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O que significa: “dar a outra face”?

Por Aaron Eby

Yeshua instruiu seus seguidores: “Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra;” (Mt 5:39).

Mas afinal, devemos ou não enfrentar o mal? Os heróis da
Bíblia não são conhecidos por enfrentar o mal e vencê-lo? Davi deveria
“dar a outra face” para Golias? Moisés deveria ter escolhido não
resistir a Faraó? A rainha Ester deveria ter evitado defender seu povo contra
Hamã?

Alguns interpretam esse versículo para apoiar a ideia de
não-violência absoluta. Mas o que esse texto quis dizer no contexto judaico do
primeiro século? Para descobrir, devemos olhar alguns exemplos dos profetas,
bem como da cultura do Oriente Médio.

“Dar a outra face” – O que realmente significa?

DAR A OUTRA FACE

Jeremias escreveu o livro de Lamentações em resposta à
destruição de Jerusalém pelos babilônios. É um livro que descreve o terrível
sofrimento dos judeus quando foram levados em cativeiro para a Babilônia.

No capítulo 3, Jeremias começa a explicar como se deve reagir a esse sofrimento. Somos aconselhados: “Dê a face ao que o fere; farte-se de afronta.” (Lamentações 3:30). Na cultura judaica antiga, bater na face de uma pessoa era uma maneira de infligir vergonha, não apenas dor.

A lei judaica antiga detalha a indenização às vítimas de
abuso. Os autores de violência eram forçados a pagar as contas médicas até a
recuperação completa da vítima. A indenização existia mesmo nos casos em que
nenhuma visita ao médico tenha sido necessária, bastando apenas a humilhação ou
insulto para gerar compensação.

Um tapa no rosto se enquadra nessa categoria. A lei judaica
explica esses tipos de humilhações:

Se alguém der um tapa em outra pessoa, ele deve pagar duzentos zuzim. Se for com as costas da mão, ele deve pagar quatrocentos zuzim. Se alguém torce a orelha de uma pessoa, puxe seu cabelo, cuspa ou rasga-lhe a capa em público, [o autor] deve pagar quatrocentos zuzim.” (Tratado Nezikin  – Bava Kamma 8:6)

Na cultura do Oriente Médio, é costume usar a mão direita
para a maioria das atividades. Golpear uma pessoa na face direita com a mão
direita exigiria o uso das costas da mão. Um tapa dessa forma é considerado
duas vezes mais ofensivo que um tapa normal e, portanto, sujeito a multa
dobrada.

FARTE-SE DE AFRONTA

A partir desse contexto, podemos ver que Yeshua não estava
falando sobre violência física, que exigia pagamento, mas sobre insultos. Ele
estava nos instruindo a não retaliar quando alguém nos insultar visando nossa
humilhação. Isso segue o mesmo tema de seus outros ensinamentos sobre nos
humilhar, perdoar aos outros e buscar a reconciliação. Um conceito semelhante
aparece na lição de Yeshua sobre a humildade em um banquete:

Quando por alguém fores convidado para um casamento, não procures o primeiro lugar; para não suceder que, havendo um convidado mais digno do que tu, vindo aquele que te convidou e também a ele, te diga: Dá o lugar a este. Então, irás, envergonhado, ocupar o último lugar. Pelo contrário, quando fores convidado, vai tomar o último lugar; para que, quando vier o que te convidou, te diga: Amigo, senta-te mais para cima. Ser-te-á isto uma honra diante de todos os mais convivas. Pois todo o que se exalta será humilhado; e o que se humilha será exaltado.” (Lc 14:8-11)

Também podemos ver o mesmo ensino no judaísmo de hoje. O
famoso chassídico Rebe Nachman de Breslav, disse:

Se uma pessoa foge da honra, minimizando sua própria honra, mas maximizando a honra de Deus, ela merece honra (…); É impossível alcançar essa honra, exceto através do arrependimento. A essência do arrependimento é que, quando alguém recebe o insulto, não reaja, mas permaneça em silêncio.” (Likkutei Mohoran 6: 1-2)

O Profeta Jeremias nos ensina:

Bom é aguardar a salvação do SENHOR, e isso, em silêncio. Bom é para o homem suportar o jugo na sua mocidade. Assente-se solitário e fique em silêncio; porquanto esse jugo Deus pôs sobre ele; ponha a boca no pó; talvez ainda haja esperança.” (Lm 3:26-29)

Nossa resposta ao sermos humilhados não deve ser reagir ou buscar
vingança, mas esperar silenciosamente a vindicação de Deus.

A pessoa má a quem não devemos resistir não é uma potência estrangeira, um ditador do mal ou um intruso armado em casa. É uma pessoa em nossa própria comunidade que nos ofendeu ou nos humilhou. Os antigos rabinos identificaram ódio, desunião e desejo de vingança como causas da destruição do segundo Templo. Parece que Yeshua também identificou esse problema em sua geração e levou as pessoas a se arrependerem.

* Para o Podcast deste artigo (versão em áudio), clique aqui!

Autor:

Matheus Zandona Guimarães é descendente de Judeus com origem na Itália e em Portugal. Graduado em Comunicação Social, estudou teologia com ênfase em Estudos Judaicos nos EUA e Hebraico e Cultura Judaica em Jerusalém – Israel. É o atual presidente do Ministério Ensinando de Sião e rabino da Sinagoga Har Tzion em Belo Horizonte. É diretor internacional do Netivyah Bible Instruction Ministry (ISRAEL) e diretor regional da UMJC (Union of Messianic Jewish Congregations) – EUA. Matheus é casado com Tatiane e tem dois lindos filhos, Daniel e Benjamin. (facebook.com/mzandonna, @matheus.zandonna)

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