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Três pacientes que estavam no Hospital Geral de Bonsucesso morrem após incêndio; duas mulheres, com Covid-19 – Jornal O Globo

RIO — O incêndio no Hospital Federal de Bonsucesso já causou a morte de pelo menos três pacientes. Duas delas, mulheres com quadro grave de Covid-19. A primeira, Núbia Rodrigues, de 42 anos, era radiologista em outra unidade e havia sido internada com sintomas da doença há poucos dias, após passar por atendimento em duas UPAs. Ela não resistiu à transferência para o Hospital municipal Ronaldo Gazolla. A segunda vítima confirmada da tragédia, uma senhora que teria 83 anos, também tinha diagnóstico de coronavírus. Transferida para o CTI da maternidade do hospital, ela também acabou morrendo, com uma infecção pulmonar. A terceira morte foi confirmada por volta das 22h. Um paciente, homem, de 39 anos, que já encontrava-se em estado delicado de saúde antes do incidente no CTI.

Durante toda a noite desta terça-feira, profissionais de saúde trabalharam para transferir para outras unidades pacientes do hospital. Entre eles, chamava atenção bebês e crianças da UTI neonatal.

— Quero agradecer aqui à brigada de incêndio e a todo o corpo clínico que se mobilizou. Estamos fazendo um excelente trabalho de remoção de paciente, alocando em outras unidades do município, estado e federal. O prédio 1 foi totalmente evacuado e pacientes alocados na materno infantil. E transferências sendo feitas em ordem de prioridade — comentou o coordenador assistencial do HFB, Carlos César Assef no início da tarde.

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O fogo começou no subsolo do prédio principal (chamado de prédio 1). Segundo a direção do hospital, a brigada de incêndio removeu 162 pacientes desse edifício para o prédio 2 até a chegada do Corpo de Bombeiros. Pacientes foram transferidos para outras unidades de saúde. Alguns também foram levados para um galpão de pneus em frente ao hospital, chamado Rio Paiva Pneus.

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A prioridade foi a evacuação do prédio, retirando todos os pacientes. Após a retirada de todos, funcionários removeram equipamentos e documentação de áreas a que podiam acessar. No andar de onde parece sair parte da fumaça, funcionaria uma enfermaria. Uma sala de raio-x faz os atendimentos abaixo desse andar.

Vídeo mostra a coluna de fumaça no prédio do Hospital de Bonsucesso. Corpo de Bombeiros acionou equipes do quartel do Fundão, às 9h50, para o caso, nesta terça-feira (27). Reprodução

Vídeo mostra a coluna de fumaça no prédio do Hospital de Bonsucesso. Corpo de Bombeiros acionou equipes do quartel do Fundão, às 9h50, para o caso, nesta terça-feira (27). Reprodução

Pacientes transferidos

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que 24 pacientes do HFB foram transferidos para os hospitais municipais Souza Aguiar, no Centro; Evandro Freire, na Ilha do Governador; Ronaldo Gazolla, em Acari; Maternidade Fernando Magalhães, em São Cristóvão; Maternidade Maria Amélia Buarque de Hollanda, no Centro; Hospital da Mulher Mariska Ribeiro, em Bangu; Centro de Emergência Regional do Leblon, e para o Hospital de Campanha do Riocentro. Nesta última unidade, foram disponibilizados 64 leitos, sendo 50 de enfermaria e 14 de terapia intensiva.

Mais cedo, a SMS tinha infomado que dois pacientes já tinham sido transferidos para o Hospital Souza Aguiar. Uma mulher, de 73 anos, com iniciais L.M.S. foi para o setor de emergência, e necessitava do uso de respirador. Um homem, F.B.B., foi levado para o setor de cirurgia geral.

Ainda de acordo com a SMS, nove ambulâncias (três básicas, duas UTI e quatro cegonha) ficaram à disposição para realizar as transferências. A secretária municipal de Saúde, Beatriz Busch, e o subsecretário geral, Jorge Darze, estiveram na unidade federal, acompanhando as transferências e verificando necessidades dos pacientes internados na unidade. A subsecretária de Regulação, Claudia Lunardi, coordenou as transferências dos pacientes.

A direção do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) afirmou também que se mobilizou imediatamente ao tomar conhecimento do incêndio que atingiu o Hospital Geral de Bonsucesso (HGB) na manhã desta terça-feira. Desde o primeiro instante, diz a nota, foram cedidos 16 leitos (sendo 12 de UTI) para o Sistema de Regulação, mas uma articulação rápida permitiu que o número aumentasse rapidamente para 30. Até o momento, 20 pacientes foram internados. O órgão da Fiocruz afirmou também que enviou um caminhão com insumos ao HGB, além de disponibilizar respiradores de transporte e ambulâncias como apoio para as transferências.

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Pelo Twitter, o governador em exercício, Cláudio Castro, disse que acompanha a ocorrência de Brasília, no Distrito Federal, onde cumpre agenda acompanhado do presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), André Ceciliano.

“De Brasília acompanho o incêndio no Hospital Federal de Bonsucesso. Equipes do Corpo de Bombeiros dos quartéis da Ilha do Governador, São Cristóvão, Penha e Central atuam em conjunto para combater as chamas e resgatar pacientes. Não há vítimas fatais”, escreveu.

Presidente do Sindicato dos Médicos do Rio (SinMed RJ) Alexandre Telles contou que chegou ao hospital por volta de 9h30 para um compromisso e que o incêndio começou cerca de dez minutos depois, próximo à sala de Raio-X.

— Bombeiros levaram 20 minutos para chegar. Situação é difícil e a evacuação foi feita às pressas. Os profissionais estavam transportando pacientes em macas, lençóis, alguns deles em casos graves, entubados. É um hospital de alta complexidade e, segundo relatos de colegas, pacientes estavam passando por cirurgia hoje. O centro cirúrgico foi tomado por fumaça. Isso é prova de que a falta de manutenção dentro dos hospitais, o que denunciamos, é uma bomba relógio e coloca pacientes em risco. É preciso investimento em manutenção predial — ressalta.

O Centro de Operações Rio (COR) informou que por causa do incêndio a Avenida Londres está interditada a partir da Avenida Brasil. Há equipes da Polícia Militar, da Guarda Municipal e da CET-Rio no local. Há retenções da região.

A assessoria de imprensa do Corpo de Bombeiros informou que equipes do quartel do Fundão foram acionadas às 9h50. Técnicos da Defesa Civil municipal estão no local, e isolaram a área do incêndio e dos acessos do hospital.

O Hospital Federal de Bonsucesso faz parte do Sistema Único de Saúde (SUS) desde os anos 1990. De acordo com o site da instituição, a unidade é a maior da rede pública do Estado do Rio de Janeiro em volume geral de atendimentos mensais. Em média, são realizadas 15 mil consultas ambulatoriais, 1.300 internações, 1.200 atendimentos de emergência, 120 mil exames laboratoriais e 5 mil exames de imagem no local por mês. A unidade é referência em procedimentos cirúrgicos e oferece atendimento para mais de 50 especialidades médicas.

Referência para tratamento de Covid-19

Em março, o hospital foi anunciado pelo Ministério da Saúde como referência para o tratamento de pacientes com Covid-19 no Rio. Foram liberadas 240 vagas exclusivas para a doença. Em maio, o GLOBO mostrou que funcionário do local se queixavam da transformação, que teria feito com que unidade se tornasse um “prédio fantasma”, deixando de oferecer 28 serviços especializados de média e alta complexidade no prédio 1. Na época, o diretor do corpo clínico do hospital, Julio Noronha, classificou a decisão como um “erro”.

— Foi um erro estratégico acabar com o Hospital Federal de Bonsucesso. É uma desgraça. Agora, ele não é nem referência em tratamento para Covid-19 nem o hospital que era.— avaliou.

Risco de incêndio

Nas redes sociais, as pessoas lamentam o episódio no hospital nesta manhã. Uma delas lembra que, em setembro do ano passado, o Corpo de Bombeiros alertou sobre o riscos de incêndios na unidade de saúde. Durante uma vistoria na época, a corporação identificou hidrantes desativados com mangueiras danificadas, falta de detector de fumaça e sprinklers.

Hoje, um dos internautas publicou:

“e ano passado os bombeiros tinham dado um laudo q o Hospital de Bonsucesso tinha alto risco de incendiar… o governo manteve a negligência! Podre.”

Em outra publicação, uma mulher disse:

“E esse incêndio no Hospital Federal de Bonsucesso??! Quando trabalhei lá, sempre achava que algo do tipo iria acontecer. O governo tá nem aí pra essa unidade, vários diretores corruptos, fios soltos nos andares de baixo e muito desorganizado. Que dó dos doentes e funcionários.”

Uma outra internauta destacou haver falta de manutenção na unidade de saúde:

“Muito triste ver o hospital de Bonsucesso no Rio pegando fogo,  esse é o resultado da falta de manutenção, causando um problema enorme a milhares de pessoas que estão ali internadas, e as que dependem de consulta e exames!”

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