Alvo da vez é o colunista Rodrigo Constantino
“Sobre o crime de estupro, então, destaco que minha posição sempre foi bastante severa contra estupradores, e acho inclusive que suas penas são brandas demais em nosso país”. Esse é o posicionamento do economista Rodrigo Constantino, colunista da Revista Oeste, em relação ao crime que tem sido destaque na imprensa nos últimos dias. Apesar de tal afirmação publicada em 5 de novembro no portal da Gazeta do Povo, em que defende maior rigor na hora de punir um estuprador, ele se tornou o mais novo alvo do movimento Sleeping Giants Brasil.
Análise, por J. R. Guzzo: “O alinhamento ideológico do Twitter no Brasil”
Desde a última semana, o perfil do Sleeping Giants Brasil no Twitter tem pressionado anunciantes da Gazeta do Povo. Em total desconexão com o pensamento exposto pelo próprio colunista (conforme destacado acima), o projeto virtual o acusa de ser alguém que “não responsabiliza o agressor e culpa a vítima de estupro”. Por meio de postagens diárias, o movimento deixa claro o objetivo da vez: fazer com que o veículo de comunicação perca publicidade (uma de suas principais fontes de receita) enquanto mantiver Constantino como colaborador.
A fake news espalhada pela turma do Sleeping Giants Brasil — sim, fake news, pois Constantino já explicou que não culpa a vítima de estupro — tem alcançado seus objetivos. Pressionadas por acreditar que suas marcas estariam atreladas a ato tão repugnante, como a normalização do estupro, ao menos 19 empresas declararam que tiraram (ou estão pensando em tirar) seus anúncios da Gazeta do Povo. Na lista, estão companhias como O Boticário, Outback, Arezzo, Credicard, Petz, Oreo e Lojas Renner.
Somos totalmente contra atos de violência contra mulheres. Nossos anúncios são gerenciados por agências parceiras q foram instruídas a excluí-los, o q pode demorar algum tempo. Estamos trabalhando p/ remover todos eles. Obrigada pela sinalização!
— Petz (@PetzOficial) November 7, 2020
Até o momento, a lista de empresas que caíram na fake news espalhada pelo Sleeping Giants Brasil contra Rodrigo Constantino e a Gazeta do Povo conta com os seguintes nomes:
- SumUp
- O Boticário
- Heinz
- Outback
- Loft
- Arezzo
- Credicard
- Livelo
- AlegraFoods
- Méliuz
- MadeiraMadeira
- Quem disse, berenice
- Escola Conquer
- Printi
- Lojas Renner
- Petz
- Natural da Terra
- Feevale
- Oreo
Projeto contra notícias falsas?
No ar desde maio e inspirado na versão norte-americana que leva o mesmo nome, o Sleeping Giants surgiu no Brasil com a promessa de lutar contra a disseminação de fake news e o “financiamento do discurso de ódio”. Na prática, o projeto tem promovido levantes contra o pensamento conservador. Antes do colunista Rodrigo Constantino, os alvos foram o escritor e professor Olavo de Carvalho e o site Jornal da Cidade Online, conforme alertou a Revista Oeste em reportagem publicada na edição 27. Contra os anúncios que até hoje são exibidos no artigo em que Hélio Schwartsman registra a sua torcida pela morte do presidente Jair Bolsonaro, o movimento não deu nenhum pio. Parece que o “ódio do bem” é apoiado pela página.
Contra a Constituição
Outro ponto que chama a atenção em relação ao Sleeping Giants Brasil é que, tecnicamente, trata-se de projeto que vai contra a Constituição Federal. A Carta Magna garante em seu artigo 5º, parágrafo IV, que “é livre a manifestação do pensamento”, mas “sendo vedado [proibido] o anonimato”. Com meses no ar e histórico de ações que miram somente agentes contrários ao pensamento progressista, o nome (ou os nomes) dos administradores do perfil seguem sob sigilo. O público e as marcas que estão aderindo à pressão contra conservadores não sabem, em suma, com quem estão interagindo (e obedecendo sem contestações).
Alô, Twitter
O anonimato em relação ao Sleeping Giants Brasil segue graças à direção do Twitter, que até agora não cumpriu uma decisão judicial. Em agosto, a juíza Ana Paula Caimio, do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS), determinou que a plataforma deveria divulgar os dados dos administradores do @slpng_giants_pt. Questionada por Oeste em setembro a respeito do não cumprimento da ordem, a equipe da rede social se limitou a dizer que não comenta “casos específicos”, mas garantiu cooperar “com as autoridades competentes em observância à legislação brasileira” — legislação essa que proíbe o anonimato, como o caso do perfil do Sleeping Giants Brasil.
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