Nota dos editores: A coluna “Thorns & Thistles” [Cardos e Abrolhos] da Coalizão pelo Evangelho busca aplicar a sabedoria com conselhos práticos sobre a fé, o trabalho e a economia.
O que você diria para alguém que não tem uma ideia clara de sua vocação após se formar no ensino médio? Ir à faculdade e escolher um diploma genérico? Fazer um curso técnico? Tirar um ano de folga? Outra coisa?
Obrigado por esta pergunta importante! Esta é uma área onde famílias e igrejas têm muito trabalho de recuperação para fazer com relação à doutrina da vocação. Muitos crentes seguem as trilhas educacionais estabelecidas por nossa cultura e, de repente, quando chegam ao fim dessas trilhas, descobrem que ninguém os equipou quanto ao discernimento vocacional.
É importante reconhecer que a vocação não começa quando a a educação formal termina. Em uma época em que quase ninguém mantem o mesmo emprego — ou mesmo a mesma carreira — por toda sua sua vida, necessitamos estar cientes de que “vocação” significa muito mais do que “carreira”.
Obtemos a palavra carreira de uma palavra francesa que significa “correr em círculos”. Deus nos chama — vocação é de vocare, “chamar” — para algo mais importante do que isto.
Na doutrina protestante clássica, a vocação é o chamado do evangelho. Nossa salvação nos chama a uma vida inteira inteiramente formada por meio da obra do Espírito Santo, conformando-nos a Cristo no evangelho. A educação formal e a busca por um emprego são apenas dois dos muitos lugares para onde Deus nos convoca nesta vida formada pelo evangelho.
Portanto, as perguntas que você faz — “Devo fazer faculdade? Devo fazer um curso técnico? Deveria tirar um ano sabático?” — devem ser reformuladas à luz do chamado do evangelho. Historicamente, a teologia protestante reconhece três grandes categorias para pensarmos sobre a vocação:
- O que é que estou bem equipado para fazer ou o que posso me tornar bem equipado para fazer? Isto inclui não apenas aptidões, talentos e habilidades, mas também coisas tais como relacionamentos, redes, credenciais e até mesmo portas de oportunidade que se abrem “por acidente”.
- O que é que o mundo ao meu redor necessita? O verdadeiro discernimento vocacional não é narcisista. É focado na missão. O objetivo não é a auto-realização, mas colocar o santo amor de Deus em ação em um mundo danificado e sombrio.
- Para o que me sinto chamado? Embora não seja um exercício de auto-contemplaçāo, o verdadeiro discernimento vocacional é realmente discernimento. Não há testes padronizados. Deus o autorizou a usar seu discernimento, e uma vocação que não lhe pareça correta tem uma menor probabilidade de ser sustentável.
Claro, nossas vidas não são sempre tão organizadas e claras. Às vezes não é possível conciliar estes três aspectos ao mesmo tempo. Mas uma abordagem sábia quanto ao discernimento vocacional leva estes três aspectos a sério.
Conforme você já sabe, ficar sentado esperando a inspiração não é um plano sábio. Mas todas as opções que você sugeriu têm mérito. Tirar um ano sabático para trabalhar ou fazer um estágio em algum lugar é uma boa maneira de conhecer os ritmos diários de um trabalho específico. Pode ser que uma escola técnica combine otimamente com suas habilidades e situação de vida particular. E uma educação universitária cristã tradicional de artes liberais tem tanto a ver com transformar sua mente para ver todas as coisas por meio de uma cosmovisão cristã, quanto com o treinamento para uma carreira. Se sua dúvida sobre entrar para um programa destes tem a ver com a falta de discernimento vocacional, poderia considerar qual valor mais amplo a faculdade pode lhe proporcionar.
Ao refletir sobre isto, é uma boa ideia buscar cristãos mais velhos e experientes — de preferência aqueles que o conhecem bem ou conhecem os campos em que você está pensando — e conversar com eles. O discernimento é um direito e uma responsabilidade individual, mas raramente é bem feito isoladamente. O discernimento prospera em meio à comunhão cristã.
Durante este processo, tome coragem. Deus o colocou neste tempo e neste espaço, com esta educação e estas oportunidades. Ele lhe deu limites financeiros, geográficos e familiares. Ele está com você desde antes de você nascer, planejando seus passos.
O salmista promete que se você se agradar do Senhor, Ele satisfará os desejos do seu coração (Sl 37.4). E à medida em que você o busca, no momento certo Ele lhe mostrará como buscar os desejos do seu coração.
Traduzido por Raul Flores