiritual, que o tornam proeminente, por consenso comum, mesmo no Velho Testamento.

GÊNESIS Introdução e Comentário

REV. DEREK KIDNER, M. A.

SÉRIE CULTURA BÍBLICA

pags 15-16

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