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Número de candidatos da área da saúde cresce nas eleições de 2020

Segundo Eduardo Grin, professor do Departamento de Gestão Pública da FGV-SP, o aumento no número de candidatos da área de saúde não é inesperado, já que saúde é o problema público mais debatido no país há alguns meses por causa da pandemia.

“Saúde não é um problema novo para o eleitorado. O que é novo é a extensão da pandemia e o medo que nós temos de não conseguir ser atendidos pelo SUS, sobretudo porque a pandemia trouxe um aprofundamento da crise econômica. Muita gente perdeu o emprego, e a clientela do SUS aumentou”, afirma o cientista político.

Nesse contexto, o professor diz que a promessa de campanha de ter um bom serviço de saúde cresce em importância para a população em relação a anos anteriores.

“A pauta de saúde assumiu maior relevância neste ano. É a forma de o candidato criar um elo de maior conexão com o eleitor. É nessa perspectiva que se insere o aumento de candidatos vinculados à saúde.”

Grin destaca que, no caso dos candidatos a vereador, há um apelo eleitoral ainda maior em ligar suas candidaturas à área de saúde. “Nós temos um número maior de candidatos a vereador neste ano que em 2016. Eles tentam compensar essa situação criando simbologias ou formas de comunicação que os tornem mais conhecidos, e vincular [a campanha] à área de saúde é um marketing político que pode render votos”, diz.

Dos 19,4 mil candidatos da saúde, a maioria (87%) tenta uma vaga de vereador nas cidades. Os outros tentam cargos de prefeito e de vice-prefeito.

O professor destaca que a saúde também pode ser bem utilizada pelos candidatos aos Executivos municipais.

“Saúde é responsabilidade municipal. Para um candidato, pode ser uma estratégia importante de campanha mostrar-se capaz de organizar a política de saúde na cidade”, afirma Grin.

Por outro lado, segundo Grin, a campanha voltada de maneira muito forte para a saúde é uma aposta arriscada.

“Em um cenário de pandemia e de crise econômica, vai ser desafiador para os prefeitos investir em uma área que é extremamente demandante de dinheiro”, afirma. “Pode ser que, eleitoralmente, dê retorno, mas, em janeiro, quando assumir, o quadro de penúria fiscal vai estar presente e vai haver cobrança dos prefeitos que não conseguirem cumprir suas promessas de saúde.”

Os dados também apontam que há uma diferença entre as ocupações declaradas a depender do cargo disputado.

Entre os médicos candidatos, 8% disputam um cargo de vereador e 60% tentam ser prefeitos. Já os técnicos de enfermagem, que são 27% dos candidatos a vereador, representam uma minoria entre os que tentam cargos de prefeito (3%).

“Há uma hierarquia na área da saúde, em que o médico está no topo e o enfermeiro está abaixo. No imaginário da população, um candidato a prefeito que vai se colocar como responsável por melhorar a saúde da cidade é um doutor. Assim, o apelo eleitoral do médico candidato é muito superior ao do enfermeiro”, diz Grin.

O professor ainda destaca que médicos têm uma taxa de sucesso alta na eleição. “É uma profissão que gera imagem de pessoa bem formada, capacitada, e isso conta para o eleitor, sobretudo no atual contexto. Quem cuida de mim na pandemia? O médico. Ele pode não cuidar no consultório, mas vai cuidar de mim na prefeitura.”

Por outro lado, segundo Grin, enfermeiro e técnico de enfermagem candidatos a vereador também fazem sentido. “O vereador é muito ligado a determinados bairros da cidade, e UBSs, unidades de saúde da família, são ligadas a essas profissões e são também ligadas aos bairros”, diz. “Então o eleitor cria um vínculo a partir do imaginário que ele tem de cada profissão.”

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