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Relação dos EUA com América Latina teria guinada com Biden, dizem pessoas próximas à campanha – O Globo

RIO — Como vice-presidente, Joe Biden realizou 16 viagens a países latino-americanos e mostrou grande interesse pela região. Se derrotar Donald Trump nas eleições presidenciais do próximo dia 3 de novembro, o candidato democrata dará uma guinada na relação com os demais países do continente, adotando, segundo especialistas ouvidos pelo GLOBO, um tom mais moderado e conciliador, que buscará construir alianças e mecanismos de cooperação.

Existem alguns consensos entre os que acompanham a campanha de Biden nos EUA. Um deles é o de que um eventual governo do candidato democrata levaria os Estados Unidos a retomar o caminho do multilateralismo e devolver à diplomacia seu papel protagônico nas relações internacionais.

Com Trump, o Departamento de Estado perdeu espaços de poder e, sobretudo, influência nas decisões presidenciais. Com Biden, a América Latina será vista como sócio estratégico dos EUA. O candidato democrata, afirmaram membros de sua campanha, observa com preocupação a presença de outros atores internacionais de peso na região, como China e Rússia, e teme pelo impacto que essa presença possa ter na democracia.

— Biden quer construir com toda a região relações entre iguais, de respeito, para poder pensar juntos em como crescer e superar os desafios econômicos do momento. Como fazer uma transição para modelos econômicos sustentáveis, sempre com uma visão profundamente democrática e de compromisso com os direitos humanos — disse o venezuelano Leopoldo Martínez, membro da Direção Nacional Democrata e da equipe de estratégia pelo voto latino.

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No debate com Trump, o candidato democrata questionou os incêndios na Amazônia e disse que, se fosse presidente, trabalharia para conseguir fundos que ajudassem o Brasil a enfrentar a crise ambiental. Afirmou também que haveria “consequências econômicas” se o desmatamento continuasse. As declarações de Biden provocaram uma reação enérgica do presidente Jair Bolsonaro que afirmou que seu governo não aceitaria “subornos”. Dias depois, disse que as Forças Armadas devem estar preparadas para defender a Amazônia, porque uma “potência” poderia fazer alguma “besteira”.

Na campanha de Biden, a atitude do presidente brasileiro causou certo espanto. O objetivo do candidato democrata, afirmou Martínez, “não é impor nada ao Brasil, mas trabalhar numa agenda de interesse comum”.

— Com Bolsonaro, ou quem for o presidente, a relação deve ser boa porque é estratégica para ambos países — frisou.

Em artigo publicado em julho passado na “Americas Quarterly”, Juan González, que integra a equipe de campanha de Biden e foi assessor do candidato para as Américas quando era vice, afirmou que “a relação entre EUA e Brasil tem um enorme potencial num governo Biden, cujas agendas climática e econômica avançarão  juntas. A pergunta para o Brasil é se sua liderança atual está preparada para abordar os desafios monumentais de nosso tempo”.

Para entender o pensamento de Biden sobre América Latina, apontou Rogerio Studart, ex-representante do Brasil no Banco Mundial, a palavra chave é parceria. O candidato democrata, ampliou Studart, “entende a importância do Brasil do ponto de vista geopolítico e quando falou sobre a Amazônia não foi bem entendido”.

— O que Biden vai querer é sentar e discutir que tipo de parceria os EUA podem ter com o Brasil. E essa parceria pode beneficiar muito o Brasil na recuperação de investimentos verdes. A ideia é ajudar e oferecer um leque de novas oportunidades que o Brasil deveria aproveitar — comentou.

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A Venezuela é outro dos países que preocupa o candidato democrata. Longe do discurso de “todas as opções estão sobre a mesa” de Trump, sempre deixando aberta a possibilidade de uma ação militar, Biden apostaria numa maior pressão internacional, junto com a União Europeia (UE). As duríssimas sanções aplicadas pelo atual governo contra o presidente Nicolás Maduro e vários de seus funcionários seriam mantidas, mas, como explicou Michael Shifter, diretor do Inter-American Dialogue, “usadas como parte de uma negociação”.

— Biden não vai se relacionar com Maduro através de ameaças, buscará criar uma grande coalizão internacional com os europeus para reforçar a pressão, descartando totalmente a opção militar — disse Shifter.

Um eventual governo de Biden poderia manter o reconhecimento ao líder opositor Juan Guaidó, presidente a Assembleia Nacional (AN), e buscaria aumentar a ajuda aos venezuelanos que sofrem com a crise humanitária no país.

— Biden se preocuparia com os refugiados venezuelanos dentro (mais de 200 mil) e fora dos EUA. Sua principal arma na luta para recuperar a democracia venezuelana seriam esforços diplomáticos e multilaterais — enfatizou o diretor do Inter-American Dialogue.

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Não haveria uma perseguição quase cirúrgica contra aliados de Maduro, venezuelanos e estrangeiros. Hoje, a Marinha americana controla cada embarcação que entra em território marítimo venezuelano e aplica sanções a quem comercializa com o governo chavista. Isso explica, por exemplo, porque o Irã é um dos poucos que exporta gasolina para o mercado venezuelano, hoje assolado por uma escassez de combustíveis dramática.

Biden tentaria uma estratégia que alguns definem como “uso de sanções para conseguir uma transição”.

— O candidato democrata tentaria uma negociação e poderia, até mesmo, suspender algumas das sanções implementadas por Trump. Mas isso estaria condicionado a concessões por parte de Maduro — explicou uma fonte venezuelana em contato com altas autoridades americanas.

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